MERCADOS
Mirian Menezes de Oliveira
Transito por shoppings, mercados e feiras livres, razão pela qual não hesito em afirmar que os últimos exercem enorme fascínio sobre mim.
Não há nada mais prazeroso do que “ziguezaguear” entre bancas coloridas; sentir aromas agridoces; contemplar pomares suspensos; apalpar frutas e folhas.
“Vai maçã aí, patroa?”
“Olha o peixe fresco! Um quilo, madame?
E a barraca dos pastéis? Esta é a preferida de A ao Z. Ponto democrático, calórico e delicioso, onde consumidores se lambuzam, sem medo!
Há também algo muito atraente: o desprendimento e os “gritos de guerra”, que se misturam num diálogo maluco e espontâneo.
_ AGULHA DE DESENTUPIR O FOGÃO!
_ CALÇA LEE, CALÇA LEVIS, BISCOITO SALGADO E DOCE!
Os gritos soam em ritmos diferentes, numa sinfonia, concomitantemente, anárquica e harmônica:
_ Aqui tem caldo de cana GELADINHO; aqui é gostoso e é DOCINHO!
Mercados e feiras são lugares, onde se pechincha, onde se interage, enfim, onde se lê com todos os órgãos dos sentidos. Desde a pimenta malagueta, até o pote de doce de leite, há milhares de histórias embutidas nas cores, texturas e cheiros.
_ Olha a manga, freguesia! Preço BOM!
Essa é uma “bagunça” da qual “faz gosto” participar!
Pois acho que foi de um desses recintos que escapou um feirante muito louco, que tive o prazer de observar.
Digo “escapou”, porque ele optou pela carreira “solo”, longe dos aromas e gritos entrelaçados. Com seu jaleco, impecavelmente, branco passou a vender trufas e bombons, nos pontos de ônibus.
Todos os dias, aos finais de tarde, punha-se a gritar o DISCURSO DE GUERRA, tamanha era a vibração de sua voz:
_ SENHORAS E SENHORES, BOA TARDE! COMPREM MINHAS TRUFAS E BOMBONS, DA MAIS ALTA QUALIDADE, FEITOS COM MUITA HIGIENE E CUIDADO. TENHO DOCES DE VÁRIOS SABORES, ETC E TAL...
O discurso era tão grande, que o ponto de ônibus se esvaziava em questão de segundos e nosso amigo tinha que reiniciar sua fala, para os que chegavam. Conclusão: não conseguia disputar o tempo com os ônibus e harmonizar a questão das vendas. Cansado de repetir seu discurso, todos os dias, sem grandes resultados, num início de noite, resolveu APELAR:
_ PELO AMOR DE DEUS, COMPREM MINHAS TRUFAS E BOMBONS, PORQUE TENHO PROBLEMA DE CABEÇA, CONTAS PARA PAGAR E JÁ ESTOU FICANDO MALUCO!
Não é que alguns garotos se aproximaram do vendedor e, a partir daquela data, ele “criou” sua freguesia!?
Se deu certo?!
Por algum tempo!
Cansado daquela vida, resolveu vender sorvetes, GRITANDO, mais do que explicando?
_SORVETE, SORVETE, SORVETE...
Daquele dia em diante, não sei mais dizer o que aconteceu com o rapaz. Acho que ele combinava tanto, com o universo das cores e aromas das feiras livres e mercados!
Mas se a vida é dele... Fazer o quê? Questão de escolha!