Língua e linguagem no olhar de Bakhtin
A partir da segunda metade do século XX, a Linguística sofreu uma significativa mudança, as discussões acerca da linguagem passaram a incluir o falante como peça-chave em todo o processo. Esta visão é marcada pelos pressupostos de Bakhtin (1993). Sua perspectiva passa a considerar o falante como instrumento fundamental para o funcionamento da língua, bem como para a compreensão da história da humanidade. Para ele o único objeto real e material para entender o fenômeno da linguagem humana é o exercício da fala em sociedade.
Bakhtin (2006) diferentemente de Saussure, propõe outra concepção para a língua e para a linguagem. Ambas, segundo o autor, devem ser relacionadas e estudadas em uso; em outras palavras, não há como estudá-las sem levar em consideração a sua inserção nas relações humanas, sem que seja contemplada em seu aspecto histórico, social e ideológico.
Segundo o referido autor, a única possibilidade de se estudar profundamente uma língua é levando em consideração a sua vertente prática, ou seja, estudá-la segundo o seu funcionamento. Desse modo, ele propõe que a linguagem seja compreendida a partir de uma perspectiva dialógica, e que se perceba aí a sua natureza volátil, dinâmica. Tal postura, fundamentada no aspecto interativo da linguagem, influenciou, à época, e de maneira decisiva, o modo como muitos linguistas «enxergavam» e estudavam a língua.
Para fins de estudo da língua, não devem ser dissociadas as interações verbais das interações sociais; elas devem estar sempre associadas, e, sobremaneira, devem ser analisadas levando-se em consideração as situações enunciativas nas quais estão sendo empregadas, bem como os processos dialógicos que provocam.
Referências:
Bakthin, M. A pessoa que fala no romance. Em M. Bakthin, Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo: Hucitec, 1993.
Bakhtin, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2006.