NOSSOS VELHOS
Para alimentos comprar
Ou roupas adquirir,
Pra ir à farmácia, a um bar,
De casa eu tenho que sair.
Se vou comprar pão ou leite,
Bolo, manteiga ou café,
Se preciso buscar azeite
Na padaria do Zé.
Pois tenho osteoporose,
Gota serena, reumatismo,
Hipertensão e artrose,
Bico de papagaio e botulismo.
Se preciso ir à feira,
Alguma verdura comprar,
Só existe uma maneira:
Na rua tenho que andar.
Pois a saúde pede chá
De alfavaca, de alecrim,
Ou mesmo de jatobá,
De flor-do-campo ou jasmim.
Velho tem que comer melão,
Maçã, pera e abacaxi.
Também faz falta o mamão,
O abacate, o morango e o caqui.
Roupa nova é coisa rara,
Nem motivos pra isto tenho.
E também ela está cara.
Mas vez ou outra a obtenho.
Isto tudo é pra falar
Que idoso sai às ruas,
Atravessa devagar,
Sem forças nas pernas suas.
Ora, o automóvel é potente,
Com um insensato ao volante,
Que dono da rua se sente
E vira perigo constante.
Tem faixa branca pintada
Pro pedestre atravessar,
Mas pessoa debilitada
Não consegue confiar.
Quando dono do mundo eu for,
Quero uma lei sancionar:
Os velhos, senhora e senhor,
Serão seres a se respeitar.
Se um carro encosta em um ancião,
Seu dono já estará condenado
A perder, sem apelação,
Sua licença de malvado.
Terá que andar a pé
E por todos ser notado,
Por ter um dia, sem fé,
Um velhinho atropelado!