Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Marcella Reis é mãe e co-autora do seu maior poema: a sua filha Vallentina. Nasceu
em 1984, em Goiânia (Goiás), Brasil, e reside em Portugal há 18 anos, na zona de Sintra. Tem duas obras editadas: «Era Uma Vez a Poesia...» (Chiado Editora, 2012) e «O Dia Em Que Pari Minha Mãe» (Edições Vieira da Silva, 2013). Foi classificada em 3º Lugar no Concurso Internacional de Contos de Araçatuba, venceu o concurso Peças de Um Minuto com a peça «Beijo de Línguas» e obteve Menções Honrosas no Concurso Literário de Goiás e no Concurso Nacional de Poesia da CICDR. Fez parte dos 4º e 5º Festival Internacional de Poesia «Grito de Mulher» (CEMD – Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora), é membro académico da ALAF (Academia de Letras e Artes de Fortaleza), participou em várias antologias poéticas e obras colectivas e é uma presença regular nas Antologias Sui Generis. Fez recentemente a sua estreia na Coordenação de obras colectivas, respondendo ao desafio de Isidro Sousa para coordenar «Saloios & Caipiras», e está a coordenar pela Edições Vieira da Silva a Antologia de Cartas & Poesias «É Urgente o Amor» e a Colectânea Natalícia «Dê Coração de Natal». É ainda Agente Literária e acaba de classificar-se em primeiro lugar no 1º concurso de prosa erótica da Silkskin Editora. O prémio consiste em publicar, sem qualquer custo, a sua primeira novela erótica: «Amantes Lepidópteras», que assinará com o seu pseudónimo erótico: Petchella, sua alcunha de criança.
“A obra é um hino de amor à vida e mostra como as relações humanas podem estreitar-se ou alargar-se através de pequenos gestos cotidianos. Depois que se nasce é possível renascer outras vezes mais.”
Boa Leitura!
Escritora Marcella Reis, é um prazer contarmos com a sua participação na Divulga Escritor – Revista Literária da Lusofonia. Conte-nos em que momento se sentiu preparada para publicar o seu livro «Era Uma Vez a Poesia».
Marcella Reis - O prazer é todo meu! Na realidade, eu escrevo desde os 5/6 anos de idade. Costumo dizer que nasci poeta e assim vou morrer e apesar de escrever desprendidamente, ou seja, sem a intenção de que aquilo que escrevo seja meramente para publicação, sempre tive o sonho de ver os meus escritos saírem da gaveta. O sonho só aconteceu em 2012, com 28 anos, quando recebi duas propostas de publicação. Algo tocou na minha alma naturalmente e eu decidi organizar alguns poemas que já tinha e fazer outros e saí atirando para todos os lados. Mandei o meu original «Era Uma Vez a Poesia» para várias editoras que pesquisei na internet e duas se manifestaram. Então eu escolhi a Chiado. Depois da primeira publicação o “caminho das águas” se abriu para mim e o percurso do meu itinenário literário foi seguindo naturalmente como o curso de um rio.
Que textos poéticos estão sendo apresentados nesta obra poética?
Marcella Reis - Os poemas são muito auto-biográficos e têm um quê de “adolescência” misturada com a minha passagem para a fase mais mulher (há poemas que fiz quando tinha 13/14 anos até aos 28). Há na obra uma ode intitulada de «(Ode)io-te Sem Triunfo» que escrevi para um amigo que eu amava perdidamente (mesmo estando casada), há também outro poema que fiz para o desastre que fora este meu casamento («Intimidade entre Estranhos»), poemas dedicados a um cão que peguei na rua («Petit»), à minha mãe («Maria Madalena», que acabou virando uma música). Agora, são muito especiais para mim o poema «Era Uma Vez a Poesia» (que fala da paixão do Poeta pela princesa Poesia que a salva com uma pena de Rouxinou escrevendo por todo o corpo da Princesa acordando-a de um coma profundo) e o poema «Coquetel de Amor» (uma carta que mistura nomes de bebidas brasileiras com portuguesas) que é conhecido como «JP» e que muitas pessoas gostam de me ouvir a declamá-lo.
