Libertar o poema
Às vezes no meio do escuro
às vezes no meio do mar
tantas vezes em desespero
tantas outras a chorar
gravam com a alma as estrelas
poetas, pintores, sonhadores
pintam a sangue nas telas
a esperança em todas as cores
cercados em mordaças
as nações envelhecidas
nas prisões escuras danças
e as frases mais aguerridas
nos corpos encarcerados
a poesia em negras vestes
como se desenraizados
de si próprios, os mestres
ânimo à palavra esquecida
na luz que acende o dia
pavio extinto, tocha ardida
morrem na noite sombria
madrugadas a construir poemas
que a insatisfação descontroi
são deles todos os dilemas
e até o sangue lhes dói
em paredes frias, atrozes,
se inscrevem memórias e a saudade
soltam amarras no clamor de vozes
e na força dos seus cânticos
– toda a liberdade!
Conceição Oliveira
In, Antologia, POETAS D’HOJE,