Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
MARILICE COSTI escreve e pinta desde menina, ensina com alegria, gosta de pesquisar, inventar e aprender. É arquiteta e urbanista, mestre em Arquitetura, especialista em Arteterapia. Sempre trabalhou com processos criativos, inclusive no autocuidado.
Ministrou a primeira oficina de poesia de Porto Alegre em 1995. Em suas oficinas trata do desbloqueio da escrita e da escrita criativa, ou do cuidado através da Arteterapia.
Como artista plástica criou as capas de todas as edições da revista O Cuidador, atualmente online.
Autora de diversos livros e artigos, é também editora e faz projetos gráficos.
Coordena o Movimento Pró-Vida Assistida como voluntária, que tem como foco as moradias para pessoas com deficiências psicossociais e o cuidado também com cuidadores. É mãe de autista adulto e de mais três filhos.
Ministra também cursos e workshops, e dá palestras.
“Mas é um gatilho, eles atiram as palavras e elas, as palavras, matam. Elas podem conter trinitroglicerina. Por isso, cuidado com elas!”
Boa Leitura!
SMC - Escritora Marilice Costi, é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos como surgiu seu gosto por trabalhos literários?
Marilice Costi - Escrevo desde menina. Iniciei com poesias. Tive excelentes professores de Português e Literatura. Li muito. Quando na Faculdade de Arquitetura, um professor me estimulou a enviar um de meus textos para um Concurso de Contos e tirei o primeiro lugar. Daí em diante foi continuar, fiz oficinas de escrita criativa... e segui.
SMC - Fale-nos sobre o seu romance “Gatilho nas palavras”? Como foi a escolha do Titulo? Em que perfil você se inspira para a construção dos personagens desta obra?
Marilice Costi - A escolha saiu naturalmente. Duas pessoas na internet tentando se comunicar e amar. Ela mais que ele. A dificuldade no relacionamento foi porque havia uma patologia, algo que é difícil de perceber à distância, mas que ao escrever percebi melhor. Esse texto pode auxiliar as pessoas, porque o seduzir e o afastar são típicos de doença mental, de homens que não se entregam para uma relação amorosa. Na internet também existem relacionamentos complicados. Além disso, ao escrever um texto, nós nos projetamos nele com nossos sentimentos e sensações. A mulher no livro também se enrola, querendo que o amor dê certo. Ele é uma pessoa que acredita em Darwin, argumenta tudo, desejando a poligamia. São muitas coisas que tornam a relação num gatilho, eles atiram palavras pela internet e elas, as palavras, podem matar. Elas podem conter trinitroglicerina. Por isso, cuidado com elas!
SMC - Marilice, conte-nos sobre o seu livro “Como controlar os lobos? proteção para nossos filhos com problemas mentais”, que tema você aborda?
Marilice Costi - O tema é a família que segue ao redor de um filho com deficiência mental/intelectual. Relata de modo literário como é difícil cuidar e como a família está desamparada. Questiona o sistema de saúde público e o sistema privado, o cuidado inadequado aos familiares e a vulnerabilidade dessas pessoas deficientes, quando utilizadas também para tráfico de drogas. Estou escrevendo a continuação desse livro e outro para cuidar de mães, as que são mais abandonadas (pelos maridos, pelos filhos, pelos amigos... pelos vizinhos, pela sociedade). Escrevi o livro como num jato, em três horas, após trocar o voo do meu avião numa viagem que fiz ao Rio de Janeiro.
SMC - De forma geral que mensagem você quer transmitir através de seus textos literários?
Marilice Costi - A humanidade está presente em todos os meus livros. Procuro escrever com o coração e sou sempre motivada por situações que me tocaram, sejam as minhas, como é o caso de Como controlar os lobos? , sejam as de outras pessoas com os demais livros – o de contos e o romance. A vida é complexa e as relações afetivas são importantes em qualquer momento, sejam elas de amor, de amizade ou de sofrimento. A vida é composta das duas, por isso sempre saio de um momento depressivo para o outro, a alegria, como é o caso de “Mulher Ponto Inicial” e “Ressurgimento”. Ganhei o Prêmio Açorianos 2006. Essa poesia foi largada em dois momentos apenas, foram dois dias, um poema cada dia, por necessidade minha. Tratei da dor da perda e do renascer, das trevas e da aurora num fluxo único, depois foi apenas trabalhar em trechos, que podem ser lidos individualmente, mas eles são um todo, uma continuidade. Tem a ver com minha história com uma calopsita, que morreu cheia de feridas, e que foi minha companheira de mesa de trabalho durante meses no meu mestrado.
