M O R T E - por Anchieta Antunes

M O R T E - por Anchieta Antunes

M O R T E

 

Primogênita da vida;

para alguns a revelação,

para outros a primeira refeição.

 

De um lado, 

o começo de tudo,

e do outro, a finitude,

o sossego da carne. 

Sei de tudo que

não preciso saber;

sei da água que

lava minha alma,

purificando o vácuo

deixado pela ausência

de turbulência.

 

Sei do segundo berço

que acolhe o neófito,

acalanta seus sonhos,

vibra com seus entusiasmos,

e sopra a palavra – verdade.

 

No meu primeiro tempo de jogo

fui intrépido e arruaceiro,

fiz buraco na parede do tempo,

com os dentes, arranquei dormentes,

salpiquei as nuvens com pecados,

debrucei-me no fio do perigo,

senti o temor fluir

nos túneis do desconhecido,

nas entranhas vermelhas

da pulsante carne vibrante.

 

Fui arrogante e impulsivo,

e não me arrependo de nada;

sinto-me pronto para mascar

qualquer pão que me caiba;

medo é meu melhor brinquedo.

 

Do corpo etéreo 

desaparece a imagem

como o hálito del niño

que risonho corre 

entre as pernas

do desconhecido.

 

Brincando de sofreguidão,

burlando a contemplação

na folha vaga do vento 

escorrego para pousar

suavemente 

no chão de estrelas.

 

Futuro e presente

fincados estão 

no umbigo do tempo,

na lâmina do desejo,

na flor de Cristo.

 

Paixão pela vida,

corpo sem substância,

espírito com temperança.

 

Não tenha pressa,

o tempo espera,

a matéria – não.

 

Anchieta Antunes.

 

 
 
 
 

 

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