O que a motivou a escrever o seu livro «O Dia Em Que Pari Minha Mãe»?
Marcella Reis - Hoje compreendo que o que me motivou a escrever essa obra foi a vontade premunitiva de ser mãe de uma menina chamada Vallentina. A heroína da trama tem este nome e é o nome que dei à minha filha que nasceu um ano depois desta ser lançada. Estava tão sedenta de parir esta obra que ela foi concebida em dez dias! Outra coisa que me motivou a escrevê-la, foi a vontade de fazer uma homenagem à minha mãe colocando-a como Bethânia, mãe da Vallentina (mãe esta que mais parecia filha do que progenitora) numa história totalmente inventada por mim e ela deu tão certo que há a continuação dela em «Bethânia... Foi Quem Pariu», ainda a terminar.
Quais os principais desafios para a escrita do enredo que compõe a obra?
Marcella Reis - Foi um grande desafio ter de me colocar no lugar de mãe sem nunca na vida tê-lo sido e de voltar a ser uma adolescente me colocando no lugar da personagem Vallentina, expondo a relação conflituosa entre mãe e filha de uma forma leve e verdadeira, até mesmo quando a mãe rouba da filha o seu primeiro amor. Outra dificuldade foi escrever sobre o cancro na mama de Consuêlo aos quinze anos, que é a irmã que Vallentina ganha e perde de repente e que serve como ponte para reencontrar o pai que um dia de certa forma a abandonara. Escrever sobre conflitos familiares, mortes e vínculos profundos é sempre um desafio que emociona!
O que mais a encanta no livro «O Dia Em Que Pari Minha Mãe»?
Marcella Reis - O que mais encanta é a poesia sempre presente na prosa. A obra é um hino de amor à vida e mostra como as relações humanas podem estreitar-se ou alargar-se através de pequenos gestos cotidianos. Depois que se nasce é possível renascer outras vezes mais. Depois que damos o nosso primeiro passo, é possível que possamos cair milhares de vezes e que não consigamos nos levantar nunca mais, se não fizermos da nossa fraqueza a nossa grande força. Com esta obra aprendi que todos os amores do mundo podem não ser Amor. Mas um só com toda a certeza é o mais verdadeiro do mundo: o amor que um filho e uma mãe sentem um pelo outro desde a barriga até além-túmulo.
Onde podemos comprar os seus livros?
Marcella Reis - Podem comprar os meus livros na Fnac, Edições Vieira da Silva, Chiado Editora, Livraria Barata, Wook (livraria on line) e nos links:
https://www.edicoesvieiradasilva.pt/index.php/livros-2/product/149-o-dia-em-que-pari-minha-mae
https://www.chiadoeditora.com/pesquisa?q=marcella
ou encomendar exemplares enviando uma mensagem para o meu email:
Soube que temos livro novo no prelo. Conte-nos um pouco sobre a sua nova obra literária «Lágrima Artificial»
Marcella Reis - Fazê-la partiu de um diagnóstico que um oftalmologista fez aos meus olhos. Ele disse-me: “Tens os olhos secos. Não tens lágrimas suficientes, Marcella. Teus olhos precisam de lágrima artificial.” E na mesma hora eu pensei para comigo: “Logo eu, uma poetisa e uma pessoa tão sensível, que tenho tanta água na alma, tenho agora os espelhos dela secos?” E partindo dessa ideia de ter muito sentimento dentro e não conseguir chorar, de existir uma sequidão na alma que carece sempre de água, de choro falso, verdadeiro, de vários tipos de choros, da temática lágrima também e da ligação que ela tem com os nossos olhos e todos os nossos sentimentos numa única gota como se a lágrima representasse a gota d’água para encher o copo, eu decidi escrever essa obra que está vinculada à lágrima e à visão num sentido mais profundo, que na verdade é apenas uma metáfora que demonstra, através da poesia, os vários tipos de sentimentos que abrigamos no dentro de nós e nesse nosso lado humano que roça o nosso lado mais instintivo.
Você tem um outro livro (em prosa) a ser brevemente publicado, resultante de um concurso de escrita erótica que você mesma venceu. Pode falar também sobre esse livro? E já tem previsão em relação à data de lançamento?
