O Amor
Ela só queria um amor. Um grande amor. Alguém que fizesse renascer a menina adormecida dentro dela. Que trouxesse de volta a adolescente sonhadora, que andasse com ela pela praia de mãos dadas. Sem pressa. Olhando para o futuro. Olhava o rebuliço do mar desejando esse amor e pedindo aos céus que a natureza o trouxesse. Seria pedir demais? Só queria um amor... Um grande amor... Existiria?
Imaginava seu olhar carinhoso, seu sorriso largo, feito sorriso de criança levada que não tem medo de nada. Fechava os olhos e pensava em suas mãos, percorrendo o seu corpo, fazendo-o tremer de desejos. Mãos de homem que trabalha duro e que sabe acariciar uma mulher, como quem toca uma doce melodia. Homem que saiba ouvir estrelas, que se encante com o luar. Homem que a chame de “minha”, sim, ela quer ser desse homem. Ah, bendito amor nascido do acaso!
Queria devorá-lo. Inteiro. Sentir seu peito bater de encontro ao dela. Falar-lhe de todo esse sentimento que mexe com ela. Lembra a distância que os separa. Se pudesse beberia o mar, todinho. Fá-lo-ia secar e correria para seus braços. Chora sentindo uma saudade louca, de alguém que nunca viu. Nunca pegou. Nunca beijou. Não sabe a linguagem das suas mãos nem como soam as batidas do seu coração. Será que é verdadeiro, ou ela pintou-o em cores de fascínio em seus devaneios? Olha para dentro de si mesma e vê a ação do tempo a chamar-lhe para desabrochar.
Toma uma decisão e faz a si mesmo uma promessa: - vai encontra-lo -, ah se vai! Vai viver esse amor imenso, não importa por quanto tempo. Tudo o que importa é esse amor. Esse grande e amado amor. O acaso o trará até ela. Em breve. Muito em breve. O mar sussurra ouvindo suas preces e desmaia cúmplice espraiando-se na areia que se entrega à orgia do amor. A natureza diz amém. Ela agora sorri. A vida promete... Só precisa ruflar as asas e alçar voo em direção à felicidade.
Lígia Beltrão