Por João Paulo Bernardino - escritor
Francisco Grácio Gonçalves ou Lefteris Kablianis (pseudónimo/heterónimo) nasceu em Atenas. É historiador, autor e escritor. Desde o lançamento da sua primeira obra poética “O Beijo do Silêncio” tem participado em várias publicações literárias, em prosa e em poesia. É também autor e colaborador em obras e artigos científico-pedagógicos e literários. Foi recentemente vencedor na categoria Conto Internacional em Itália, pela Academia de Letras de Itália. Tornou-se comendador por honra e mérito com a atribuição da Comenda Castro Alves e com a Comenda Luís de Camões pela sua colaboração na Cultura Lusófona Mundial.
“Não interessa se escreves bem ou mal. Interessa que sejas rentável. Para conseguires algo tens de ser tu próprio a apostar em ti, para que não exista o mínimo de prejuízo para a editora. Em Portugal não se fazem escritores, em Portugal os escritores têm de se fazer.”
Boa Leitura!
JPB - Obrigado Francisco Grácio Gonçalves pela oportunidade que me dás de poder entrevistar-te. Gostava que nos dissesses como te defines como escritor e do que trata sobretudo a tua obra?
Francisco Grácio - A minha obra trata de tudo o que nos rodeia. Do passado, do presente e do futuro. Os meus olhos são a minha obra, assim como o meu sentir. Sou um escritor da pessoa humana enquanto motor da sociedade. Escrevo de tudo um pouco, deixo a minha imaginação fluir ao sabor do real e do irreal. Sou um clássico e ao mesmo tempo poderei ser moderno ou contemporâneo. Escrevo sobre situações reais mas também fantásticas. Um escritor sem limites com uma escrita variada.
JPB - Sabendo que escreves maioritariamente contos, achas que as histórias nos contos devem submeter-se sempre aos jogos de inteligência, do amor, do ciúme, da morte? E no caso dos teus contos é assim?
Francisco Grácio - Escrevo prosa e poesia. Se bem que ultimamente esteja efetivamente mais virado para a prosa. Contudo o meu primeiro livro é de poesia. Os contos têm sempre em si jogos de inteligência, de saberes e de paixões de variados estilos. Os diversos tipos de amor estão sempre presentes. Nem sempre o ciúme e a morte são retratados em si, ou porque são exteriores à trama ou porque não serão inerentes à própria história que se conta. Existem uma série de sentimentos que se contam numa prosa, mesmo que seja do fantástico que são inerentes à vida, dessa forma um conto tem sempre uma carga emotiva que abarca uma serie de sentires que devem ser plenos para agarrar o leitor.
JPB - Dizes que Os Maias (Eça de Queiróz), Guerra e Paz (Leo Tolstoy) e Gente Pobre (Fyodor Dostoevsky) são clássicos que te marcaram em diferentes fases da tua vida. E de que forma te influenciaram na maneira como escreves os teus contos e poesias?
Francisco Grácio - Em tudo, tenho nos clássicos a base da minha forma de escrever. Lembro-me que li aos 16 anos “As Memórias de Adriano” de Marguerite Yourcenar. Nunca mais a esqueci, e fiquei literalmente fascinado. Depois disso, li muitos outros que me forneceram muitas competências que me ajudaram a desenvolver a minha escrita. Enriqueceram-me verdadeiramente enquanto ser humano e enquanto escritor. Não escreveria como escrevo se não tivesse passado pela experiência de os ler.
JPB - No texto “A morte em Bretville” dizes que “as decisões sempre me foram complicadas”. Sentes que necessitas dar um grande passo como escritor mas que ainda falta tomares uma grande decisão? Comenta, por favor.
Francisco Grácio - “A morte em bretville” é um conto que ainda não está publicado. Um conto do fantástico com emoções da atualidade. Retrata da morte não como um fim mas como uma passagem. Todos nós necessitamos de um grande passo enquanto escritores. Necessitamos que acreditem em nós e que nos valorizem, o que não acontece em Portugal. Gostaria de tomar a grande decisão de me dedicar unicamente à escrita mas tal não me parece possível. Gostaria de escrever “as decisões sempre me foram complicadas, mas decidi escrever, só escrever…”
JPB - Com o teu livro “O BEIJO DO SILÊNCIO” mostras o teu lado poético. Gostava que nos dissesses se consideras, como muitos poetas, que toda a poesia deve ter a sua dose de profecia?.
