José Patrício e o número - por Maurício Duarte

José Patrício e o número

 

Sua atividade artística já figurou como tema de livro: “José Patrício: Cogitações sobre o Número” do curador de arte Paulo Herkenhoff. Já esteve em mais de 28 exposições individuais nos grandes centros culturais do país e já participou de mais de 103 mostras coletivas selecionadas no Brasil e no exterior, além de participar de 18 coleções públicas.

José Patrício começou a produzir composições com papel artesanal – que o artista mesmo fabricava - na primeira metade da década de 1990.  Os papéis de fabricação artesanal eram organizados em módulos em forma de quadrado e sobre estes eram colocados papéis úmidos, criando assim, formas orgânicas ao se acomodarem.  Os resultados, muitas vezes inesperados, são de experimentação numa pesquisa formal singular.

Depois, passou a utilizar objetos, feitos em série, já prontos, que são populares e que, deslocados de sua função original, formam composições inusitadas.  Como quando elaborou uma série em que utiliza a cor preta com pequenos bebês de plástico, colados em suportes diversos como um preparado de cola e tinta.

Em 1999, iniciou a utilização de dominó em suas obras. O uso desses objetos obedecia a uma lógica matemática, de acordo com a sua numeração, ao mesmo tempo que contava com a casualidade, gerando imagens imprevistas com infinitas possibilidades, ao longo da sua montagem. Verdadeiras estruturas, cada obra sua surpreende pela imponência. Como as inúmeras montagens da série Ars Combinatória, instalações realizadas entre 2000 e 2005.

Mas se engana quem pensa que o artista pernambucano tem um espírito matemático ou tem uma relação visceral com a matemática.  Segundo as palavras do próprio autor, “(...)A matemática no meu trabalho surgiu de uma forma completamente subjetiva e aí comecei até a gostar. Eu preciso fazer cálculos, obedecer cadências, ritmos, para fazer o trabalho.  Ele exige uma precisão em alguns momentos para conseguir o resultado também preciso.  Não sou um estudioso de matemática.(...)” E ainda, “(...)A matemática é o instrumento que eu encontro para estruturar essa obra.”

As referências do criador estão em Recife, cidade onde nasceu. É de lá que o artista tira inspiração para suas peças de arte.  Das festas populares, elemento de pintura, de geometria.  A visualidade da expressão popular o alimentou e o informou de forma direta.  Identificando-se com os concretos (pelo rigor) e os neoconcretos (pela liberdade), José Patrício também dialoga com uma tradição de artistas conceituais brasileiros tais como, Hélio Oiticica, Antônio Dias e Lygia Pape, dentre outros.

Sua obra é grandiosa, a um só tempo, cria formas e composições entre a ordem e a iminente possibilidade do caos.  Utiliza-se dos mais diferentes materiais para compor, entre tachas em mdf (Da obra “Tachas” de 2005: 6.272 tachas . 32,5 x 60 cm), pregos (Da obra “46.872 pregos – crescente” de 2008 . esmalte sintético sobre pregos sobre madeira . 200 x 200 cm) até botões (Da obra “Coleção” de 2005 . 6.274 botões e esmalte sobre tela sobre madeira . 114 x 224 cm).

A diversidade e a amplitude do seu trabalho consolidam-se quando o artista encontra, nas suas palavras,“uma estrutura paradigmática, que pode ser reutilizada, para mostrar a possibilidade de fazer sempre a mesma coisa, mas essa mesma coisa ser sempre diferente.  É sempre o mesmo, mas é sempre diferente.”

Mauricio Duarte

 

 

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