Mariza Sorriso - Entrevistada

Mariza Sorriso - Entrevistada

Por João Paulo Bernardino

 

A cantora, compositora, atriz, poeta e locutora, Mariza Sorriso é petropolitana, residente no Rio de Janeiro desde 85.  

Herdou de sua mãe, o gosto pela música e foi com ela que aprendeu a cantar. 

Com apenas  4 anos subiu ao palco para declamar, aos 7 para apresentar-se no teatro e aos 8 para cantar pela primeira vez.

Foi na adolescência que começou a escrever e a participar de festivais estudantis de música.

Na música foi apresentada a noite carioca pelo cantor e compositor Nelson Sargento, em 1987, com quem fez diversos shows até 1996.

Atriz formada pela escola  Le Mond de Formação de Atores em  2007/2008 – DRT 40382

Autora,  intérprete e produtora fonográfica associada a AMAR  - 17787/11

Locutora formada pelo SENAC em 2007 – DRT 16065,  tendo produzido e apresentado programa próprio: E você, como vai?, na radio Mare Manguinhos - FIOCRUZ, que tinha como público alvo, pessoas da comunidade da Maré 2007/08.
Bacharel em Ciências Econômicas formada pela UCP – 1983.

Técnico em Contabilidade – Colégio Padre Corrêa – Petrópolis - 1978

 

“O Brasil é um um filho de Portugal e portanto vem de Portugal a nossa base cultural. Penso porém que a miscigenação de vários povos e o clima nos tenha tornado mais expansivos e que a  história das navegações e o clima tenha tornado o povo português um pouco mais reservado e melancólico.”

 

Boa Leitura a todos!

 

JPB- Os meus sinceros agradecimentos por conceder esta entrevista à DIVULGA ESCRITOR, o que nos deixa muito honrados. Nesta edição especial dedicada apenas a escritores portugueses, quisemos abrir uma excepção e os leitores saberão a razão. O Brasil deixou de ser colónia portuguesa há pouco mais de 200 anos. No entanto, ainda hoje a cultura atravessa a distância além-mar e mantém os dois países unidos mas «a diferença que existe entre Portugal e o Brasil de hoje é a mesma diferença que existe entre o fado e o samba», dizem por vezes. Concorda com esta expressão tantas vezes falada, já que conhece ambas as realidades?

Mariza Sorriso -  Concordo. O Brasil é um um filho de Portugal e portanto vem de Portugal a nossa base cultural. Penso porém que a miscigenação de vários povos e o clima nos tenha tornado mais expansivos e que a  história das navegações e o clima tenha tornado o povo português um pouco mais reservado e melancólico. Essa mesma correlação acontece entre entre o fado e o samba. São estilos musicais que têm  sua  origem na modinha portuguesa, portanto com o ingrediente sentimento bem acentuado. Ao samba acrescentamos o lundu africano. Há quem diga que também o fado tem a raiz no lundu. Porém o ritmo impresso e os instrumentos utilizados em ambos os estilos musicais é que produzem a principal diferença. Enquanto no samba a letra e a percussão nos conduz diretamente para um estado mental de alegria, no fado, a letra e os acordes da viola clássica nos embala para  a melancolia, paixão, ternura. Amo os dois, fado e samba!

 

JPB - Uma amiga sua chamou-a de “poeta, cantora, actriz, sonhadora e bela senhora”. O actor e poeta carioca Eduardo Tornaghi comentou ainda de que “a poesia de Mariza está antes do que ela escreve, no que ela é: um enorme, lindo e cativante Sorriso”. Como se sente o seu ego quando alguém fala de si desta forma tão sublime e cativante?

Mariza Sorriso - Sinto-me muito feliz, tanto com o ego quanto com o espírito. Pois se o ego necessita de elogios para existir, também o espírito necessita de Amor para se expandir. Porém o que busco mesmo é ser amada e ainda que o elogio não existisse, existindo o Amor bastaria para que eu me sentisse validada como Ser. É por isso que sou artista. O meu desejo é que a minha arte encontre e toque o coração de cada pessoa, seja lendo os meus poemas, seja ouvindo-me declamando, cantando, ou mesmo actuando. É isso que me move.

