Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Mário de Méroe é advogado em São Paulo, Membro Catedrático da Academia Brasileira de Ciências Sociais e Políticas, e Doutor honoris causa em Ciências Sociais. Possui trabalhos jurídico/dinásticos publicados, destacando-se os livros Tradições Nobiliárias Internacionais e sua Integração ao Direito Civil Brasileiro, Estudos de Direito Nobiliário, e A Perpetuação das Qualidades Soberanas em Dinastias ex-Reinantes. No campo histórico-eclesiástico apresentou o estudo “A Teocracia Bizantina na Itália: Estudos sobre os atributos de Soberania da Real Casa de Margiana e Arachosia, dinastia teocrática de direito histórico, em exílio”, veiculado na Itália. Por esse trabalho, recebeu reconhecimento acadêmico com o grau de Doutor em Direito Eclesiástico, bem como a atribuição da “Medaglia del Presidente della Repubblica Italiana Giorgio Napolitano”, conforme amplamente veiculado pela imprensa daquele país.
“Ora, nobiliarquia é coisa séria, e a boa doutrina traça regras claras sobre o regular exercício dos direitos dinásticos, que a maioria desconhece. Eu não sou palmatória do mundo, mas a título de orientação básica, elaborei dois livros com linhas gerais sobre nobiliarquia e títulos nobiliárquicos, sua natureza, características formais e regras históricas de sucessão.”
Boa Leitura!
SMC - Escritor Mário de Méroe, é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, você começou escrevendo livros na área Jurídica, vejo que hoje escreves romance. Como foi que ocorreu esta mudança de gênero em sua carreira literária?
Mário de Méroe - Não foi uma mudança radical, mas um desdobramento. Na área jurídica, eu escrevi sobre Direito Nobiliário, que é incomum no Brasil, mas operacionalizado em países monárquicos, como a Espanha. Ocorre que alguns princípios do Direito Nobiliário tradicional encontram-se em franco antagonismo com a moderna consciência sociopolítica de igualdade de direitos. A nobiliarquia é, necessariamente, discriminatória, pois obedece a alguns padrões tradicionais, como “o homem precede a mulher”, “o primogênito precede os outros irmãos”, etc. Esses conceitos não mais são aceitáveis na era atual, o que pode gerar contendas judiciais. Então decidi observar as tendências por algum tempo e, nesse interregno, dedicar-me à outra “área de produção” que muito me agrada, que é a elaboração de romances baseados em passagens bíblicas.
SMC - Você pensa em negociar com a Editora uma nova Edição para seu livro “Estudos sobre Direito Nobiliário”, que esta esgotado?
Mário de Méroe - Possivelmente esse livro seja absorvido por um projeto maior, denominado “A Lendária Etiópia – A Casa de Salomão e da Rainha de Sabá”. Esse livro possui duas partes. Na primeira, faço uma incursão sobre a Etiópia monárquica, ressaltando a figura lendária do Imperador Hailé Selassié I (que visitou o Brasil em 1960), e sua sucessão dinástica, em exílio. Na segunda parte, há diversos trabalhos sobre Direito Nobiliário e Jurisprudência correlata, aproveitando-se as partes principais do livro Estudos sobre Direito Nobiliário.
SMC - Por gentileza, nos explique o que é direito Nobiliário e de que forma irás agregar este conceito ao livro?
Mário de Méroe - Vou resumir um conceito, extraído de meu livro. Direito Nobiliário é um conjunto de normas reguladoras dos atos e relações jurídicas emanadas das cartas de nobreza (Decretos que concedem um título de nobreza). Tem sua origem no poder estatal, nas estruturas monárquicas, onde o rei é o titular do "Ius conferendi" (Direito de conferir honras), e na faculdade de nobilitar reconhecida aos chefes dinásticos de casas reais ou ex-reinantes. A fonte do Direito Nobiliário encontra-se na carta de nobreza. De seu conteúdo emergem as relações entre o poder concedente e o agraciado e, entre este e seus herdeiros (se o título for hereditário).
