Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Fernando Farias é escritor, contista, tem 55 anos, natural de Caruaru e Arcoverdense de criação. Mora há 35 anos no Recife. Radialista de profissão e redator publicitário. Dedicou-se ao marketing político até criar coragem e se dedicar exclusivamente a literatura.
Fernando Farias escolheu editar livros pequenos com histórias curtas. Lançou inicialmente “A Trágica Morte da Patinha”, em 2005, em seguida iniciou uma coleção chamada o livro das cores. Inicialmente com o Livro Azul “Entre Sete Estrelas”; o Livro Verde, “Fantasia manchada de batom carmim; ; “A Escolha dos Anjos”, que é o Livro Laranja; “Espelhos Obscenos”, o livro vermelho, e recentemente o Livro Amarelo, “Salada Mística”.
Depois de estudar oficinas literárias com os Escritores Raimundo Carrero e Marcelino Freire, iniciou As Oficinas Literárias Fernando Farias, dedicadas as crianças das redes municipais de ensino de Recife e Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana e também no SESC de Garanhuns e Escola Técnica Federal de Belo Jardim. Mais de 500 alunos já participaram das oficinas nos últimos três anos.
É produtor do Programa de rádio Observatório Literário e diretor da Navras Digital, editora especializada em livro digital. É diretor da União Brasileira de Escritores, e foi criador de grupos como Urros Masculinos e Dremelgas Literárias. Vem participando de palestras sempre voltadas para jovens estudantes da rede pública.
“Não acredite em coletâneas de poetas e contistas onde você tem que pagar para ser publicado e fuja das velhas ideias de editoras e livrarias com adjetivos modernos. Se tiver dinheiro peça ajuda a quem já publicou. Edite poucos livros nestas gráficas de livros rápidos. Mas comece. Tente. Se tiver pouco dinheiro edite em formato e em papel de folhetos de cordel. Mas publique.”
Boa Leitura!
SMC - Fernando quando você começou a escrever? Em que momento decidiu ser escritor?
Fernando Farias (F.Farias) - Não lembro nenhum período da minha vida em que não estivesse lendo um livro, um na cama, outro no ônibus ou na mesa da cozinha. Fui condicionado assim pelos meus pais. Sempre estava lendo um livro ou torcendo pelo próximo jogo do Sport Recife. Às vezes pensava em escrever. Mas ler é muito melhor. Na semana de Natal de 2004, minha namorada me deixou, ela foi morar em São Paulo, meus filhos foram para as casas de suas mães e eu estava de férias. Fiquei sozinho, cheio de filmes para assistir e livros para ler. Foi quando, pesquisando alguns contos na internet que eu queria reler, encontrei um miniconto escrito por um mineiro, cujo nome eu esqueci que dizia o seguinte: “Ele e ela se amavam, até que veio um meteoro”. Fiquei com aquilo na cabeça, e comecei a escrever tentando fazer algo parecido. Mas sempre me alongava nos contos. As ideias iam surgindo e comecei a fazer o que chamei de exercícios. Tomei gosto e me viciei. Passei meses escrevendo e mostrando aos amigos, reescrevendo, revisando, rasgando e jogando fora a maioria. Notei que eu tinha muita imaginação e resolvi ganhar dinheiro com isso. Até que em 2005 lancei meu primeiro livrinho de contos. Mas, se me permite dizer, acho que só fui me tornar escritor após aprender a ler e escrever nas oficinas com o Raimundo Carrero, tanto com ele como com os colegas Paulo Caldas, Nivaldo Tenório, Gerusa Leal e muitos outros. Não acredito muito em Papai Noel e em escritor que nunca fez oficina literária.
SMC - O que mais lhe inspira a escrever?
F.Farias - Nada me inspira. Não acredito na inspiração. Acredito na provocação. E o que mais me provoca a escrever? Ler livros. Sou um cara que preciso antes ler horas de bons livros para ser provocado com ideias que me levam a escrever. E as coisas surgem. Às vezes uma notícia de jornal, às vezes um papo com parentes, outras vezes em sonhos nos dias de depressão. Mas tenho que ler algo que me provoque. Atualmente quem me perturba e me desafia é a escritora Adrienne Myrtes.
