Haikai(s)
E de novo as cinzas
O verde, muito verde
tomou chão e ar
o rubro veio a seguir
Novembro não terá flores
Outubro não tem água
os mortos aguardam
O vento se agiganta
pavio ardendo
cinza feia doendo
Escalda o outono
folha a folha voando
rostos molhados
A chama lavra
a impotência cresce
terra queimada.
O silêncio da chuva
penetra fundo
a terra arde
Ave tecendo a casa
abutre espreita a presa
silencio a dor
Voo a voo
o bando espavorido
asa a asa vai
Ninhos e penas
gritos libertos
crescem medos e preces
Primeiros pingos
as rosas calcinadas
o dia mostra.
Conceição Oliveira
In POEMÁRIO 2018, Pastelaria Studios, Outubro 2017