M O R T E
Primogênita da vida;
para alguns a revelação,
para outros a primeira refeição.
De um lado,
o começo de tudo,
e do outro, a finitude,
o sossego da carne.
Sei de tudo que
não preciso saber;
sei da água que
lava minha alma,
purificando o vácuo
deixado pela ausência
de turbulência.
Sei do segundo berço
que acolhe o neófito,
acalanta seus sonhos,
vibra com seus entusiasmos,
e sopra a palavra – verdade.
No meu primeiro tempo de jogo
fui intrépido e arruaceiro,
fiz buraco na parede do tempo,
com os dentes, arranquei dormentes,
salpiquei as nuvens com pecados,
debrucei-me no fio do perigo,
senti o temor fluir
nos túneis do desconhecido,
nas entranhas vermelhas
da pulsante carne vibrante.
Fui arrogante e impulsivo,
e não me arrependo de nada;
sinto-me pronto para mascar
qualquer pão que me caiba;
medo é meu melhor brinquedo.
Do corpo etéreo
desaparece a imagem
como o hálito del niño
que risonho corre
entre as pernas
do desconhecido.
Brincando de sofreguidão,
burlando a contemplação
na folha vaga do vento
escorrego para pousar
suavemente
no chão de estrelas.
Futuro e presente
fincados estão
no umbigo do tempo,
na lâmina do desejo,
na flor de Cristo.
Paixão pela vida,
corpo sem substância,
espírito com temperança.
Não tenha pressa,
o tempo espera,
a matéria – não.
Anchieta Antunes.