Eu Pássaro
Tenho dentro de mim
Um pássaro com asas fechadas
Pelo temor de voar.
O meu ninho virou pó
Que as ventanias da vida
Espalharam pelos tempos.
As noites solitárias
Acompanharam-me
Enquanto a aurora dormia
Atrás dos sombrios montes
Que cobriam o rosto do céu.
Escuta-me, meu pássaro
E abre as tuas asas!
E das minhas lágrimas
Que se levantam feito o mar
A serpentear rouco de dor
Caem estrelas
De respiração suspensa
A contarem as horas.
Ah! Meu pássaro... Abre as asas!
Perdido pelo caminho
Onde está agora o meu ninho?
Que o ventou levou,
Uivando, para longe de mim?
Ah! Meu pássaro... Abre as asas
E voa...
Pois o céu é todo teu
E não tem caminhos!
Lígia Beltrão