Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Nascido em 1957, em Campina Grande (Paraíba), Hélder Moura ingressou no jornalismo em 1983 na Gazeta do Sertão, onde se tornou editor-chefe, atuando sempre no colunismo político. Venceu alguns prêmios de poesia e, em 1985, lançou o livro Coração de Cedro. Já em João Pessoa, se tornou colunista do jornal Correio da Paraíba, desde 1992 e, em seguida, apresentador da TV Correio (Rede Record), onde ganhou vários prêmios de Imprensa. É também professor universitário do Instituto Federal da Paraíba, onde leciona sobre algoritmos e lógica. Atualmente, edita blog no Jornal da Paraíba (Rede Globo), sobre política e também sobre viagens, humor e literatura.
“Mas, não posso negar que me diverti muito com a Turma da Língua Impiedosa, que não é exatamente um personagem, mas que expressa o fenômeno da comunicação como algo tão inerente ao humano, em qualquer época ou circunstância.”
Boa Leitura!
Escritor Helder Moura é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor, conte-nos o que mais o encanta na arte de escrever?
Helder Moura – Respondo me apropriando das palavras do personagem Aparício, no contexto de “Dom Agápito”: “A criação é um processo tormentoso. Quem se dispõe a essa aventura, sabe como é sofrer para parir a sua cria. É um parto do qual não se escapa impune. Deixa marcas, feridas profundas, cicatrizes que o infeliz é obrigado a carregar pelo resto da vida. Mas, apesar da perversidade das dores, também traz uma alegria sublime. Criar é quase como brincar de Deus. Talvez até seja. Quem sabe não seríamos todos nós partes integrantes de um grande romance, escrito por ordem superior, sem, obviamente, termos a consciência perfeita disso.”
Em que momento surgiu inspiração para escrita do enredo que compõe o seu livro “O Incrível Testamento de Dom Agápito”?
Helder Moura – Na minha adolescência de leitor ávido, eu havia encontrado referências a Óbidos num livro de memórias de Érico Veríssimo, “Solo de Clarineta”, fiquei fascinado pelo castelo e decidi, um dia, conhecer a cidade. Aconteceu muito tempo depois, durante uma viagem a Portugal, em 2004, creio. Então, enquanto andava pelas muralhas, vendo do alto as ruas e travessas e as pessoas indo e voltando, toda a história me ocorreu, assim, de repente. Mas, como eu não tinha à época pretensões literárias, quando cheguei ao hotel apenas rabisquei uma espécie de esqueleto, um projeto de livro e esqueci. Só que, anos depois, em 2011, o demônio da literatura me fez encontrar o material e decidi encarar o desafio de escrever o romance. O livro foi lançado, em Lisboa, em julho de 2012, pela Editora Chiado, de Portugal. Logo depois, também na Bienal de São Paulo. Em janeiro de 2013, voltei a Portugal e, a convite do Conselho Municipal (Prefeitura), lancei também em Óbidos. O livro esgotou ao longo daquele ano, foi quando fiz contrato com Editora Miró, que lançou a 2ª edição. No final de 2016, fui a Óbidos para participar do Folio (Festival Literário Internacional) e lançar a 4ª edição.
Quais os principais desafios para escrita do enredo que compõe a obra?
Helder Moura - Primeiro deles foi ter uma ideia. Ideias não se vendem em gôndolas de supermercado. Depois, claro, começar. Começar e obstinar para prosseguir com os bons ventos da inspiração. Afinal, não são raros os momentos em que sobrevém uma terrível calmaria. Tudo para. Faltam palavras, sobra desânimo. E se não houver obstinação realmente, naufraga. Depois, vem a publicação, que também é um desafio e tanto. Por fim, encontrar quem leia. Livro é para ser lido. Senão, de que valeria contar uma história, se não há quem escute?
Dizem que os personagens têm muito do autor. Qual dos personagens de “O Incrível Testamento de Dom Agápito” tem mais de você? Por quê?
Helder Moura - Bem, eu poderia dizer que todos os personagens têm muito de mim, e nenhum deles em especial tem mais. Foi a sensação que tive ao escrever. Mas, não posso negar que me diverti muito com a Turma da Língua Impiedosa, que não é exatamente um personagem, mas que expressa o fenômeno da comunicação como algo tão inerente ao humano, em qualquer época ou circunstância.
Se pudesses descrever o livro em duas palavras, quais seriam?
Helder Moura - Malícia e cobiça.
Onde podemos comprar o seu livro? (podes deixar link para compra em resposta)
Helder Moura - O livro está em 4ª edição e talvez não tenha chegado às livrarias, mas pode ser adquirido diretamente no site da Miró Editorial (www.miroeditorial.com.br/). As edições em inglês, italiano e espanhol estão a caminho, mas ainda indisponíveis.
Quais os principais hobbies do escritor Helder Moura?
Helder Moura – Ler, ler e ler. Depois, viajar.
Você é um dos coordenadores do projeto “Sol das Letras” um evento literário de referência na cidade de João Pessoa, conte-nos um pouco sobre o projeto.
Helder Moura – A ideia do projeto surgiu durante lançamento de “Dom Agápito” na Feira de Livros de Frankfurt, em 2013. Naquele ano, o evento era dedicado à literatura brasileira. O Ministério da Cultura organizou um grupo com 70 escritores de todo o País, mas, lamentavelmente, nenhum da Paraíba. Eu viajei a convite do Governo alemão. Lá, em conversas com outros escritores, percebi que praticamente não conheciam a literatura contemporânea produzida na Paraíba, e isto muito me desencantou. Eles só falavam de Zé Lins, Ariano Suassuna e Augusto dos Anjos, no máximo Zé Américo. E nós temos uma produção de excelente qualidade. Então, no retorno, convidei alguns amigos e propus a criação da Confraria Sol das Letras, que teve como primeiro projeto do Por do Sol Literário, atualmente na sua 38ª edição, um evento felizmente consolidado, que visa exatamente projetar a literatura produzida na Paraíba, tanto para os próprios paraibanos, quanto para fora do Estado.
Quais seus principais objetivos como escritor?
Helder Moura – Minha única ambição como escritor é continuar escrevendo e publicando. E, se possível, sendo lido.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Helder Moura. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Helder Moura – Primeiro, destacar o trabalho desenvolvido pela revista. Extraordinário. Fascinante. Sobretudo oportuno, num cenário de tantas dificuldades porque passam os escritores, especialmente nestas latitudes, para ter alguma visibilidade. E quem não quer? O escritor não escreve para si, afinal. Depois, torcer que esse trabalho estimule o surgimento de novos talentos. E certamente estimulará. Finalmente, agradecer pela deferência da entrevista. E por fim mesmo, declarar que não existe nenhum povo, tribo, nação. Nunca existiu e certamente nunca existirá, que não tenha sua expressão através da narrativa. Tem sido assim desde que os primórdios. A literatura é, portanto, a identidade de uma gente. A gente em torno de uma fogueira para ouvir e contar suas histórias.
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