SMC - Quais são as suas referências literárias? Que autores influenciaram em sua formação como escritor?
F.Farias - Sem dúvidas Anton Tchekhov, Guy Maupassant e Jorge Luiz Borges. Não necessariamente nesta ordem. São os meus mestres.
SMC - Para qual público você trabalha? Que mensagem você quer transmitir para as pessoas?
F.Farias - Até hoje não sei para qual público escrevo. Sei que não escrevo para crianças. Quem é meu leitor? Talvez seja meu maior defeito, não sei o rosto dele. Jogo pra cima e quem ler e se identificar será o meu publico. Ou não. Quanto à mensagem que eu quero transmitir? Que pensem bem depois de cada conto lido.
SMC - Como iniciou o trabalho com as oficinas? De que forma vem desenvolvendo este trabalho?
F.Farias - Quase tudo que faço em literatura começou sem saber que eu estava começando algo. Eu já estudava nas oficinas com Raimundo Carrero e fui chamado para fazer várias palestras em escolas, quase sempre substituindo outros escritores ocupados. E sempre vinham as mesmas curiosidades dos estudantes sobre os processos criativos. Até que um dia, depois de participar de uma semana literária numa escola estadual em Jaboatão, a diretora me convidou para fazer o que ela chamou de “oficinas de escrever”, com uma turma da escola dentro de um programa chamado “Escola Aberta”. Eu recebia 60 reais por mês. Aulas aos sábados pela manhã. Com a minha primeira turma de cobaias aprendi muito, errei muito, inicialmente parecia que eu dava as mesmas aulas do Raimundo Carrero a dez crianças de 12 anos. Fui aprendendo, adaptando a linguagem, criando exercícios e até que fiquei bonzinho nisso. Seis meses depois o trabalho expandiu com a sala cheia, uma turma pela manhã e outra à tarde, graças à divulgação entre os alunos, no boca a boca. Foi quando a então Secretária de Educação de Jaboatão, Mirtes Cordeiro, me chamou para fazer nas escolas municipais e até propôs um contrato. Nunca mais parei.
SMC - Como foi publicado o seu primeiro livro? Quais as dificuldades para conseguir publicar sua obra? Você continua usando a mesma metodologia para publicação de livros? Você gostaria de mudar ou está satisfeito com este método de publicação?
F.Farias - Eu jogo em todas as áreas da cadeia produtiva do livro. Eu escrevo, contrato revisores, diagramadores, capistas, faço cotação de preços entre gráficas, organizo os lançamentos, faço a minha assessoria de imprensa, carrego as caixas de livro na cabeça e eu mesmo vendo. Não tenho livros em livrarias. Nem quero. Em oito anos só vendi 25 livros em livrarias do Recife e mais de sete mil pela internet apenas com um blog, MSN, Orkut e Facebook e muito papo de vendedor entre café e cigarros na madrugada. Pra mim deu certo. É o melhor meio que encontrei para sobreviver num sistema cruel ditado por editoras, livrarias e distribuidoras, onde o escritor é um detalhe que fica apenas com sete por cento das vendas, não vê o dinheiro e recebe sua cota em livros, e não tem o menor controle de sua publicação. Acho ridículo um escritor ter que comprar seu próprio livro para oferecer a alguém. Tenho mil motivos para escrever e publicar meus livros, menos a vaidade de ser escritor.
SMC - Fernando você hoje tem vários livros publicados, qual o livro que mais marcou sua trajetória como escritor?