 

JPB – Esteve recentemente em Portugal no 1º Encontro de Poetas da Língua Portuguesa – entre o Fado e o Samba, com poetas de Portugal, Angola e Brasil, promovendo as culturas de todos esses países. Enquanto brasileira, que diferenças encontra na cultura de Portugal e do Brasil e como vê a cultura em Portugal no momento mais conturbado da nossa nação, com uma crise acentuada que demove a Educação e a Cultura?

Mariza Sorriso - Tive a alegria de ter um sonho meu concretizado pela Editora Paula Oz, ao fazer acontecer o “Encontro de Poetas da Língua Portuguesa Entre o Fado e o Samba”, em Setembro último, em Lisboa.

Do Brasil vieram poucos poetas, todos com recursos próprios. No meu país, como acredito acontecer também em Portugal, a Arte e a Cultura ainda estão longe de ter a sua real importância reconhecida. Hoje vejo com bons olhos o surgimento de uma nova geração de fadistas em Portugal e de sambistas no Brasil, para que assim possam ser perpetuados esses dois estilos musicais, considerados Patrimónios Históricos Imaterias da Humanidade (o samba desde 2005 e o fado desde 2010). Observo ainda, um movimento literário muito grande em relação a poesia no Brasil inteiro, por parte de todas as faixas etárias. Fico muito feliz que a poesia esteja na moda novamente, assim nós os poetas teremos sempre mais espaços para mostrar nosso trabalho. Em Portugal percebo esse movimento um pouco mais tímido, e não tenho visto muitos jovens nos meios poéticos, embora esteja a observar um crescimento no número de Tertúlias.


JPB - Integrada ao projecto “Ano de Portugal no Brasil”, houve em Brasília o espectáculo inédito “O mundo é de quem não sente”. A peça usou dois elementos típicos de cada país: o fado e o samba. A figura do sambista ficou no imaginário social ligada à figura do malandro. No fado, ao contrário do samba, no imaginário fadista a mulher canta de olhos fechados e usa algumas vezes vestidos longos e sempre um xale nos ombros. Para quem canta frequentemente estes dois estilos como a Mariza Sorriso, como você consegue tocar estes dois pólos que, à primeira vista, parecem tão distantes? Que sentimentos lhe passam pela alma e como julga que eles chegam a quem a escuta?

Mariza Sorriso - Não sou fadista, sou cantora de Música Popular Brasileira que inclui também o samba. Mesmo arriscando cantar um fado de vez em quando, não tenho pretensão de sê-lo, pois falta a vivência de quem nasceu no fado e também o sotaque. Entretanto, no meu repertório tenho muitas músicas românticas, que tocam minha e a alma do público. Invariavelmente interpreto essas músicas de olhos fechados, como é o caso por exemplo de Todo Sentimento do Chico Buarque e o samba-canção As Rosas Não Falam, de Cartola. São músicas que falam da paixão, da saudade, do infortúnio.
Já o samba, na sua maioria das vezes, mostra um quadro mais alegre, que somado ao ritmo e a batida  estimulante, é mais aberto, expansivo. De qualquer forma, sempre que me apresento, preciso perceber que o público está sentindo comigo aquilo que estou cantando. Se é uma música sentimental, que eles se envolvam na aura sentimental. Se for um samba que fale da alegria, que eu os contagie com a alegria.

 

JPB – A sua poesia é, em grande parte, virada para a Fé e a Esperança, para o amor a Deus e a relação com todos os seres. Para um ateu ou agnóstico, de que forma crê que ele conseguirá ele entender a sua mensagem? Como pensa que os cativa e eleve a sua poesia a outros tantos leitores?

Mariza Sorriso - Eu escrevo sobre todos os seres: humanos, natureza, planeta, divinos. Meu mote é levar Fé e Esperança através da minha arte. O ateu só não acredita em Deus, mas acredita na vida. Todas as características humanas existe dentro de um ateu, inclusive o sentimento. Eu conheço pessoas agnósticas e ateus que adoram poesia, se sensibilizam com as questões sociais, que trabalham pela preservação do planeta e o melhor de tudo, se apaixonam. Brilham-lhe os olhos do mesmo modo que os crentes em Deus. É para essas pessoas que escrevo e canto,  para todas que se se deixam tocar pela minha arte. Afinal, Deus está em todas as coisas e pessoas. Deus é o Todo. Independente de alguém acreditar ou não.

