O ali almejado será aqui vivido - por Noka

O ali almejado será aqui vivido - por Noka

O ali almejado será aqui vivido!

 

Era uma vez uma doce e bela princesa que vivia no Reino da ‘Vida é Bela’, onde nada de bom faltava e tudo que era mau estava afastado por uma ‘bemdição’ dos seus antepassados. Mas a princesa sentia-se entediada pela monotonia dos seus dias e desejava ter uma vida diferente. Queria ter outra liberdade, outra felicidade, como a das histórias que ouvia contar de outros Reinos, que mesmo não lhe parecendo tão afortunados, eram um alimento à sua vontade de mudar. A princesa sentia-se a navegar num mar de ondulação serena, que mais parecia um grande lago, onde todos remavam mediante a rota traçada e tudo ajudava a chegar ao destino já conhecido. Neste Reino jamais se pensava navegar ao sabor do vento e das ondas, como que em jeito de aventura. Afinal, nenhuma daquelas gentes sabia o que eram contratempos, nem entraves na vida. Tudo fluía com uma naturalidade sã. Tal como os cuidados e preocupações que todos tinham habitualmente para com a amada e protegida princesa. Mas esta redoma cor-de-rosa ateava cada vez mais a sua carência em atender às suas próprias vontades, desejos e anseios. Não era uma aventura, nem uma viagem ao desconhecido que procurava. Apenas desejava estar para lá da redoma, num lugar sem protocolos a cumprir, onde ela pudesse pôr e dispor da sua vontade e sem todos os olhares implicados nas suas acções. Enfim, queria ter outra vida. E o seu desejo foi tão forte que um dia acordou num banco de um jardim, no centro de uma grandiosa e luminosa praça, repleta de outras gentes, diferentes, muito diferentes. Aqui, todos circulavam desordeiramente, apressados e alheados do seu redor e ao contrário do seu Reino, aqui ninguém a conhecia. Era uma perfeita desconhecida, como se fosse completamente invisível ao olhar dos demais transeuntes. Concentrou-se em cada pessoa que passava por si e de uma forma desinteressada todos se cruzavam no seu caminho, mas ninguém lhe falava. Sentiu-se estranhamente ignorada e sem importância. Tinha acabado de beber o seu primeiro gole de liberdade, daquela liberdade que tanto havia desejado. Aqui, podia fazer o que quisesse sem que, ali alguém a questionasse. Os dias foram passando…e a princesa continuava a admirar esta sua nova vida, livre e solta. Até aqui, havia deixado de ser a predilecta dos passarinhos, que vagueavam no arvoredo junto à praça. Era mais uma no meio de muitas mais gentes.

Por vezes, a princesa cantava às suas fadas, que sempre a acompanharam, o quão esta mudança lhe trazia uma felicidade fresca e palativamente leve, como se fosse uma constante brisa suave num dia de Verão. Mas um dia, ao entrar em casa, abriu a porta e deparou-se com toda a sua imagem reflectida num sumptuoso espelho, que tinha junto ao hall de entrada. Aquela imagem assustou-a! Um espelho tão grande para um único e singelo reflexo, o seu. E nem as suas amigas fadas eram projectadas naquela imagem.

O quadro, agora desenhado, era por demais solitário e a falta dos afectos começava a fazer-se sentir.

Caminhou mais adentro e chegou à sala, confortada com mobiliário moderno, de muito bom gosto, mas sentiu-a vazia de sentimentos. Era uma casa bem acomodada, embora despida e fria de histórias para contar. Por instantes, deu por si a recordar como eram deliciosas as histórias que cada canto do seu castelo, no Reino da ‘Vida é Bela’, tinha para contar. Reparou que em cima da mesa junto ao sofá de ‘chaise long’ estava a correspondência do dia, talvez tivesse sido a sua empregada, que já tinha saído, a colocá-la naquele sítio…não era o local habitual, mas esta era uma situação à qual não dava importância. Relevante sim, foi o facto de uma das cartas lhe ter despertado o que há muito ela sentia falta…e naturalmente esboçou um sorriso gigantescamente alegre, ao abri-la. Começou a ler a carta e as lágrimas faziam-lhe companhia a cada palavra que lia…era da sua família que estava longe!

Chorou copiosamente a par daquelas palavras lidas pelos seus sentimentos à flor da pele, pois lembravam-lhe a saudade enorme que tinha da família. Sentia a falta do abraço do pai, do carinho da mãe, das suas conversas, dos constrangimentos protectores que o seu irmão lhe fazia passar e até das intromissões das tias e dos trotes dos seus pequenos primos…enfim, do apego e das preocupações que todos tinham consigo…dessa falta de liberdade que um dia se queixara, mas que agora sentia que queria voltar a ter. Entendera agora que não era falta de liberdade, mas sim o cuidado e o amor de quem a amava. Aqui neste novo ‘castelo’ tudo lhe era estranho e por mais que tivesse, faltavam-lhe os afectos. Tudo o que tinha vivido até então fazia parte apenas do seu imaginário e nada mais era real. Via o seu futuro desgostosamente solitário e por isso essa sua felicidade fresca e leve, abriu a porta a ensejos densos e penosos. A princesa viu-se abalroada pelo desejo de voltar ao seu reino. E gentilmente o desejo foi-lhe concedido. Voltou e viveu feliz para sempre.

