Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Guadalupe Navarro nasceu em Lima, Peru, mas vive no Brasil. Bacharel em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, com Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea, reside atualmente no Rio de Janeiro. Publicou os seus primeiros poemas em 2014. Desde então, tem publicado poesia em várias antologias poéticas, tanto no Brasil como em Portugal. Em 2015 lançou o seu primeiro livro, «Poemas da Alma», pela Pastelaria Studios. Neste ano fez a sua estreia na prosa, com a sátira «A Estátua de Sal», na antologia lusófona «A Bíblia dos Pecadores», das Edições Sui Generis.
“Escrever é vital para mim, pois ao fazê-lo consigo a satisfação que não pude encontrar em outras coisas que sonhei ser, que sonhei fazer e não pude.”
Boa Leitura!
Escritora Guadalupe Navarro, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos em que momento se sentiu preparada para publicar o seu livro «Poemas da Alma».
Guadalupe Navarro - Antes de mais nada, gostaria de agradecer a oportunidade que me foi dada para divulgar o meu trabalho. Bem, em 2014 publiquei pela primeira vez alguns poemas de minha autoria em antologias, tanto no Brasil como em Portugal. No início de 2015, recebi um convite da Pastelaria Studios para a publicação de um livro autoral. Confesso que fiquei insegura, pois sou muito crítica em relação a tudo o que escrevo. Mas, tomando coragem, aceitei o desafio.
Qual é a mensagem que você quer transmitir ao leitor através dos textos poéticos apresentados nesta obra?
Guadalupe Navarro - Gostaria que quem lesse os meus poemas capte os diversos sentimentos que tento expressar através deles. Ao escrever um poema, desnudo a minha alma, sem nenhum pudor. Algumas pessoas acham alguns de meus poemas muito “fortes”, melancólicos... concordo. Mas a poesia não pode falar só de coisas alegres ou da beleza de um amanhecer. A poesia é a expressão do que se vive, do que se sente. E na vida sentimos, vivenciamos os mais diversos e variados sentimentos.
Você tem paralisia cerebral. Qual é a relação entre a poesia e a sua patologia?
Guadalupe Navarro - Por ser portadora de paralisia cerebral, desde muito cedo tive que lidar com o melhor e o pior do ser humano. Me refiro ao fato de ter encontrado as mais diversas formas que as pessoas tratam alguém que sai do “normal”. Desde o escárnio até à verdadeira aceitação. E isto está refletido em tudo o que escrevo, seja prosa ou verso, mas, principalmente, quando escrevo um poema. Isto não quer dizer que todos os meus poemas estejam relacionados diretamente com a minha paralisia cerebral. Por exemplo: um dos meus primeiros poemas publicados é erótico. Antes de ser portadora de paralisia cerebral, sou mulher e poetisa.
Guadalupe, como você lida com as dificuldades motoras?
Guadalupe Navarro - Com humor, com revolta, com tristeza, com perseverança. Bem, tive a sorte de ter uma mãe médica e um pai profissionalmente bem-sucedido. Isto fez com que tivesse acesso a tratamentos que outras pessoas nunca puderam ter. Mas, ao mesmo tempo, a cobrança era maior. Eu tinha que ser quase “normal”, pois o dinheiro gasto em minha reabilitação foi enorme. Também havia a frustração de minha mãe em não ter uma filha para ser a “princesinha” da família. Não há como negar: todos os pais querem filhos perfeitos. É um grande trauma quando os filhos não nascem do jeito que eles sonharam. Pode parecer que estou sendo muito dura, mas vivenciei isso e conheci inúmeros casos de rejeição, por parte dos pais de pessoas com paralisia cerebral ou qualquer outro problema. No meu caso, não houve rejeição, mas houve uma tentativa de me tornar “normal”. Até aos cinco anos de idade, mal conseguia sentar, mas nas fotos apareço sentada. Havia alguém escondido me segurando. Agradeço aos meus pais todo o esforço que fizeram para me reabilitar, mas o custo emocional foi enorme. Passei por momentos muito difíceis. E desde há cinco anos venho lutando contra uma Síndrome de Pânico, que de certa forma me “paralisou” mais do que a paralisia cerebral. Chega a ser irônico... Aliás, foi devido a esta síndrome que a poesia passou a ter um lugar mais importante em minha vida. Um dos terapeutas que me atendia, tinha como incumbência me fazer sair de casa. Sabendo que eu gostava de poesia, algo que ele próprio também apreciava, passou a incentivar a minha criação poética e a minha ida a saraus.
Você diz que o fato de ter enfrentado bullying fez com que buscasse refúgio nos livros. Qual é a importância da escrita para a sua vida?
