Imagem: disponível no Filme Encontro Marcado
É de muito tempo, alguns anos para ser mais exata, que escutei esta frase no filme Encontro marcado, quando Bill fala para sua filha Susan a respeito do amor, do arrebatamento transformado em paixão, da obsessão pelo outro, fazer a vida valer a pena e ter sabor, buscar o sentido, senão nada valerá a pena, nem mesmo viver! E ele insiste para que ela fique receptiva!
A partir daí também me acompanharam as duas frases e conselhos mais tocantes que já escutei em minha vida “o céu pode se abrir” e “fique receptiva”, talvez por ter acreditado demais naqueles momentos do filme, ter me envolvido com tudo, principalmente com meu ator favorito, Anthony Hopkins, que interpreta o milionário Bill num diálogo travado com a morte (o maravilhoso Brad Pitt), que logo se instala em sua mansão, temporariamente, decidindo tudo por ele, até a hora de levá-lo, até terminar seu prazo de vida, sua chance, seus últimos momentos.
Pensar em situações-limites assim nos deixa afoitos para a vida, podemos mudar tudo em segundos, em versões mais curtas e menos cansativas, podemos mesmo, de verdade, optar pelo que nos faz feliz da melhor ou da pior maneira, é só mais um estado que pode durar uma eternidade para ser lembrada.
Quanto valeria o último dia de vida, quem daria mais, quem se arriscaria na gangorra subliminar? Pode aparecer muita gente com respostas impressionantes sobre o que realmente faria, nem sabemos por onde começar, não é mesmo? De sair pela madrugada afora, dançar na chuva, correr ao sol escaldante para se refrescar numa praia paradisíaca, xingar os desafetos, gritar pro mundo o que sentimos, amar e amar e amar, sem medos ou responsabilidades até pular na imensidão que não sabemos explicar. Sabemos que ela existe, mas conhecemos mal sua face, aliás, desenham sempre mal, esquelética, horripilante, e nem temos tanta certeza assim.
Vamos ficar extasiados por enquanto, pela vida que se arregaça nua e crua, com suas formas torneadas nos chamando para um imenso banquete que se estende por dias e noites seguidas, sem interrupções, sem regras, sem limites, sem aparências, sem subordinações; vamos seguir em frente, com ousadia, sem endereços ou portas certas para bater, deixar o frio transpassar nosso rosto e sentir o cheiro do vento que está soprando leve na noite, deixar viver como se não existissem dias de cada vez.
O céu pode se abrir, que tenhamos esta certeza mais cedo ou mais tarde, só precisamos dar valor as nossas histórias e o que podemos fazer delas, tudo pode acontecer, é a velha máxima de todos os dias. Podemos sentir, que acreditar surte como o efeito de um bom vinho na alma, não precisa entender, bisbilhotar ou dizer que se sabe demais, basta estar com a pessoa certa e em qualquer lugar, pois existem céus de todos os tipos, coloridos, atiçados, enevoados, soturnos, meio empoeirados, chamativos, exóticos, charmosos, intensos, sensuais, todos como os seres humanos, de causar arrepios quando em seus melhores dias.
publicado em 18/03/2014