SMC - Onde podemos comprar os seus livros?
Marilice Costi - Através do site www.ocuidador.com.br eles podem ser encontrados. Basta solicitar ali, onde também estão releases e opinião de diversos leitores.
SMC - Quais os seus principais objetivos como escritora?
Marilice Costi - Escrevo porque é vital em mim, escrever é necessário e trabalho muito para deixar um livro pronto. Não estou preocupada com o mercado, estou preocupada em registrar minha aldeia. Gatilho nas palavras levou dois anos com muita revisão. Não mudaria uma vírgula.
Tempos Frágeis, contos, relata histórias desde a década de 70. Mostro ali a vulnerabilidade humana em períodos bem diferentes, com suspense ou tensão, o que é fundamental num conto. São temas e dores humanas que me tocaram profundamente.
SMC - Você, hoje ministra cursos, oficinas e palestras, que temas você aborda em seu trabalho?
Marilice Costi - Abordo e estimulo a criatividade especialmente. Considero a criatividade e a escrita coisas da alma e temos que ter delicadeza no trato com quem se expressa com a escrita. Tanto o escritor como o aluno, que é quem começa, são pessoas especiais e singulares. Não dá para tratá-los igualmente, é preciso que se descubram em suas diferenças. Aqui é que está a riqueza humana. Já cuidei com Arteterapia de muitas pessoas devido a bloqueios ocasionados em situações de aprendizagem em oficinas. Eu mesma sofri muito com algumas delas. Mas passei por cima e aprendi como não fazer. Considero a escrita algo que vem das profundezas da alma, tem a ver com nossa mãe, o início de nossa comunicação, a nossa linguagem lá no olhar e na voz. Respeito e cuidado com o texto do outro é fundamental! Além disso, a Literatura registra o espírito da sociedade. É preciso valorizar esse caminho permanente que ela tem e o quanto é importante na vida das pessoas.
SMC - Quem desejar contrata-la como deve fazer?
Marilice Costi - Por e-mail – marilice@ocuidador.com.br
SMC - Conte-nos sobre seu trabalho com a Revista O CUIDADOR quais os principais objetivos, quem pode participar?
Marilice Costi - A revista O Cuidador é meu projeto de vida, um modo de cuidar coletivo, de levar a sabedoria do cuidado a todos os cantos, de registrar o valor do cuidador e informar cuidadores, que somos todos nós, e dar-lhe suporte para que possam cuidar de alguém. Qualquer pessoa pode participar do projeto desde que seu texto esteja no foco do cuidado e autocuidado. Não importa a graduação, aliás, sempre procuramos dar “voz a quem não tem voz”. Temos um conselho editorial que é muito sensível à expressividade das pessoas. A revista é de construção de vida, de registro da sabedoria do cuidado na coletividade. Já são 5anos e então fizemos uma edição comemorativa, quando me dei conta que foram mais de 200 pessoas que colaboraram com amor e deram o seu melhor. Mais informações podem ser encontradas em nosso site – O Projeto, assim como informações para adquiri-la parcelada ou à vista.
SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?
Marilice Costi - O Mercado é muito complexo e oscila muito. O leitor é bombardeado por grandes editoras e também por muita coisa que não possui trabalho literário. Perdeu muito de sua capacidade crítica devido às escolas. O leitor raramente aposta em novo escritor. Busca sempre os nomes tradicionais no mercado. O bom é que existem projetos importantes como os que levam o autor em sala de aula. É preciso estimular a leitura, construir mais bibliotecas e aproximar o escritor dos leitores nas escolas. São ações fundamentais, que são de ação pública, de decisão política. O Governo em todas as instâncias tem um papel importante.
SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor a escritora Marilice Costi. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Marilice Costi - Que escrevam sempre que puderem para registrar sentimentos e percepções. Escrever clareia os pensamentos, desenvolve o raciocínio lógico, causa alívio. E que leiam bons livros. Nossa saúde mental está muito dependente nesse movimento da leitura e da escrita. A humanidade está nessa possibilidade: a de nos reconhecermos na literatura do outro e na nossa.
Site e blog para contato com a escritora.
www.marilicecosti.blogspot.com
Porto Alegre/RS – e-mail: editora@ocuidador.com.br
Participe do projeto Divulga Escritor
https://www.facebook.com/DivulgaEscritor