Esse conceito e suas implicações serão agregados ao livro "A Lendária Etiópia...." em razão do livro basear-se na Etiópia do período monárquico. Com o fim desse regime, mesmo perdendo o poder territorial, os descendentes do imperador continuam de posse dos chamados "direitos dinásticos", e podem conceder honrarias nobiliárquicas. Essa atividade dinástica é regulada pelo Direito Nobiliário. Na segunda parte do livro, há diversos trabalhos sobre o tema, que ajudarão a ter uma ideia clara dessa complexa matéria.
SMC - Quais os principais conceitos apresentados em seu livro “Tradições Nobiliárias Internacionais e sua Integração ao Direito Civil Brasileiro” ?
Mário de Méroe - No Brasil e em muitos outros países, há centenas de “príncipes” (entre aspas mesmo!) que ostentam pomposos títulos dinásticos sem procedência, e mercantilizam títulos nobiliários, enxovalhando o verdadeiro conceito da nobreza. Uma consulta ao Facebook comprova o que afirmei. Ora, nobiliarquia é coisa séria, e a boa doutrina traça regras claras sobre o regular exercício dos direitos dinásticos, que a maioria desconhece. Eu não sou palmatória do mundo, mas a título de orientação básica, elaborei dois livros com linhas gerais sobre nobiliarquia e títulos nobiliárquicos, sua natureza, características formais e regras históricas de sucessão. Incluí um capítulo de jurisprudência nobiliária moderna (Espanha e Itália), e as questões nobiliárias que nesta Era podem ser levadas aos tribunais. Mas, especialmente, o livro esclarece quais as autoridades que podem validamente conceder títulos de nobreza e brasões de armas (acho que não adiantou, pois o número de “príncipes” continua aumentando...). Por último, ilustra os pontos jurídicos que podem integrar-se ao Direito Civil Brasileiro, como a adoção de predicado nobiliário e os direitos do nome.
SMC - Vamos falar um pouco sobre seus romances. “O Refúgio – A saga da prostituta que cruzou o caminho de Jesus” é um livro baseado em estudos bíblicos ou é fictício? Conte-nos um pouco sobre a construção desta obra.
Mário de Méroe - Ele é o primeiro de uma trilogia de romances baseados em passagens bíblicas, mas sem doutrinamento. Os três livros são baseados na história bíblica, e suas narrativas foram desenvolvidas em direção à espiritualidade. Para preencher os “claros” e estruturar melhor a narrativa, precisei recorrer à ficção, a chamada “verdade latente” mencionada por Clarice Lispector. O Refúgio procura mostrar a figura de um Jesus sem preconceitos, que procura incluir os excluídos, para quem todos os seres humanos são iguais. Embora lançado em 2010, ele está em consonância com a doutrina social adotada pelo atual Papa Francisco,
SMC - Mário, que mensagem você pensou em levar ao leitor ao escrever “O Estigma – Desvendando o segredo da lança que profanou o corpo de Jesus” ?
Mário de Méroe - Nesse volume, foi recriada a saga ficcional do legionário romano que perfurou o corpo de Jesus com a lança, para constatar sua morte. A história se inicia com um casal moderno, no qual o homem sente desconfortos físicos não explicados pela medicina tradicional. No desenrolar dos acontecimentos, ele é levado a fazer uma terapia de vidas passadas, na qual se evidencia a estreita relação dos sintomas físicos de hoje, com algo ocorrido na época da crucificação de Jesus. Procurei levar uma mensagem de otimismo, perseverança mesmo diante de terríveis obstáculos, que nos põem à prova, para a evolução do espírito. Há um forte apelo espiritual, sem sugerir nenhuma corrente ou ideologia.
SMC - Quais os seus próximos projetos literários? Soube que vem vindo um novo romance.
