“INAUGURAÇÃO DO BRASIL”
Realmente parece muito estranho ou mesmo esdrúxulo dizer que um país foi inaugurado. Isto se não prestarmos atenção a fatos históricos.
Senão vejamos: os fenícios navegaram pelas costas do nosso continente muito antes de Cristo. Depois foi a vez dos chineses, em 1421. Todo o caribe foi visitado por aquele povo que vinha aqui para descobrir riquezas, e, certamente, saquear tudo o que lhe interessava. Isto aconteceu com os franceses que levaram grande parte da Mata Atlântica, em forma de Pau Brasil. Não havia, para estes povos a intenção de requerer propriedade das terras descobertas. Não havia reivindicação territorial.
Dizem as más línguas que os portugueses dispunham de mapas elaborados pelos Fenícios, porém, não há prova cabal. Nossos irmãos, ainda que admitamos terem esses mapas fenícios, só deram com os costados em nossas praias por conta de uma calmaria que pairou no Atlântico por tempo indeterminado. Se os portugueses demoraram noventa dias para atravessar o oceano, pergunto; uma calmaria pode demorar três meses sobre um mar tão grande quanto o Atlântico? Será que a nossa marinha mercante saberia responder esta pergunta?
Os espanhóis andaram subindo o Rio Amazonas, quando ainda não tinha este nome. Se não me engano, um tal Américo Vespucio, depois Vicente Yanez Pinzon navegou pela Bacia de la Plata. Descobriram o que viria a ser a Argentina e o Uruguay. Ah! Sim, o Paraguay também. Nesse rolo vai também o Chile, Bolívia, Colômbia etc,etc. Quem na Colômbia descobriu a grande mina de prata? Dizem que foi alguém da família Patiño; da Espanha.
O Tratado de Tordesilhas ajudou muito os portugueses, que já sabiam da existência de nossas terras. O escrivão, que a mando do Rei de Portugal, em parceria com seu colega da Espanha, sob as ordens dos Reis Católicos, Fernando e Izabel, redigiu o tratado, sabia, ou sabiam, bem direitinho o que estavam fazendo, ou seja, cada um que fique com sua fatia do bolo a ser descoberto e saboreado. Será que Pero Vaz de Caminha, ainda em sua pátria, já não sabia que aqui “em se plantando tudo dá”?
Por isto, elucubrando, avento a hipótese de nossos patrícios terem navegado até Cabrália apenas para oficializar a inauguração da Bahia, digo, do Brasil. Quando “em aqui chegando” nossos patrícios depararam-se com um “magote” de gente nua correndo pelas praias, virgens de povos brancos – raça - com arcos e flechas nas mãos, tentando impedir a invasão de seu território, devem ter pensado numa grande suruba, o que vinha a calhar para os degredados, ávidos por corpos novos, indefesos e inocentes. O mais puro dos marinheiros, tinha pena decretada de trinta anos de prisão. Será que é por isto que ainda hoje grassa a corrupção na crista da sociedade política?
O Bispo que acompanhava a “TROPA DE ELITE” e que era o intelectual do grupo, alcunhou aquela gente de “indígenas” ignorantes, analfabetos e “não tementes a Deus”, fato inaceitável. Como podia um povo tão rico em recursos naturais, não contribuírem com o Vaticano? Temos que infundir-lhes medo e, como castigo, atribuir-lhes carga de trabalho... só assim vão aprender a se comportar e respeitar a Igreja de Pedro. Como se Pedro ou Deus tivesse alguma coisa ver com isso...
Nossos índios, os mais lídimos representantes da nossa gente, ainda que tenham atravessado o “Estreito de Bering”, para aqui chegar, no mínimo foram os primeiros a tomar água de coco em nossas praias. Mereciam mais respeito, mais atenções, mais consideração.
Não satisfeitos com a degradação indígena, nossos portugueses, iniciaram o contrabando de africanos, para executarem os trabalhos indignos da gente européia. Trabalho braçal nos canaviais, que por sinal perdura até os dias de hoje.
Os negros africanos chegavam como mercadoria, pois que tinha o seu “importador” a obrigação de pagar os devidos impostos na Alfândega do Rio de Janeiro. Neste caso eles, os negros, não eram “naturalizados” e sim “nacionalizados”.
Assim, meus amigos, a “inauguração do Brasil” foi a grande piada daquele século. O descobrimento aconteceu muitos séculos antes.
Um abraço
Anchieta Antunes.