Marcella Reis - Esse livro é uma minissérie erótica dividida em dez capítulos, inspirada e baseada em dez músicas do compositor e cantor brasileiro Chico Buarque de Hollanda. A história gira em torno de um entomólogo (profissão herdada pelo pai) chamado Marco António que colecciona mulheres e borboletas. Ele apaixona-se e tem relações com a sua madrasta quando completa doze anos, traindo o seu pai em sua própria casa. E tendo ele sofrido pedofilía, mais tarde ele apaixona-se por uma de menor de nome Rosalina Mosqueta, acabando por casar-se com ela. O trauma sofrido pelo abuso na infância acaba por não permitir que ele toque em sua esposa, achando-se sujo e levando-o à loucura. “E há quem coleccione moedas, postais, selos, relógios, carros antigos. Eu colecciono borboletas e... Mulheres!” – Frase teaser da obra. Penso que será lançada este ano, pela Silkskin Editora, depois de apresentada a minha obra «Lágrima Artificial» pela Alma Lusa.
Além do lançamento do seu livro «Lágrima Artificial», você está coordenando o projeto «Saloios & Caipiras» da Sui Generis. Conte-nos um pouco sobre este projeto.
Marcella Reis - Há muito tempo que queria coordenar algo e então pensei em criar essa antologia para que de algum modo eu e os autores que nela participassem, pudéssemos fazer uma homenagem às pessoas simples e lutadoras da vida campestre do Brasil e de Portugal em forma de Contos, Lendas, Causos e Poesias. Então, ao mostrar esse projecto ao colega Isidro Sousa, ele de pronto convidou-me para coordená-lo por achá-lo muito interessante e me deu um grande voto de confiança. Nessa antologia tive o prazer de ler textos que me fizeram chorar de emoção e que me levaram a viajar no ar puro do campo e na minha simples e feliz infância que levei no Brasil. Quero agradecer publicamente ao Isidro Sousa pela oportunidade e confiança no meu potencial e por contribuir com a difusão da lusofonia.
Em sua carreira literária já participou de vários eventos. Qual foi o momento/evento que mais a marcou? Por quê?
Marcella Reis - Houve muitos momentos emocionantes até agora no meu caminho literário que não caberia em enumerações, como de livros que apresentei de amigos, de tertúlias poéticas regadas de caridade, paixão, conversas, premiações, etc... Mas o lançamento de um livro próprio é muito marcante e emocionante e me arranca lágrimas sempre. É a apresentação pública de um filho do qual demos à luz com muito carinho. O meu primeiro livro, por exemplo, foi apresentado pela minha falecida amiga e mestra (de muitos) Helena Azevedo. Foi esta força da Natureza quem apresentou às pessoas o meu “primogénito” e isso comove-me até hoje. Marcou-me esta noite de 14 de Março de 2012 no Bartô do Chapitô, regada de grandes performances de amigos que estavam ali comigo para me saudar.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Marcella Reis. Agradecemos a sua participação na Divulga Escritor – Revista Literária da Lusofonia. Que mensagem você deixa para os nossos leitores?
Marcella Reis - Aos leitores, peço que continuem a ler sempre e a acreditar nos autores desse mundo. E aos autores que sonham em publicar e seguir no mundo da escrita um dia, peço para que não se enganem ao pensar que a escrita é apenas inspiração. Escrever também requer transpiração! Há muito que trabalhar na escrita e a melhor maneira de trabalhar a sua escrita é ler muito, vários tipos de coisas, de autores, e ler-se muito também! Pesquisar, observar o mundo dentro de si e à sua volta e estar sempre actualizado. Eu, como leitora, escritora e poetisa, sinto que posso me ajudar e me melhorar a cada dia mais. Lendo e escrevendo eu me conheço mais e me reconheço também. Me melhorando posso contribuir para ajudar a melhorar o mundo, mesmo que essa contribuição possa inicialmente ou a olhos nus parecer pequena.
Blogue de Marcella Reis:
https://eraumavezapoesiamarcellareis.blogspot.pt/
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