 

JPB – É formada em Ciências Económicas, cantora, compositora, poetisa, actriz. Um dia escreveu de que “há quem nasça para ser poeta de ideais” e de que “não conquistamos sozinhos os nossos sonhos, em primeiro lugar contamos com Deus que nos sustenta, mostra o caminho e orienta. Em segundo lugar os amigos e a família, muitas vezes nessa ordem mesmo, que nos impulsionam para frente cada vez que mostram admiração, validação, respeito e fé pelos nossos sonhos.“ Imagine-se privada de tudo isso... Quem seria a Mariza Sorriso? Nasceria uma poeta de ideais? Quem seria na verdade?

Mariza Sorriso - Simplesmente não existiria. Seria outra pessoa. Comecei muito novinha no palco. Tinha apenas 4 anos quando o experimentei pela primeira vez. Não sei ser diferente. Acredito que só existimos a partir do outro e das relações com todos os seres. Nunca me imaginei sem o Espírito de Amor me orientando. Também não sei o que seria se não tivesse o retorno do público ou do leitor. Aí de mim, se não existissem os amigos. Simplesmente não seria a Mariza, não seria artista, teria outra profissão. Mesmo enquanto estive exercendo por 16 anos a função de economista numa grande empresa, mesmo lá eu era conhecida como a Mariza cantora. Também me sirvo da arte para tocar as pessoas e levar esperança e fé, como já disse antes. No meu poema Pescaria digo ‘Ando pescando gente. Pessoas andam famintas de serem vistas’. Quanto a frase “há quem nasça para ser poeta de ideais” foi uma qualificação escrita, pelo poeta Emanuel Lomelino, em relação a mim, na Colectânea Entre o Fado e o Samba, não é minha.

 

JPB – A mulher “Com um sorriso especial, conquista e dislumbra/E é na flor da paixão, que a poetisa brilha para todo o mundo/Com um sorriso de mil sóis e olhos de menina” (como alguém a definiu) é na verdade a mesma mulher que pede para “que Deus continue abençoando a todos, os amigos, a família, os amigos virtuais, os seres humanos todos, sem excepção, no planeta. Que Deus abençoe também o planeta. Que tudo seja de acordo com a Sua vontade e que tenhamos sabedoria para receber essa vontade com amor.”? Deus é na verdade a sua essência enquanto mulher tão virtuosa, Aquele que lhe dá esse sorriso permanente? Comente.

Mariza Sorriso - Sim. Somente Ele é capaz de manter a nossa alegria, nossa paz e nossa luz interior. Capaz de nos fazer sorrir. Ele é a fonte de toda a Abundância. Também é Nele que confio sempre, para tudo que me acontece incluindo as frustações. Quando peço que Ele nos conceda sabedoria para reconhecer a Sua vontade, devo acrescentar também que nos conceda aceitação.  Tenho tido muitas provas na minha vida, de acontecimentos que se mostram ruins no momento que ocorrem, e quando passam, percebo perfeitamente que me foi tirado algo menor, para que eu tenha possibilidade de atingir algo maior. Entretanto, reconhecer a Sua vontade, significa fazer também a parte que nos cabe.

 

JPB “Mariza Sorriso irradia a sonoridade da poesia, sonhos, memórias perfumadas, realidades e histórias, a paz no reino da beleza não esquecendo a natureza, o universo, os olhos do luar”, palavras da editora Paula OZ. Confesso-lhe que a pergunta seguinte é da minha inteira curiosidade, dado que um dia testemunhou em poema “Preciso me reintegrar/Tenho sido vários rios a desaguar/É hora de voltar a ser mar.” Quando é que a Mariza Sorriso chora? O que a leva a chorar verdadeiramente, de corpo e alma? O que sente nesses momentos e o que faz para os ultrapassar?

