O Amor em Desabafo
Há muito que venho pensando. Não gosto de me expor. Quem me conhece já sabe, não exponho muito o que sinto publicamente. Só quem está comigo diariamente sabe dos meus planos, dos meus medos, dos meus sentimentos. Falar de mim nunca foi o meu forte.
Falo pelos cotovelos, assuntos outros que não me expõe diretamente.
Mas às vezes faz bem desabafar. Despejar as sensações, esvaziar o peito. Estes momentos fazem toda diferença. O corpo fica mais leve e o conforto dos que lhe querem bem chega, seja com palavras carinhosas, seja em um abraço apertado.
A dor é sempre de quem sente. Já dizia Nelson Rodrigues:- "Todo mundo é capaz de superar uma dor, exceto quem a sente." Por mais que lhe digam que tudo vai dar certo, quem está sentindo é que sabe o peso da situação.
Tive medo, e me dei o luxo de chorar. Por vezes o choro é a única reação possível. E nesses momentos, o abraço fez e faz toda a diferença. É o que consola, é o que fortalece. E nessas horas ouvir frases do tipo: "você não está sozinha." Enchem o coração de esperança. A sua luta fica mais branda, ou é você que fica mais forte, ou as duas coisas. Talvez eu tenha ficado mais forte. Talvez! Só sei que o peso diminuiu. Talvez tenha sido drama. Já me disseram que sou muito dramática. Talvez eu seja. Talvez eu seja!
Só sei que minha vontade de sorrir é maior. Já conheço os meus sintomas. Já respeito e controlo mais os meus pensamentos. Já não me deprimo mais com tanta facilidade. As situações gatilho ficaram para trás. Já não me derrubam mais.Por mais medo que tenha sentido. Eles foram todos justificados e de forma objetiva. Sabia exatamente o que estava sentindo e porque estava sentindo. Chorei, mas não foi uma lágrima derrotista, não foram lágrimas de achar que nada dá certo. Foram lágrimas de quem sentiu medo.
Medo este bobo para uns, justificável para outros.
Há quem se surpreendeu mais pelo fato de a minha preocupação com o cabelo ser mais do que com a cirurgia na cabeça. "-cabelo cresce. O importante é sua saúde." Eu entendia. E sabia que tinham razão. No entanto o medo de ficar careca era maior do que ter a cabeça aberta para a extração de um tumor. O medo às vezes é irracional, eu sei, mas foi assim. Desse jeito mesmo.
E quando dei por mim tudo já tinha passado. Ou está passando. O que importa e o que vai ficar gravado foi as demonstrações de amor e de afeto que recebi durante esse tempo. Não posso deixar de esquecer o apoio da família e namorado. A "disputa " de quem dormiria comigo no hospital( mãe x namorado). A delicadeza da amiga por ter assumido as minhas "milhões" de cadernetas para não me preocupar com trabalho. E só quem é professor sabe o quanto trabalhoso é fechar caderneta no final do ano.
Os telefonemas, as visitas dos amigos. Das orações de todas as religiões. Sem preconceitos.
E no final das contas foi tanto carinho recebido. Tanto amor. Que eu só tenho a agradecer e me sentir uma mulher de sorte.