Talvez seja a mais breve história de encantar que contei, mas esta ou qualquer outra só existe nos livros e nas letras cantadas. A vida mundana não é assim. Todos os desejos e anseios que temos devem ser bem medidos. As nossas decisões podem muitas vezes mudar o caminho que nos direccionava um determinado futuro.

Futuro? Poderá o futuro estar já definido em vários caminhos? Ou cabe-nos a nós determiná-lo?

A vida é mesmo assim com inúmeros pontos de interrogação e de tamanhos muito diversos. E são as grandes interrogações que nos focam na vida. São elas que nos fazem criar o nosso próprio futuro. Atrás da resposta a uma interrogação, não nos surge apenas uma, mas sim muitas vezes uma encruzilhada de respostas possíveis, ou se não lhes quisermos chamar respostas, pois que sejam opções e muitas vezes ficamos confusos, qual delas escolher, que decisão tomar. Pois, cada uma vai implicar umas quantas outras, e assim é a vida.

Muitas dúvidas e hesitações nos acompanham e acompanharão ao longo da vida, devemos aprender a viver com elas, apesar da dificuldade desse facto, até porque todos passamos pela ‘idade dos porquês’. Uns mais pacientemente que outros. E assim aceitamos e vivemos as interrogações deste mundo.

Como seria a vida sem o grau de incerteza que a apimenta? Certo é que uma incerteza agradável estimula a vida. Mas por outro lado também pode ser sinónimo de angústia. Se nos debatermos com uma incerteza nefasta, que torne a vida tormentosa.

O futuro está mesmo já ali…ao virar da esquina, do outro lado da janela, ou até simplesmente a cada palavra dita, em cada respirar…a cada novo dia que nasce.

E se um dia também eu acordasse e tudo estivesse diferente? Tal como aconteceu com a princesa? Como que num simples abrir de olhos tudo fosse uma completa novidade. Tudo que eu conheci tivesse deixado de existir. Se a minha família fosse outra, se eu tivesse outro nome, outros amigos, até que vivesse noutro tempo? Tudo de outros, que não o meu!

Não! Nem quero pensar, eu gosto de tudo tal como está. De tudo que trago comigo.

Talvez seja por medo do desconhecido perfeitamente estranho, ou receio de uma possível vivência nefastamente perfeita. Se eu tivesse outra vida, até poderia ter outros proveitos, mas mesmo assim, quero continuar a viver a universalidade de tudo o que tenho, no presente, neste meu presente. Eu não quero viver no Reino da ‘Vida é Bela’, ou noutro majestoso lugar, quero viver no meu. Na minha pequena conquista de corações que me amam. Isso sim é o meu Reino. E ao contrário da princesa eu não tenho dúvida que é apenas aqui que quero estar.

Afinal, sou fruto de um passado construído por muitos e por mim também. E quero viver o presente na busca do meu futuro, desse que foi sendo construído com os alicerces de um pretérito que sempre sustentou os meus futuros comigos.

E afinal que tudo é esse que trago comigo?

É um tudo que veio dos primórdios, como o tudo de cada um de nós, mas que foi crescendo por caminhos díspares, uns paralelos, outros transversais e até mesmo alguns em ‘corta-mato’ e que por vezes se cruzaram entre si, mas que formaram o passado de cada um de nós. Um passado que nos marca toda a vida, a partir do qual podemos conduzir o presente rumo ao futuro.   

Um futuro! Eu tenho e eu quero um!

Mas afinal todos temos futuro. Ter um futuro é ter a certeza que existiu um passado e que é vivido um presente.

Mas, talvez nem todos queiram manter as suas vidas, tal como são vividas agora. Talvez preferissem estar no lugar da princesa e mudar de vida. Porém, mudar implica perda, e por vezes perdas que nunca mais se voltam a ganhar. Nesta vida real não há desejos concedidos. A vida não é feita de ‘era uma vez’, nem de ‘viveu feliz para sempre’. Mas por vezes a vida permite ter a tal segunda oportunidade, e que ela nunca seja desperdiçada.

Cada um de nós tem que procurar e lutar pelo que realmente quer e por mais que seja difícil ultrapassar as batalhas da vida, acreditem que é por todas as pequenas conquistas que se consegue vencer cada uma e é por cada batalha que se irá alcançar a vitória da vida!

Para a princesa a senda da vida era realmente o amor, tendo deixado a marinar a liberdade que um dia tanto ansiou. E para todos nós, gentes de todos os Reinos do aqui e do ali, há uma senda, um lema, uma razão pela qual devemos sempre lutar.

O futuro está já ali…sim, é mesmo ali e está ali à mão…à mão da nossa vontade de viver!

 

Às Gentes de todos os Reinos do aqui e do ali

O tudo que sempre queremos, nunca será suficientemente grande para albergar a nossa vontade de ser feliz. Faltará sempre satisfazer uma vontade que seja. Que essa vontade possa ser qualquer uma, que nunca o desejo de termos em nós, o nosso eu sem estirpes ancestrais. É a elas que devemos o que somos e é com elas que viveremos para contar a nossa história. Rogo-vos que cunhais a vossa vida com a marca do amor e que nunca percam as raízes que vos prendem, aqui ao presente e que vos sustentam, ali o futuro.

                        [carta da Princesa noka]

 

Noka 

 

 

 

 

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