Mário de Méroe - Sim, é verdade. O último livro da trilogia, denominado O Outro, já encontra-se na etapa final na Editora Paco. Nele recriei a saga do salteador que foi crucificado à esquerda de Jesus. Ele é mais conhecido como o “mau ladrão”, de quem ninguém fala! A trama é uma junção da ficção com a espiritualidade, tendo por base a pequena passagem bíblica a respeito desse personagem.
Há, também, em estágio avançado, o trabalho intitulado “A Lendária Etiópia – A Casa de Salomão e da Rainha de Sabá”, que pretendo concluir até o final deste ano.
.
SMC - Onde podemos comprar os seus livros?
Mário de Méroe - Os livros estão disponíveis em muitas livrarias, entre elas a Livraria Cultura, Saraiva, Martins Fontes, etc. Podem ser adquiridos diretamente da Livraria Virtual na página da Editorial Paco, pela internet.
Há, também, diversos trabalhos digitais veiculados pelo Jornal Brasileiro de Cultura (www.jbcultura.com.br), incluindo dois pareceres jurídico-dinásticos que elaborei.
Livraria Divulga Escritor
https://www.divulgaescritor.com/vendas-de-livros/
SMC - Quais os principais hobbies do escritor Mário de Méroe?
Mário de Méroe - Tenho hábitos simples, e passo a maior parte do tempo pesquisando e escrevendo. No mais, pratico caminhadas, leitura, treino Arco e Flecha, e assisto bons filmes.
SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?
Mário de Méroe - Considero um mercado que está abrindo suas portas para novos talentos. O Governo Federal criou mecanismos para incentivar, entre outras, essa área do conhecimento, como a Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313/1991), conhecida também por Lei Rouanet, cuja base é a promoção, proteção e valorização das expressões culturais nacionais, e surgiu para educar as empresas e cidadãos a investirem em cultura; a isenção de impostos sobre o papel destinado a produção de livros, prestigiou a iniciativa privada, etc. Há muitas pequenas editoras que foram viabilizadas por essas medidas. Isso se reflete no incentivo a novos escritores e artistas plásticos, que vejo surgirem no mercado, enriquecendo-o com suas criações.
SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor, muito bom conhecer melhor o Escritor Mário de Méroe, que mensagem você deixa para nossos leitores?
Mário de Méroe - Permita-me utilizar uma frase do ilustre escritor Paulo Coelho, muito apropriada:
“Quem deseja ver o arco-íris, precisa aprender a gostar da chuva” (in O Aleph).
Essa lição nos ensina a ter dedicação e coragem. Dedicação, pois a inspiração pode não surgir subitamente. Às vezes, é necessário aguardar o surgimento do insight; então reunir coragem para criar e para expor sua obra. O escritor deve lembrar-se de que não escreve para ninguém em particular, mas para um público indeterminado. Quem escreve ou elabora alguma obra de arte inevitavelmente se expõe a críticas injustas, à inveja, chacotas, etc. A motriz dessa faceta humana oculta é, invariavelmente, a inveja. Costumar partir de alguém (às vezes, um “amigo”!) que gostaria de escrever ou pintar mas não foi dotado de talento para tal, ou sentiu-se afrontado por não ter o necessário instrumental linguístico para expor suas ideias com clareza. Minha modesta sugestão: Tenha sucesso. Alguém já disse que “o sucesso é a melhor vingança”. Se alguém o depreciou sem intenção, ficará contente com seu sucesso. Mas se o fez por maldade (o mais provável, infelizmente!), certamente sofrerá em seu íntimo o efeito bumerangue da inveja, sem que você tenha praticado nenhum ato deselegante. E, parafraseando o notável colunista da BandNews, Salomão Schvartzman, no final de seus programas: Seja feliz!
Participe do projeto Divulga Escritor
https://www.facebook.com/DivulgaEscritor