Helder Leal Martins - Entrevistado

Helder Leal Martins - Entrevistado

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Escritor/poeta Helder Leal Martins, nasceu em Vila Nova de Ferral, concelho de Montalegre, em 15.3.1959. Com 9 anos ingressou no Seminário dos Missionários do Espírito Santo, em Viana do Castelo, tendo abandonado esta instituição em 1981, quando frequentava o Curso de Filosofia da Universidade Católica em Braga. De 1983 a 1986 frequentou o curso de Engenharia Mecânica na Universidade do Minho que abandonou por razões profissionais. Em 1993 inicia o Curso de Arquitetura, em horário pós-laboral, na Escola Superior de Arquitetura do Porto, tendo concluído a licenciatura, em Julho de 2000, na Universidade Lusíada, em Vila Nova de Famalicão, continuando a sua actividade profissional como Arquiteto, até ao presente. Como pintor autodidata, realizou, em 1987, uma exposição de pintura na "Casa de Trás os Montes", em Braga, e em 1988 participou na Mostra dos Artistas de Guimarães, na Sociedade Martins Sarmento.

“A alma do poeta é diferente das outras almas, porque resulta dessa magia que emaranha poesia e viva de uma forma criadora e criativa. Foi essa magia, esse prazer de jogar e brincar com as palavras, construindo outras realidades,  que  me levou, desde muito novo, a desenhar um outro universo no  vazio das folhas.”

Boa Leitura!

 

SMC - É um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor. Conte-nos o que o motivou a escrever poesia?

Helder Martins - A produção poética é, quase sempre, um retrato da vida do poeta, sobretudo quando não se destina a ser publicado. É uma espécie de salvaguarda da sua identidade e da sua história, uma memória de emoções, sentimentos, pessoas e momentos da vida, que não quer perder.

A criação poética, que, à primeira vista, se poderia definir como o acto de fabricar o poema, é muito mais do que isso. No fundo, é esse “muito mais” que me leva a escrever. É uma necessidade compulsiva e imperativa, de registar  momentos importantes, configurando uma realidade complexa e misteriosa em que o poema  é simultaneamente causa e efeito, tornando a poesia artífice e artefacto, unificando duas entidates que se auto constroem e justificam.

A poesia constroi  a nossa identidade, a nossa alma, abrindo os trilhos em direções tantas vezes inesperadas,  definindo as fronteiras e contornos dos próprios sentimentos e emoções num processo perfeitamente interativo.

A alma do poeta é diferente das outras almas, porque resulta dessa magia que emaranha poesia e viva de uma forma criadora e criativa. Foi essa magia, esse prazer de jogar e brincar com as palavras, construindo outras realidades,  que  me levou, desde muito novo, a desenhar um outro universo no  vazio das folhas.

 

SMC - Que temas você aborda em seu livro “Até Ser Dia”?

Helder Martins - Sendo este o meu primeiro livro, após tantos anos de escrita, achei mais seguro escolher os melhores, independentemente da data em que foram escritos ou de uma temática única.

Procurei, no entanto, organizar os poemas e em grupos temáticos, segundo uma lógica causal e ou temporal, num paralelismo com o normal curso da vida.

O primeiro conjunto de poemas diz respeito à criação poética, ao mistério da inspiração, à forma como o poema acontece e depois, ganhando vontade própria, se  autoconstoi e impõe ao poeta.

O segundo grupo de poemas diz respeito aos afectos, com destaque  para os vários tipos e estádios do amor, nomeadamente o encantamento, a paixão, o amor sereno, a posterior deceção, desengano, sofrimento da perda, esquecimento e solidão.

No grupo seguinte alinho alguns poemas de homenagem a personagens relevantes, a familiares e amigos que foram partindo.

Na última parte do livro reúno alguns poemas relacionados com a angústia existencial, decorrente da escassez de tempo para concretizar tantos projectos e sonhos, confrontado com a inevitabilidade da morte e com da insignificância e brevidade da existência humana.

 

SMC - Como foi a escolha do Titulo?

Helder Martins - Depois de muita procura, entre algumas opções escolhi o título do último poema. Curiosamente, o poema “até ser dia” é uma espécie de síntese metafórica desse caminho misterioso e do paralelismo e interdependência entre a lina do poema e a linha da vida, como uma fita de ADN que rege a existência do poeta.

A expressão “até ser dia” comporta uma multiplicidade de sentidos, entendimentos e perspectivas perfeitamente identificáveis na generalidade dos poemas e na sua gênese.

A palavra “Até” está profundamente  ligada ao conceito de tempo, e a tudo ao que o envolve, a sua relatividade, o seu sentido único e sua irreversibilidade, dominando todos os momentos da vida.

A palavra “ser” concentra em si mesma a criação, a construção e destruição, o princípio e o fim. Guarda em si todas as incertezas, dilemas, emoções, sonhos e conquistas, toda a dialética da evolução e ao longo do caminho entre a chegada e a partida.

A palavra “Dia” assume imensas realidades e sentidos: luz, conhecimento, objetivo, meta. Pode ser o dia “D” de todas as decisões, de todas as conquistas. Pode ser a hora e o lugar de chegada ou de partida, o ponto final.

 

SMC - Onde podemos comprar o seu livro?