Francisco Grácio - “O Beijo do Silêncio” foi o meu primeiro livro de poesia, e sim toda a poesia tem uma dose de profecia. Neste caso, “O Beijo do Silêncio” é um livro intimista com uma sensibilidade extrema em que tento passar para o leitor todos os sentimentos que se têm e que muitas vezes não se conseguem exteriorizar. Foi um exercício muito difícil, mas penso que conseguido uma vez que toca naquilo que todos nós prezamos mais… a vida, a nossa vida. Os sentimentos.
JPB - No texto “Conversas com Marguerite” escreves com o teu pseudónimo Lefteris Kablianis. De que modo o facto de teres nascido na Grécia te influencia na escrita dos teus textos?
Francisco Grácio - Em tudo, tenho uma grande paixão, invulgar até, pelos clássicos, penso que será pelo facto de ter essas raízes. A minha escrita vai sempre buscar algo à Hellas. Penso que a minha escrita se distingue por isso, pelos pormenores que coloco muitas vezes em algumas histórias e que têm a ver com essa cultura que foi e é absolutamente fascinante e única.
JPB - Tens publicado na tua página de Facebook alguns poemas de Pablo Neruda. Imagina-te a seu lado numa bela tarde de encontro de escritores amigos. Que gostarias de lhe perguntar e porquê?
Francisco Grácio - O Pablo Neruda é assim… uma referência maior da poesia para mim. A forma como retrata as coisas é tao invulgar e ao mesmo tempo tão real, que até arrepia. Os sentimentos que coloca nas palavras são tão fortes que a nossa sensibilidade explode ao lê-las. Gostaria de lhe pedir para me ensinar a escrever e para escrever comigo. Para me passar os seus ensinamentos…
JPB - Foste recentemente galardoado como vencedor na categoria Conto Internacional em Itália, pela Academia de Letras de Itália. Achas que com este prémio que irás receber em breve haverá por parte das editoras uma maior e definitiva aposta na tua pessoa para que publiques mais inéditos teus?
Francisco Grácio - Não. As editoras em Portugal não estão preparadas para apostar em novos autores. O que interessa para as editoras é unicamente o lucro. Não interessa se escreves bem ou mal. Interessa que sejas rentável. Para conseguires algo tens de ser tu próprio a apostar em ti, para que não exista o mínimo de prejuízo para a editora. Em Portugal não se fazem escritores, em Portugal os escritores têm de se fazer.
JPB - Depois de te tornares Comendador por honra e mérito com a atribuição da Comenda Castro Alves e com a Comenda Luís de Camões pela tua colaboração na Cultura Lusófona Mundial, de que forma consideras que poderás ajudar a promover mais activamente os jovens escritores em Portugal e além-fronteiras?
Francisco Grácio - Tento sempre incentivar os meus alunos e os meus amigos a escreverem e a lutarem pela escrita. Para mim escrever é uma paixão, um gosto e um desafio. Dessa forma, tento promover a escrita de todas as maneiras, incentivando todos os jovens que mostram vontade de escrever e que têm na escrita uma referência cultural para o progresso de uma sociedade.
JPB - A nossa entrevista está a terminar e agradeço-te a honra que nos concedeste. Ainda assim, como escritor que começa a ganhar prémios de realce e a ter nome como escritor em Portugal, o que consideras importante fazer-se para que os jovens escritores como o Francisco Grácio Gonçalves tenham uma participação mais activa no mercado literário no nosso país?
Francisco Grácio - Seria importante que as editoras pensassem nos seus autores, que os promovessem, que investissem neles, e não no lucro que poderão ter. Depois não desistir nunca. Insistam, escrevam e escrevam. É difícil, mas não é impossível. Poderemos nunca ser escritores famosos ou reconhecidos, mas deixaremos a nossa marca e os nossos textos, estarão lá, escritos e prontos a serem lidos. Boas escritas!!!
Contato com o autor:
Blog: https://franciscograciogoncalves.blogspot.com
Página de autor: https://www.facebook.com/franciscograciogoncalves
Contato com o entrevistador João Paulo Bernardino (JPB)
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