Na Cruz
Naquela rude cruz, tu, pendurado
Como qualquer proscrito ou malfeitor,
Soltavas para o céu um triste brado
Sozinho, abandonado em estertor.
Como era triste! O povo, desvairado,
Gritando "à morte, à morte!" num clamor,
Estava enraivecido, enfeitiçado,
Alheio a qualquer brado, a qualquer dor
E aqueles teus amigos do Jordão
Estão absortos entre a multidão
Calados, quer te açoitem, quer te vazem
E tu, num sofrimento atroz, imundo,
Ao Pai suplicas num sofrer profundo:
-Perdoa-lhes, não sabem o que fazem!