F.Farias - Os meus livros de contos são apenas livros de contos, o que se destaca são alguns contos. Creio que o conto “A Xoxota Azul”, do Livro Vermelho é o meu mais popular, principalmente depois que o grupo “Vozes Femininas” o incluiu no repertório. Fiquei conhecido um bom tempo como o escritor que tinha uma xoxota azul. Mas o que mais se destacou foi o conto “Alexandria”, publicado pela Revista Pernambuco e pelo Jornal Rascunho de Curitiba. É interessante notar que contos são como as cartas de Tarô. Cada pessoa se identifica mais com um deles. Tenho contos piegas que odeio que fazem o maior sucesso, pessoas me escrevem dizendo que até chorou. Já outros que eu adoro e ninguém comenta.
SMC - Sobre o que tratam seus livros? O que diferencia um livro do outro?
F.Farias - Os livros não se diferenciam. (risos). Talvez as cores das capas. O que diferencia são os contos. Um não se parece com o outro. São contos e mais contos, um atrás do outro e cada conto tem sua personalidade, foram escritos em estados diferentes da mente. Provocados em épocas díspares. Muitos surgiram nas Oficinas com o Raimundo Carrero ou Marcelino Freire. Tenho contos “travados” há três anos que não consigo me libertar. Outros fluem num caos de inconstâncias.
SMC - Quais os formatos em que encontramos o seu livro: impresso, e-book, áudio-livro?
F.Farias - Sempre impressos em formato de bolso. O primeiro tinha 90 páginas os demais com 36 páginas, vendo baratinho, mando pelos correios com autografo e um beijo. Agora lancei o Livro Vermelho pela Navras Digital em e-book e está no Amazon.com. Até que tem vendas, mas divulguei pouco, só entre os amigos.
SMC - Onde podemos comprar o seu livro?
F.Farias - Diretamente comigo, apenas pelo meu telefone, meu Facebook, meu Hotmail. Nada de livrarias. Pela minha página fixa no blog https://fernandofariasescritor.blogspot.com.br/ ou pelo meu e-mail fernando.farias7@hotmail.com. No formato digital você baixa em https://www.amazon.com/kindle/dp/B006E4H086
SMC - Fernando você hoje é diretor da União Brasileira de Escritores, quais as principais atividades literárias desenvolvidas pela UBE? Que tipo de apoio a UBE dá aos escritores?
F.Farias - São os escritores que dão apoio a UBE. A UBE é feita por centenas de escritores e uma jovem que faz o cafezinho. Acho que o bom da UBE é conhecer pessoas, trocar ideias, esquentar a cabeça com algumas pessoas chatas e outras amáveis. Traz muita visibilidade, permite conhecer estilos diferentes, abre e fecha portas. Quase todos os dias têm debates, palestras, grupos de estudos. Gosto muito da UBE, até mesmo dos que não querem participar dela.
SMC - Que dica você dá para outros escritores com relação à publicação de livros?
F.Farias - Não escreva e publique pensando em ir para Jô Soares, ou que no seu lançamento terão filas e filas de pessoas para comprar seus livros. Que você é inteligente ou um ser especial iluminado com algum dom divino. Escritores usam papel higiênico como qualquer pessoa. Você até pode ser um bom escritor e ser um péssimo vendedor de seus próprios livros. Não acredite em coletâneas de poetas e contistas onde você tem que pagar para ser publicado e fuja das velhas ideias de editoras e livrarias com adjetivos modernos. Se tiver dinheiro peça ajuda a quem já publicou. Edite poucos livros nestas gráficas de livros rápidos. Mas comece. Tente. Se tiver pouco dinheiro edite em formato e em papel de folhetos de cordel. Mas publique.
SMC - Em sua opinião, quais as melhorias que deveriam ser feitas para o desenvolvimento do mercado literário Brasileiro?
F.Farias - Usando dinamite. Destruindo o modelo atual. Quebrar e inverter a atual cadeia improdutiva do livro.
SMC - Pois bem, estamos chegando ao final da entrevista, agradecemos sua participação, muito bom conhecer melhor o Escritor Fernando Farias, que mensagem você deixa para nossos leitores?
F.Farias - Leiam. Leiam e leiam. Depois, se der tempo, escrevam.
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