Durante a noite de Natal perambulou solitário pelas esquinas vazias da cidade grande em busca do raro alimento para a alma - o calor humano.
Edifícios imponentes misturavam-se às torres de comunicação adornadas de luzes multicoloridas.
Sentiu-se transparente - ninguém o enxergava.
O sereno da madrugada obrigou-o a buscar proteção sob a marquise de um velho edifício onde se podiam ver pilhas dos papeis l descartados dos presentes.
Lembrou-se da infância distante, da perda das oportunidades, da exclusão social, das luzes natalinas.
Anotou tudo como que se quisesse registrar a agonia em um imaginário diário. Feito de improviso com pedaços de madeira em forma em cruz retirado de um caixote de frutas - daquelas que jamais provara.
Exausto fez-se presente cobrindo-se com os papeis e laçarotes coloridos, manchados pela sal das lágrimas.
Absolutamente só...
Lentamente as estrelas adormeceram.
As pessoas que retornavam da missa do galo formaram repentinamente um aglomerado para apreciar o inerte embrulho diante do estômago embrulhado dos hipócritas de plantão...
Nos primeiros raios de Sol podia se ouvir o lamento ensaiado diante do corpo sem vida embrulhado com um festivo papel adornado com anjos e outras figuras natalinas, em alguns deles mensagem expressa - PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE...
Paz além da terra, desta terra que para muitos dos seus filhos lamentavelmente se mostra quase sempre em guerra.
Publicado em 13/02/2014