Guadalupe Navarro - Escrever é vital para mim, pois ao fazê-lo consigo a satisfação que não pude encontrar em outras coisas que sonhei ser, que sonhei fazer e não pude. Quis ser tantas coisas, sonhei com tantas outras que precisava de um canal que permitisse evitar que me tornasse uma pessoa amargurada, triste... Não sou nada disso! Quem me conhece sabe o quanto de alegria há em mim.
Sou muito grata e tenho um enorme carinho por Isidro Sousa que me convidou a participar em «A Bíblia dos Pecadores», fazendo com que escrevesse um texto com tanto humor que até hoje morro de rir ao relê-lo. Consigo escrever histórias dramáticas, mas prefiro escrever sátiras. De certa forma, fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar. Rir não com o humor tipo “pastelão“, mas com um humor mais fino, mais sutil.
Ser escritora é o que me define. É o que sou. Independentemente de qualquer outra coisa.
Onde podemos comprar o seu livro?
Guadalupe Navarro - «Poemas da Alma» pode ser encontrado na Wook online. Aqui está o link:
https://www.wook.pt/livro/poemas-de-alma-guadalupe-navarro/16939433
Você já participou de várias antologias e coletâneas, maioritariamente portuguesas. Mais uma vez, o que a leva a preferir publicar os seus textos em Portugal e qual foi a participação que mais a cativou? Por quê?
Guadalupe Navarro - É difícil escolher uma. Mas além de «A Bíblia dos Pecadores», minha primeira aventura na prosa, uma que me tocou particularmente foi «Pets Companhia». Para esta antologia, escrevi «Totó», nome que dei a uma tartaruga que tive quando criança. «Totó» me fez lembrar de certos acontecimentos de minha infância.
Em Portugal, há mais produção literária. Projetos muito mais interessantes. Além da Pastelaria Studios e da Sui Generis, também publiquei com a Hórus. E tenho um convite da editora Vieira da Silva. Tirando a Pastelaria Studios, nunca tive problemas com nenhuma. Aqui, no Brasil, já tive muita dor de cabeça com as diferentes editoras com quem publiquei. Problemas com diagramação, paginação, lançamentos em locais que não gostei. Publicarei agora, pela primeira vez, com a Editora Illuminare e espero que corra tudo sem problemas.
E também por um motivo muito pessoal. Já passei por diversas situações bastantes constrangedoras devido à paralisia cerebral. Por incrível que possa parecer, muitas pessoas chegam a pôr em dúvida a autoria dos meus poemas. Quer dizer, só porque percebem que tenho algum problema que não sabem identificar, acham que não sou intelectualmente capaz de escrever um poema ou um texto. Lançando em Portugal, me livro de ter que comparecer a lançamentos. Aliás, este é um dos motivos pelo qual pedi para falar sobre a minha paralisia cerebral nesta entrevista. Pretendo estar presente no lançamento da coletânea com textos de minha autoria. E queria que me conhecessem, que soubessem que tenho certas “peculiaridades”. Espero que ninguém se ofenda com minha franqueza.
Você está escrevendo um livro autobiográfico e tem outro, de textos em prosa, em vias de publicação. Tem previsão para o lançamento destas obras?
Guadalupe Navarro - Pretendo lançar a coletânea de meus textos já publicados, com mais um ou dois textos inéditos, tão logo sejam acertados certos pormenores. Talvez saia primeiro a versão Kindle E depois, quando possa estar presente, será lançada a versão impressa. Ou talvez os dois juntos. Como disse: depende apenas de acertar certos detalhes. Quanto à autobiografia, é um projeto que tenho. Escrevi um pouco, mas não gostei. É difícil contar uma história que envolve a sua vida, seus sentimentos e pessoas próximas. Acho que tenho uma história de vida que merece ser contada, mas que fique claro que não quero servir de exemplo ou de levantar bandeira de nada. Não quero ser a portadora de paralisia cerebral que escreve. Isso nunca! Quero ser reconhecida como escritora.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Guadalupe Navarro. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para os nossos leitores?
Guadalupe Navarro - Gostaria de agradecer uma vez mais a oportunidade que me foi dada para falar de meu trabalho e de quem sou. Mensagem? Se alguém ler um poema ou um texto meu, pense em mim como autora. Julgue, critique pela qualidade literária e não porque tenho paralisia cerebral ou porque sofro de Síndrome de Pânico, pois, na essência, sou igual a todo o mundo. Nem melhor, nem pior. Apenas e, principalmente, um ser humano, uma mulher, uma escritora. Custei muito a achar algo que me definisse de forma completa. Achei: escritora!
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