Gislene Vieira de Lima - Entrevista

Gislene Vieira de Lima - Entrevista

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Nascida em São Caetano do Sul em ano desconhecido (rs) Gislene Vieira de Lima sempre apresentou aptidão para duas coisas: desenhar e criar histórias. Por conta do hábito nunca abandonou nenhuma das duas formas de expressão mesmo tendo se formado em Pedagogia. Mantinha estas atividades como hobbies tendo enveredado não só pelo mundo da escrita mas também para o mundo dos quadrinhos e posteriormente, do cinema e do desenho animado. Iniciou seus primeiros livros na adolescência que hoje estão amontoados em pilhas e pilhas de cadernos de folhas amareladas que clamam por um pouco de atenção. Finalmente sensível ao descaso com suas próprias criações Gislene começou a organizar suas obras em 2012 sendo que A Princesa com Olhos de Gato foi a primeira a sair do mundo analógico para o mundo digital. A segunda obra foi finalizada no mesmo ano recebendo o singelo nome de Padaria.

“A divulgação virtual é aquela que respeita que personaliza que dá um rosto ao autor e faz de seu divulgador um amigo. Mesmo na internet não é possível ter tantos amigos para se fazer um livro gerar lucro.”

Boa Leitura!

 

SMC - Escritora Gislene Vieira é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos o que a motivou a ter o gosto pela escrita?

Gislene Vieira - O prazer é meu! Eu sempre gostei de criar histórias. Primeiro em brincadeiras, depois em desenhos e finalmente, com a alfabetização, através da escrita. No entanto, amadurecer a escrita para ser capaz de elaborar livros demorou um tempo. Passei um bom tempo devorando livros e acho que foi ali, me encantando com as obras de tantos autores, que algo que era apenas um hobbie se tornou uma paixão.

 

SMC - Apresente-nos seu livro “A Princesa com olhos de gato”. Que temas você aborda nesta obra?

Gislene Vieira - A Princesa com Olhos de Gato é um livro que levei dez anos escrevendo e reescrevendo então ele acabou sendo reformulado várias e várias vezes. Primeiro ele era um conto de fadas. Depois foi reestruturado como uma fantasia medieval. E por fim teve seus arquétipos todos reelaborados para atender a um público adulto. Então o que temos é isso: um conto de fadas para adultos com vários elementos reais da Europa Medieval durante o período da inquisição.

 

SMC - Escritora Gislene, como foi a escolha do Título “A Princesa com olhos de gato”?

Gislene Vieira - Essa é difícil. Eu sempre chamei esse livro assim. Eu tenho uma escrita fragmentada e não é incomum ir escrevendo várias histórias ao mesmo tempo. Então, normalmente, a primeira coisa que crio para poder organizar estas histórias em minha cabeça é o título. Já tenho os títulos de todas as obras das histórias que escrevo mesmo sabendo que corro o risco de vê-los alterados quando forem para a editora. Provavelmente esse título me veio por todo o desenvolvimento da história ter partido da ideia de um único personagem, a princesa, que na época de sua criação ainda não tinha um nome.

 

SMC - Seu livro “Padaria”  é um livro de mistério embasado em elementos do folclore brasileiro do século XVIII,  como surgiu a ideia de escrever o livro? A quem você indica a leitura desta obra?

Gislene Vieira - A ideia do Padaria é a ideia de um resgate cultural. Percebi essa necessidade quando comecei a oferecer oficinas de criação de quadrinhos e mangás para adolescentes. A nova geração simplesmente não conhece nada do folclore. Ao menos nada que vá além do Monteiro Lobato. Bem, isso não é um privilégio da nova geração. Nós, brasileiros, fomos treinados para considerar nossa própria cultura como algo de segunda categoria. Acabei mergulhando em uma pesquisa para mudar essa concepção e levantei cerca de 187 personagens folclóricas para meus jovens alunos. Depois fiquei pensando que talvez o fato deles não terem muita identificação com aquilo que viam se devia ao fato de que todos eles vieram de um contexto rural. Estão desatualizados. Por isso decidi criar uma obra que fosse com personagens de folclore em um contexto totalmente urbano. Influenciada por um anime, decidi criar um lugar fantástico e comum a todo brasileiro para fazer essas figuras circularem e com isso criei o Padaria. Gostei muito da brincadeira. Já estou criando um outro livro mais ousado neste sentido.

 

SMC - Onde podemos comprar os seus livros?

Gislene Vieira - A opção mais barata é pela loja da editora Modo. Mas eles também estão disponíveis pela livraria Cultura Digital e em versão digital na Amazon. Meu e-mail de contato é gislenev@hotmail.com

 

SMC - Quais os seus próximos projetos literários? Pensas em publicar um novo livro?

