MUDANÇAS
Quarto arrumado.
Inanimados perfeitos, enfileirados.
Cortina, teimosa, voa.
Com o vento lá de fora
Tudo cá; saudade.
Tudo lá; eternidade.
Assopro da natureza
Vento dos deuses
Ambiente que brinca
Com coisas que um dia
Foi... foram.
Donos partiram
Face capturada - retrato.
Momentos de...
BIA
( má narozeniny)
A lua quando brilha,
Quer pouco a pouco
Conquistar o teu coração
Até Deus desejou
Amar-te até. Amar-te até.
Olhos que fascinam
Sorriso de menina
Brincadeiras e travessuras
Nessa face divina
O mundo para
A felicidade me beija
No teu...
INQUIETUDES
Giro
Compasso
Largo
Faço círculos
Desacato
Ando quadrado
Nas rebarbas das linhas
Franzido reto
Cerzindo teto
Vazios de luzes
Escuro
Giro, giro
Inquieta no círculo
Descompasso
Linhas tortas
Vaivém contínuo
Lua dorme
Estações circulam
Nas inquietudes da alma
Gasta
Confusa no...
MAR DE ESTRELAS
Estrelas Dama da noite.
A clarear chãos de roseiras
Noturno! Ronda a morte devagar
Brilho distante
Olhos a piscar
Lua Nua
Ouvindo o mar
A se lamentar
Noites que passam
Anos a somar
Esperanças, falsas luzes, sempre.
Vindo devagar
Nas ressacas, chegada de ondas...
CATAVENTO
Menina na janela
Vendo o vento. Vento vendo.
Batendo porta no batente
Faz chorar a janela vazia
Cata o vento! – exclama
Erguendo as mãos de lã para o vento catar.
Para entre os dedos, o vento passar.
Que vento danado, assanhado.
Beija-lhe a face devagar
Esfriando lábios
Assoprando...
ROSA
Rosa cresceu no jardim
Menina rosa, dama carmim.
Logo, espinhos pariu
Canteiro mudo, terra adubada.
Dona de si: floriu!
Haste vertical de madeira lhe sustentava
Sem graça, magra, descabelada, nua
Sentiu-se abusada. Tanto fez que a haste
Gemeu, estalou
Partiu
Caiu, agoniada
A rosa...
PEDRA
Sozinha.
Estreito labirinto
Brilho, não há.
Barata, vulgar
Inerte. Beira do Rio
Banhada por águas a correr
Silêncio espairecer
Jogada, parada, banhada.
Coberta de limo, tapete verde
Beijando-a. Deita-se.
Ali molhada, lambida.
Por diversos caminhos
Caminhos, Caminhos! - Grita o vento
A...
Ela, na janela
Parece que foi ontem...
Acordava devagarinho, pelas 6h, todas as manhãs.
Dia útil.
Lá embaixo, no horizonte, os olhos avistavam o sol nascente.
Horizonte aberto, amplo, reto em que o céu parece tocar
A terra, o mar ou alma .
Vestido errado/certo
A...
PÚRPURA
Ornamentação
Néctar abundante
Destilando mel
Canto de Amor
Sente pena
Pena que sente
Dos que vivem sem amor
Essência de lavanda!
Aroma de cânfora
Basta cortar um tronco
Para ver
Marcas, marcas, marcas
Cajado pesado
Foice afiada
Morte certa
Vida segue
Arranjos...
OLHOS
Menina bonita
Bolinhas pupila
Cílios rosa
Moldadas em cetim
Por vezes, coloridas, frescas
Mãos de artesãs.
Brilham estrelas
Dedo de Deus
Beleza do sol
Abrem e fecham
Piscam vagalumes
Abelhas devagar
Sugando mel
Devagarzinho flor em flor
Iluminando
Áreas em ...
CONCRETO
Lá vem o mundo de novo!
Acendendo e apagando em nós
Imensas conchas de letras
“Derrubando homens
Entre outros animais
Devastando a sede desses matagais”[1]
Pés descalços
Sandálias de tiras
Nos cabelos que nada moldura
Fitas coloridas
Noites quentes
Rede que acaricia
A pele...
PIPA
Sou feito bicho esquisito
Criado na selva de pedra
Circulando entre multidões
Sempre cheia de “solidões”
Vazios que habitam cada canto do meu vasto ser
Repleto de almas mortas
Que um dia aqui passaram
Adornadas de almas vivas
Cujos beijos são doces expectativas.