Helder Martins - Em Portugal, o livro está à venda em várias livrarias, cuja lista vou atualizando na minha página do Facebook, www.facebook.com/helder.lealmartins .

Na fotografia de fundo do perfil encontram-se todos os dados e indicações para  para a encomenda do mesmo, via e-mail, através do endereço:  helderlealmartins@gmail.com, sendo a entrega feita por via postal.

Para fora de portugal, indicarei brevemente os custos de envio para alguns países, nomedamente o Brasil.

 

SMC - Além de poesias, você escreve em outros segmentos?

Helder Martins - Até 2007, escrevi apenas poesia. A partir de então, fui escrevendo alguns contos, dois romances, histórias para a infância e alinhavei um ou outro ensaio sobre assuntos de que falo mais à frente.

 

SMC - Qual a mensagem que você quer transmitir ao leitor através de seus textos literários?

Helder Martins - Na medida em que a minha poesia não é comprometida, confessional ou de intervenção política, não pretende transmitir qualquer mensagem especial.

Partilho os seus sentimentos, vivências e ideias, sem pensar na mensagem. É evidente que, de uma forma ou de outra, todos os poemas são portadores de mensagens, mais ou menos explicitas, mais ou menos relevantes, mas cabe ao leitor sentir  o que lê ou ler o que sente e, a partir desse posicionamento, percebê-las, interpretá-las e como entender. 

 

SMC - Helder, quais os seus principais objetivos como escritor? Pensas em publicar um novo livro?

Helder Martins - No segmento do que afirmei no início da entrevista, eu ainda não sou escritor, e não sei se o virei a ser. Para isso terei de continuar a escrever e a publicar. Com o tempo, as críticas e o tipo de aceitação das obras encarregar-se-ão de me indicar o caminho e o estatuto. Neste momento, a carreira de escritor não se me apresenta nem como um sonho nem como uma meta.

Publicar é apenas dar visibilidade ao que escrevo para mim por  necessidade e prazer. A sua publicação só se justifica a partir do momento em  em que essas criações tenham suficiente valor literário ou de conteúdo para que as tornem interessantes e proveitosas para potenciais leitores.

Quanto a futuras publicações, sairá em 2014 o meu primeiro  romance, cuja história decorre por volta do ano 1500, época do descobrimento do Basil.

Relativamente a outros gêneros literários, é provável que venha a publicar um livro de contos e um ou outro livro de histórias para crianças, eventualmente, com ilustrações da minha autoria.

 

SMC - Você é pintor autodidata, de que forma você vê a união entre a poesia e a pintura?

Helder Martins - Todas as obras de arte implicam, na sua criação e expressão, uma dose mínima de poesia e, por consequência, a pintura não é exceção. Aliás, o desenho e a pintura serão, entre as várias artes, aquelas em que a importância e presença da poesia estará mais patente. A poesia no sentido mais onírico, etéreo, transfigurador e metafórico, incubador de visões e entidades que transcendem ou reconfiguram a realidade da matéria, da forma e das ideias é indispensavel à criação, à invenção e à vida do desenho ou da pintura, e como seria de esperar, este mecanismo de dependência e influência mútua está presente tanto na minha pintura como na minha poesia.

  

SMC - Quais os seus principais hobbies?

Helder Martins - Apesar do meu tempo livre  ser muito pouco, vou conseguindo tempo para as coisas que me interessam, não propriamente como hobbies, mas como atividades complementares da minha realização integral como criador.

Entre essas ocupações, a leitura é uma das principais. Leio muita  poesia, alguns romaces, mas sobretudo ensaios ligados a assuntos culturais e científicos. A escrita vem logo a seguir, mas com uma regularidade mais variável, dependendo do gênero literário em que estou envolvido.

A minha verdadeira paixão, está na área da ciência, da tecnologia, da invenção e inovação, do entendimento do universo, do espaço, das teorias na área da astrofísica e da cosmologia.  Passo muito tempo a rabiscar e registar as minhas engenhocas e as minhas próprias teorias sobre muitos desses assuntos, que sempre me fascinaram e aos quais me dedicaria profissionalmente, se pudesse voltar atrás no tempo.

 

SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário em Portugal?

Helder Martins - Parece-me que há ainda muito a fazer, sobretudo no sentido de promover o gosto não apenas pela leitura, mas pela leitura de livros com qualidade, que enriqueçam cultural e humanamente quem os lê.

Sem perder de vista as contingências decorrentes deste mundo globalizado e capitalista, onde o lucro domina os investimentos, sobrepondo-se ao interesse público, julgo que é possível  conciliar os dois na democratização o acesso aos livros,  inovando para baixar o seu custo. 

Além disso, é fundamental que os  grandes grupos,  que dominam  o negócio do livro em portugal, abram  as portas a novos autores portugueses ou  de lingua portuguesa, os estimulem e apoiem na sua atividade criativa.

 

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor o Escritor Helder Leal Martins, que mensagem você deixa para nossos leitores?

Helder Martins - A minha mensagem final é simples: os livros são o alimento da alma. Leiam cada vez mais, mas não se deixem levar pelas estratégias e interesses do “mercado”. Abram outros livros, folheiem, espreitem o seu interior sem medo. Comprem e leiam o que vos intressa e não o que interessa a quem vende.

 

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