Jornada ao interior
“Não sou cristão, nem muçulmano, nem judeu, nem zoroastriano; não sou da terra nem dos céus, não sou corpo nem alma...” Rumi
Acolhemos a presença da luz quando ela nos apresenta sua florescência, seu brilho que são divinas? Estamos abertos ao Divino Espírito Santo quando Ele está próximo? A porta para o caminho espiritual não é franqueada com facilidade e também depende de esforço pessoal e mérito pessoal. Mas não quer dizer que Deus não venha quando não merecemos – se fosse assim Ele nunca viria, porque nunca merecemos efetivamente – mas significa que aproximar-se da Árvore da Vida se refere a uma experiência espiritual mais profunda. Experiência que só pode ser alcançada quando estamos devidamente sintonizados com nosso guia interior.
Perfeição, harmonia e beleza formam nossa vida mesmo que não estejamos conscientes desses valores ou atributos, mesmo que não os queiramos e/ou os rejeitemos veementemente. Por que? Porque a fagulha divina está em todos nós. O contrário desses ideais, grassa todo dia pelo planeta Terra, dirão alguns. Morte, violência, crime, guerra, tudo enfim que os noticiários jogam na nossa cara todo dia. Porém, há uma esperança no futuro que mostra sempre sua face equilibrada e sagrada quando nos voltamos para a espiritualidade sincera. Isto ocorre por sermos legitimamente herdeiros da graça divina, aliás, como toda criação, toda a natureza. No entanto, é uma moeda, tem duas faces: a positiva e a negativa. Quando negamos uma destas faces, perdemos a moeda inteira, nosso tesouro. Significa que com a meditação, por exemplo, exploramos nossos lados reprimidos e podemos conhecê-los profundamente e nos conhecer como seres plenos. Tal ação é humana – demasiadamente humana dirão alguns novamente – mas não é negando nossa humanidade que iremos ascender espiritualmente. Pelo contrário, aceitar os próprios defeitos – aceitar não é praticar más ações quando elas nos apetecem e sim compreender a dinâmica dessas forças em nosso interior – é parte considerável, substancial do processo de iluminação; sem o qual nada de verdadeiramente positivo em espiritualidade pode ser feito.
Esta espiritualidade desenvolvida não é cristã, budista, judia ou de qualquer outra denominação ou tradição. Ela é divina, ela é universal e pode ser alcançada com práticas e hábitos como recitação, oração, mantra, meditação, yoga, dentre outras. Também não é uma espiritualidade puramente inefável ou puramente transcendente. Ela o é também. Mas inclui nosso corpo, nosso cérebro e nossa mente com uma amplitude total, com aceitação total. Luxúria “não é profana” quando realizada com amor, com compromisso, com cumplicidade e quando não somos reduzidos à prática do sexo somente. Preguiça “não é profana” quando entendemos e compreendemos a sua inércia e tentamos sinceramente não cair nela quando ela surge. Até o ódio “não é profano” quando é sentido com consciência e com discernimento para que não venhamos a ser dominados por ele novamente. Todas são facetas da nossa vida que, se não forem aceitas, explodirão de modo involuntário e inconsciente, mais cedo ou mais tarde.
Desse modo, estar preparado para o sagrado, é viver harmoniosamente com qualidades e defeitos, ciente que a vida circula por todos os lados, tanto nos ambientes do nosso espírito e alma que gostamos, quanto nos que não apreciamos. Essa é a única verdadeira jornada ao interior. Paz e luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)