Incomunicabilidade
Segundo o dicionário, incomunicabilidade é a qualidade ou o estado do que é ou está incomunicável. Mas, hoje em dia, é muito mais do que isso. Temos TVs, rádios, celulares, computadores, redes de internet, temos tudo isso, mas não nos entendemos, não nos compreendemos. Essa incapacidade de se comunicar é tão grande que existem os filmes franceses da incomunicabilidade, cuja temática aborda, em grande parte, essa questão.
Numa conversa, menos de 50% da comunicação se dá por palavras. Isso significa que linguagem corporal, pausas, silêncios, troca de olhares, apertos de mão e abraços correspondem à maior parcela do que o outro apreende daquela nossa tentativa de passar uma mensagem. Por que é assim? Porque cada pessoa, segundo São Tomás, é uma substância individual e por esta razão, incomunicável. Este conceito não nega comunicações intelectivas, volitivas e afetivas, não se referindo às comunicações afetivas, verbais e espirituais, mas sim, à comunicação ontológica. Ninguém pode privar-se do ato de ser; o ato de ser é incomunicável. Cada ser humano é único e irrepetível. A alma é incorruptível e portanto imortal. Isso é bem verdade e expressa o grande amor de Deus para conosco.
A incomunicabilidade dos nossos tempos, no entanto, configura-se como uma grande separação de cada um para com todos. Uma pseudo-individualidade que torna cada pessoa um universo fechado e enredado pelas teias do capital, moldando-nos como consumidores de produtos e serviços, não mais do que isso.
Enquanto cidadãos temos direitos e deveres. Mas nossos direitos só são respeitados e efetivados quando interessa ao sistema que assim sejam. Porém, ao contrário, todos os nossos deveres são amplamente cobrados e estabelecidos como norma pelo status quo. E porque as utopias todas fracassaram, não há mais movimentos populares legitimados por uma maioria que possam solicitar, protestar e/ou reinvidicar melhorias nas condições de vida.
A incomunicabilidade vai além, nos tornando “homo virtualis”, verdadeiros portadores de universos virtuais que nos identificam, nos rotulam e nos classificam em todas as instâncias e níveis. Isso pode até soar como paranoia ou teoria da conspiração, mas relembre os casos de Assange e Snowden e verá que nosso mundo capitalista não respeita os próprios ideais de liberdade, igualdade e fraternidade que finge defender.
A própria palavra incomunicável mudou de sentido na informalidade. Ser ou estar incomunicável, atualmente, significa estar sem telefone, internet e todos os outros gagedts e aparelhos eletro-eletrônicos e digitais. E não estar impossibilitado de dialogar com alguém ao vivo e a cores.
Não preconizo, de forma nenhuma, uma volta aos tempos pré-digitais ou o que quer que seja nesse sentido não. Busco sim, uma reflexão sobre o valor do indivíduo e sua autonomia frente ao mar de incomunicabilidade que a contemporaneidade nos trouxe. Paz e luz.
Mauricio Duarte
Referências eletrônicas:
https://gilvas.wordpress.com/2011/05/23/a-incomunicabilidade/