Gislene Vieira - Eu tenho tanto livro que tenho trabalhado ultimamente que estou sofrendo para ver qual publico este ano. Os que estão mais próximos de finalização são A terra dos esquecidos, uma continuação para o A princesa com olhos de gato; Pés de Louça, um livro no estilo Tolkien usando só tradição e folclore nacional. Temos material suficiente para criar outro mundo, quem diria. Tem um bicho embaixo da ponte, um livro infantil. O problema é que é um livro infantil com música e ainda estou vendo como vou viabilizá-lo. Tenho dois livros técnicos que estou montando dentro de minha área de atuação.

 

SMC - Fale-nos sobre a Associação Nacional dos Escritores Brasileiros - ANEB? Qual o objetivo? Quem pode participar?

Gislene Vieira - A ANEB é uma proposta que visa unir autores e criar novas formas de divulgar a nova literatura nacional incentivando a criação de um real mercado literário interno. Em geral, o que se deseja fazer com o livro é o mesmo que foi feito com o cinema. O estado não protege sua produção interna nem a incentiva, então temos de nos unir para fazer isso acontecer. Os livros nacionais tem de chegar mais baratos ao consumidor final. Tem de EXISTIR um consumidor final. Ele tem de saber que EXISTE boa literatura nacional. É um grupo de pessoas que, espero, estejam dispostas a experimentar novas formas e tentar quebrar essa barreira impenetrável que se ergue diante do escritor comum quando ele busca se inserir no mercado. Não temos fórmulas prontas nem detemos nenhuma verdade com fórmulas de sucesso. Mas todos os interessados em ajudar neste processo são mais do que bem vindos, tanto autores quando simpatizantes. Para polarizar essas ações e tentar dar um corpo a esta arte que é tão maltratada aqui no Brasil é que estamos criando a ANEB. 

 

SMC - Quem é a escritora Gislene Vieira? Quais seus principais hobbies?

Gislene Vieira - A escritora Gislene Vieira é uma pessoa que é mentalmente muito ativa e fisicamente muito preguiçosa. Rs. Posso passar horas e horas escrevendo ou desenhando e isso não é muito bom. Estes últimos meses ainda acrescentei as ações da ANEB e francamente a cadeira do computador já me cumprimenta na porta quando eu chego. Uma de minhas resoluções de ano novo é mudar isso e voltar a praticar a natação, esporte que eu gosto muito. Meu hobbie predileto é viajar e fazer coisas diferentes. Estou sempre procurando uma novidade. Gosto muito de fotografar lugares e coisas interessantes também. E de desenhar. Ah! E jogar. Tenho um caderninho onde vou anotando tanto as coisas que quero fazer quanto as ideias que vou tendo. Um caderninho negro. Rs. Gosto de assistir filmes, seriados, animes... de ler... leio de tudo. De mangá a livro técnico. E também gosto muito de cozinhar. Tanto que já venho namorando um curso de Gastronomia.

 

SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?

Gislene Vieira - Eu percebo que houve uma melhoria com o surgimento da internet e das redes no mundo. Mas ainda assim, talvez por ter formação dentro desta área de comunicação em massa, eu percebo o quanto esta competição é injusta. Uma divulgação massiva não se compara a uma divulgação virtual. A divulgação virtual é aquela que respeita que personaliza que dá um rosto ao autor e faz de seu divulgador um amigo. Mesmo na internet não é possível ter tantos amigos para se fazer um livro gerar lucro. A divulgação em massa já mexe com armas mais pesadas. Ela gera a necessidade pelo produto antes do produto chegar ao mercado despejando alguns milhares de dólares e depois empurra essa produção goela abaixo através de uma divulgação massiva. Quem lê pode dizer que não gosta que ainda assim a necessidade que foi gerada vai fazer aquele que ouve querer ler para saber se é assim tão ruim ou tão bom. Para o autor brasileiro, ou criamos um sistema de sermos tão “capitalistas” quanto o mercado estrangeiro ou repensamos uma forma para criarmos nosso próprio mercado. E de novo, é aqui que eu gostaria que a ANEB atuasse.

 

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor a escritora Gislene Vieira , que mensagem você deixa para nossos leitores?

Gislene Vieira - Que continuem sendo leitores! E desejo sinceramente que seu amor aos livros se expanda e se propague pois a leitura, falando agora como educadora e não como escritora, é o que aprofunda a sua identidade e a torna mais interessante. Ela expande a sua percepção de mundo e alimenta nossas mentes com sonhos e idéias que podem nos ajudar a construir uma vida menos ordinária. Felicidades!

 

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