Andarilhos de nós...
ENTARDECENDO
Notei que ontem, em mim, se fez dia.
Sol a pino banhando a carne fresca.
Sem modéstia
Namorava-o como um sopro de rara felicidade
Fez-se seda com o avançar das horas
Tecendo novo tecido: jovens fios, novas teias.
Morreu o dia. Veio a lua. Novo sol
Tempo rápido. Manhã...
MILAGRE
Nesse riso de dor
Ausente de cor
Na vida seca ou florida
Dores de amor
Grama molhada
Botão de rosa partindo
Choro cortado
Galho caído
Pau com espinhos.
Pedras no chão
Há um milagre que sempre se perpetua
Noutro dia, noutro canto, noutro lugar
Risos de amor
Chão rasteiro de...
foto: "The Ilex Tree" (1933-1938)
By Sir Gerald Festus Kelly P.R.A, (British, 1879 - 1972)
oil on canvas; 66 x 81 cm
RE (NASCER)
Divino!
Ar, tempo
Fogo!
Pedras, rochas, velas. Tudo sem cor
Explodindo chamas a dançar
Paredes, piso seco, gotas quentes e peraltas.
Lambendo...
foto: "The Bridge at Grez", 1883
By Sir John Lavery R.A., from Belfast, Nothern Ireland (1856-1941)
oil on canvas; 76.2 x 183.5 cm"
Barco
De longe te vejo
Afastado do cais
Flutua sobre a água
Distante se vai
Desloca, desliza, rasgando ondas
Lágrimas de espumas
Lua...
DEBAIXO DE UMA ÁRVORE
Troncos entrelaçados, galhos brotos arregalados.
Olhos tortos de madeiras enraizadas
Ramificações, folhagens escamas: verde cama; animais.
Bairros, João, José. Casas de João de Barro
Ancoradas pelo tempo, sempre visitadas pelos ventos
A derrubar João homens entre outros...
PASSOS
Pé diante de outro
Passos: meus passos.
Bem pisados, riscados, falsos, apagados.
Onde ficaram os rastros?
Que ontem em pisos molhados derrapou.
Com fios grossos de lágrimas
Não contidas, sofridas.
Em travesseiros, bordei.
Fui! Parti! Desfiz-me
Viagem longa ao centro de...
JANELAS
Janelas: casa minha, minhas casas, casas belas.
Madeiras gastas
Entre frestas vários sóis
No chão, formas amarelas.
Dura pouco. Chega à noite.
Os sóis, moleques inquietos, noites adentro, se escondem
Ocultos, veem as luas.
Luas! Várias nas vagas ruas
Noivas em noite...
Oldrich Blazicek -Czech, 1887–1953- imagem
CASA
A minha casa é pequena
Pequenina!
Não conheço, ainda, todos os cantos. Doces encantos!
Nem todos os pisos: amores, ilusões.
Várias “luas” testemunhas
Lágrimas, águas molhando lençóis.
Sementes germinando. Casa se retorcendo, torcendo chorando,...
VIDA (texto 2)
Não!
Não tenho culpa
Angústias, amarguras
Feridas punhais
Pedra nos caminhos
Enchente de rios
Mausoléus!
Trago o choro, o riso, a esperança.
Dia a Dia
Sol que sai
Iluminando o céu
Chuva farta
Abundante
Natureza sorrindo
Sou aquela que vem
Não aquela que...
On the road - fotógrafa: Dorothea Lange
INSTANTES
Horas não me passam
Rasgam-me velas panos
Embarcações naufragadas
Saudade! Saudade!
Dentes afiados
Mastigam, mastigam
Lembranças: instantes dolorosos
Mortos séculos
Estradas seguem
Asfalto quente
Rodas derrapam
Vidas...
NÃO RARO
Não raro,
Vejo seres celestiais adornados de plumas
Os caídos. Escuridão total
Não podem mais enxergar
O brilho do mais puro metal
Não raro,
O mal sempre constrói casas em terrenos
De outros, baldios ou vazios: assim pensam muitos!
Nunca onde estamos
Posto que somos o próprio...
Foto: Dominique
VINHO
Ouço a terra a rodar
O ontem que se foi
Não mais voltará.
Memórias cá dentro
Saudades enterradas
Na terra lá fora
Hoje não existe mais
Mas sei quem foi.
Não vejo: beijo.
Há muito partiu
Partiu quando?
Não lembro! Só sei que tão cedo
Na época em que as...