FIM DO HOLOCAUSTO - MAIO DE 1945_ Autor: Anchieta Antunes
68º ANIVERSARIO DO FINAL DA II GRANDE GUERRA MUNDIAL.
PARA RELEMBRAR
A brisa salgada soprava do leste, morna e úmida, constante e inexorável. A mensageira aziaga trazia dos mares profundos o desabalo da intolerância.
Estejam alertas! Estejam prontos! O holocausto aproxima-se; o verdugo possessivo aproxima-se, e seres deambulando com medo e pavor da pele que ostentam, da seita que pregam, do deus que veneram, escondem-se inábeis nas cavernas do pânico. Os escorpiões com suas lanças venenosas, com suas cruzes suásticas, com suas águias douradas chegam perto, sorrateiros, covardes e implacáveis. Geram a morte, a fome, o escárnio, o terror a quem nasceu alhures, alguns até negando o lugar de onde vieram.
O brilho da gente ariana é opaco, de mãos vermelhas por ceifar espíritos airosos, que refletiam o fulgor inerente aos inteligentes, aos profícuos batalhadores da raça judaica que se perpetuou em busca da terra prometida.
Hoje são bravos guerreiros afeitos à luta, legionários da chispa de vida montados no cavalo da coragem; aguerridos que são não fogem à escaramuça, não descansam o brio, nem envelhecem a vontade, nem perdem a fé. Ontem entregues à própria sorte nos campos de extermínio, coalhados de corpos inertes que adubavam o solo, colo de Deus, para aqueles esquecidos.
Forças aliadas petrificadas com a visão dantesca do flagelo da loucura, da soberba, da intolerância levada até o crime de “lesa humanidade” , observam os matizes da maldade. Entre essas tumbas comuns, de repente abriu-se um olho quase morto, sem fôlego, sem alento, contudo com vontade de ver novamente o sol brilhar no céu azul. Com a boca esgarçada, um sobrevivente gritou o brado dos que não se entregam sem pungente duelo. Com a determinação dos ventos uivantes clamou por seus pares, chamou-os para ressurgir da orla da dor, para visões de esperança; levantou-se ereto e caminhou o primeiro passo do seu retorno glorioso.
Os maus sucumbiram, as naves infaustas soçobraram, os escudos quebraram, os tanques calaram, a tempestade da justiça lavou o esbulho dos tempos nefastos. O globo voltou a girar sem interstício.
O firmamento garboso de luz e cores deu as boas vindas aos arautos da nova verdade, aos homens que venceram o turbilhão de balas e baionetas, vivendo agora em tempos de paz, recebendo o sopro cálido da justiça perpetrada.