O galo Jacó
Isto aconteceu no tempo
que as aves tinham gogó.
Vou contar fato verídico,
preste atenção, escute só:
No quintal de uma fazenda,
antes de se ouvir a mó,
bem cedinho, junto à moenda,
cantava o galo carijó.
De manhã, a galinhada,
numa barulheira só,
conversava ajuntada,
perante o galo Jacó.
Esta foi uma noite fria,
dizia o frango Xicó,
só penugem lhe nascia,
mais parecia um filó.
Os ovos que estou chocando
nunca podem ficar só,
senão os vai devorando
o insano gato Bechó.
Protejo os meus pintinhos,
dizia a galinha Caicó,
não posso deixar o ninho,
senão os pintos morrem só.
Na conversa, veio dar pitaco,
a galinha d’angola, sem dó,
gritando: “fraco, tô fraco”
feito o nhambu chororó.
Neste instante, uma estalo,
o grupo espalha em redor.
Um torrão acerta o galo,
vindo lá do cafundó.
E a galinha mais achegada
ao querido galo Jacó,
vai dizendo apiedada:
veja isto, veja só!
E Jacó, co’a asa ferida,
vai dizendo ao seu xodó:
se afasta disto querida,
se afasta, me deixa só.
Foi esta bela cena caipira
presenciada por minha avó,
que nunca falou mentira,
acompanhada, nem só.