Mariza Sorriso - Quando digo que é hora de voltar a ser mar, falo do sentimento de totalidade, de inspiração, de luminosidade, enfim, tudo o que nos remete quando observamos o mar. Quando é que eu choro? Choro sempre! Sou pura emoção. Quando não choro para fora, choro para dentro. Mas prefiro mostrar o meu sorriso, pois essa é a minha melhor face. Fico mais bonita. Se “os olhos são os espelhos da alma”, no sorriso, a alma sai voando por ele. Mas sempre fui um misto de sensibilidade e de alegria. Costumo chorar do nariz para cima e sorrir do nariz para baixo. E o que me faz chorar é a injustiça com as outras pessoas, com os animais, com a natureza, comigo. Também a violência, a fome, a miséria, o desamor, a exclusão, a rejeição, a invalidação. Tudo isso me faz chorar. O que me faz ultrapassar? Uma força me impulsiona, vou em direcção à vida. Além disso a entrega das minhas impotências nas Mãos de Deus e o compartilhar de experiências com pessoas dignas de confiança, chá quentinho, colo e afecto costumam ser infalíveis.

 

JPB – O seu show "Rio de Todas as Cores", tem sempre censura livre e entrada franca, expressão que considero demasiado interessante, homenageando a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. Ao longo de cerca de 90 minutos, eleva a sua cidade, as suas nuances e cores, os melhores pontos turísticos, e sobretudo os ritmos e a alegria. Por outro lado, enquanto escritora do seu livro “Na Flor da Paixão” e aproveitando o Prefácio de Mariete Lisboa Guerra, “a Mariza Sorriso desprende-se e goza a liberdade de escrita fora de todas as regras, estando a paixão nas suas mãos”. Afinal, quem é a cantora e quem é a escritora?  O que nos quer transmitir numa e noutra arte?

Mariza Sorriso - Cada trabalho que realizo tem uma  motivação, um impulso. A maioria deles tem censura livre. Entrada franca, só quando tenho patrocínio, o que é muito raro. O show Rio de Todas as Cores, é o show de divulgação do meu CD de mesmo nome, é um trabalho bem rico de informação e cultura. Ainda pretendemos apresentar esse show em escolas. Com o músico Fábio Pereira, no show Mariza Sorriso de Mulher pra Mulher, eu interpreto clássicos que fizeram sucesso nas vozes de divas. É um show bem divertido, eclético e também instrutivo. O meu livro Das Raízes do Coração lançado em 2013, embora sendo um livro de poesia, tem-se tornado um “livro de cabeceira” de alguns leitores que afirmam sentirem-se melhor quando o lêem. Esse retorno do leitor e a experiência que tive com um programa de rádio que apresentei durante quase dois anos aqui no Brasil,  tem-me estimulado a preparar outro livro com poesias direccionadas à auto-ajuda. Já o livro Na Flor da Paixão, que acabo de lançar em Lisboa, pelas Edições Oz, fala das minhas várias paixões, entretanto, a minha poesia, mesmo as que falam de paixão são profundas, intensas, porém subtis.  

 

JPB- A nossa entrevista chegou ao fim e creio que ficou bem definido o porquê desta bela excepção que abrimos com muita honra, pois ficou bem patente para os nossos leitores, através do seu próprio conhecimento e experiência, a ideia das diferenças e/ou semelhanças entre ambos os países. Por isso, agradecendo antes de mais a consideração que nos deu com a sua disponibilidade, gostaria de terminar com uma pergunta muito simples: O que diz o seu sorriso?

Mariza Sorriso – O meu sorriso mostra a alegria da minha alma,  a minha ânsia por viver e a vontade de transmitir isto aos outros seres humanos. Ao terminar gostaria de deixar a todos o meu ‘ABRAÇO – Há braços e também coração. Deve ser por isso, tão bom!’

 

Contatos com a escritora:

https://www.facebook.com/marizasorrisooficial

msorriso.producao@hotmail.com

https://www.marizasorriso.com.br/

 

Contato com o entrevistador João Paulo Bernardino (JPB)

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