MENSAGEM
Em que mãos, chão, hemisfério ou simples pedra,
O grito acordarei.
O mar, o céu – silenciosas testemunhas – e o papel onde rabisco este versos.
O sol grelhando a carne tenra. Como tantos outros, afundaremos.
Sou réu de um país em chamas, clamo justiça, peço paz.
Na face, caminhando livre, a dor cada vez mais forte.
Cravo os dedos no lenho podre
E já sinto as asas de anjo que esvoaçam a carne martirizada.
Guardarão na praia os restos desta barca.
Gritos propagam a onda que nos cerca
Ténue é a esperança. E o vento,
O vento, zurzindo como chicote apodera-se das sombras.
Se a mensagem chegar intacta
Se o vidro não partir
Se me lerem, talvez noticiem…
E o mundo saberá de mortes às mãos da ganância.
De agonias salgadas, sequiosas, submersas…
De corpos inertes e molhados sobre a praia
No fenecer da hora…
Às águas lanço estas letras. O meu legado.
E se te chegar, lê, divulga, abraça.
Depois, devolve-o ao mar e deixa-o partir de novo!
Conceição Oliveira
In, TEMPLO de PALAVRAS (2)
Antologia de poesia e prosa - poética contemporânea Portuguesa
Editorial Minerva