Fazenda mal-assombrada
Queria uma história,
história de arrepiar.
Na escuridão noturna
o vento a assobiar...
Um estalo na janela,
pisca-pisca no escuro,
um silêncio noturno de
assustar almas do
outro mundo.
Acordei apavorada,
uma assombração sentada
na poltrona da sala.
Tão grande era sua mão
que tocava violão.
Uma música de Villa-Lobos
me deixou assim tão bobo...
Fui pé ante pé confirmar,
pegaram-me pelas costas.
Tão forte o agarrão, que desabei
logo no chão.
Quebrei quatro costelas,
e dois dentes em uma gamela.
Até hoje vivo com sequela.
Eu morava na fazenda,
doze quartos de aposento.
Tinha energia fraca;
a usina, um moinho
que vivia parado.
Da sala até a cozinha
uma viagem de translado.
A casinha, logo ali,
tinha um vaso boquiaberto
querendo me engolir.
As dependências
do porão exalavam mofo,
em torno do quintal o cheiro de gado.
A escadaria da varanda
tinha ares de pecado.
Mais um quarto ao seu lado,
ele vivia trancado.
A fazenda era da Mata, nada
a ver com meu nome.
Tinha o cuidador de bois,
meu compadre Arlindo.
Ordenhava o primeiro esguicho...
Sentada ao pé da escada,
esperava o leite fresquinho,
espumando, o desenho: aquele bigodinho!
Marta Maria Niemeyer