O pandemônio na literatura brasileira contemporânea - por Uiara Melo

O pandemônio na literatura brasileira contemporânea.

 

Caros colegas escritores e leitores, vamos ser francos uns com os outros. Pelo andar da carruagem, no próximo desfiladeiro cairemos todos. A qualidade da literatura brasileira está no mesmo patamar da política, e da administração pública.

Se eu tenho propriedade para falar disso? Claro que tenho, desde o momento em que parei para analisar, pensar e questionar a situação, já que é o caminho no qual quero gastar as solas dos meus sapatos. Mas eu não sou a “fodona!” Sou humilde para saber e reconhecer que ainda tenho muito que aprimorar.

Sou curiosa e muito inquieta, não me dou por vencida quando me deparo com as dificuldades. Sempre estou tirando dúvidas e questionando o real motivo das coisas. Alguns colegas que me dão apoio, e base para os meus questionamentos, devem me achar chata por isso.  Pois bem, vamos ao o que interessa.

Nas bienais de hoje, se Aristóteles pudesse estar presente, se jogaria na Baia de Guanabara no Rio de Janeiro.

Primeiro de tudo: Não existe uma fórmula exata, mas segundo Aristóteles, era necessário que a estória literária (e não história ou poesia) fosse em função existencial, uma catarse. Função moral, o caráter, a índole e a indicação de valor. Apor (e/ou acrescentar) valor literário em sua composição literária.

A partir disso, podemos perceber que muitas obras não deveriam ser consideradas literárias -  as famosas “miojo”. Desde que o escritor passou a fazer trabalhos somente para entreter, surgiu a falta de pesquisa, pouco interesse pela língua portuguesa, os bombardeios de erros ortográficos, e a caída da qualidade estética e coerente da obra.

Todo mundo resolveu virar escritor, até aí tudo bem, até porque eu também comecei assim – I have a dream. Todos podem fazer o que quiserem, mas o que realmente é ser escritor – não falo aqui, de ser um best-seller/fama-, o que é de fato escrever?

Como se dá, ou deveria ser todo o processo de escrita?

Muito me espanta, quando alguns dizem que sonham e escrevem. Só isso?

Onde está a pesquisa, o planejamento?

Escreve por quê?

Escreve para quem?

O quê quer, onde quer chegar com a sua escrita?

O mundo literário está um pandemônio. Um verdadeiro mar de rostos e mãos aflitas para se apegarem em algo tangível.

 O que vale mais?

Esse universo, é uma competição de quem vai mais longe, ou quem aparece mais?

Quem tem mais seguidores, mais curtidas? Meu Deus!!!

A cada grupo que participo, mais me sinto isolada... não estou conseguindo entender o real sentido disso tudo. Se um "puta" crítico literário pegasse todas essas obras, que fazem “fama”, para ler, iria ser um Estado Islâmico decapitando os sonhos de muitos escritores "fodinhas". Eu também poderia estar nesse meio por inocência e, não por achar que sou "foda".

Estou estudando para fazer valer a pena, e os meus livros serem aceitos por críticos (não resenhista, isso é outra coisa). Vou nadar contra a maré. Não digo que Zafhira e Sem Sombra sejam ruins, digo que eles poderiam ter sido melhores, se eu tivesse o amadurecimento de hoje. Eu me recuso a escrever qualquer história sem acréscimo significativo à vida humana. Não vou escrever para distrair o outro somente, quero escrever para mexer com a subjetividade do outro, tira-lo do senso comum.

Quando sou questionada a respeito de Jorge Amado e Paulo Coelho, eu digo que provavelmente possam ser encaixados em alguns dos critérios de cunho crítico.  Porém é devido a isso que muitos acreditam que suas obras são literárias... Talvez, por alguns conceitos possam até ser, mas não são de fato consideradas literatura. Mas livros que caíram no gosto do público ganhando então, uma grande importância no universo dos livros. Não estou comparando Jorge Amado com Paulo Coelho.

Há quem goste de livros expressos e de entretenimento raso, não nego, e não recrimino, porque gosto é gosto.  Porém nem “tudo é arte”, certas coisas só passam a ser arte porque caem no gosto do público, e esse público hoje é muito superficial e duvidoso. Temos que ter o bom senso, e sermos críticos diante do que está acontecendo. Existem muitos livros bons, que podem ser considerados de fato parte da literatura, escondidos ou deixados de lado, porque certos leitores têm preguiça de ler, desejando algo mais popular ou até mesmo vulgar.

Está chovendo hambúrguer? Não! Está chovendo livros!  E o analfabetismo está crescente, não estão formando leitores críticos. As redes sociais são campos minados. Depois que muitos decidiram publicar por aí, muitas editoras surgiram com propostas indecentes para tornar esse sonho realidade, e às vezes, o livro não vale. Isso do livro não valer, não significa que a pessoa deva parar de escrever, pelo contrário, tem que escrever sim e muito, estudar e muito.

Muitos não irão aceitar a minha opinião, mas enfim, do jeito que está. Que função teremos eu e mais uns gatos pingados, que escrevemos com o coração, com a alma, diante desses instantâneos, criados somente para sugar dinheiro de leitores sem um pingo de critério?

O instantâneo X O tradicional.

E não é por essa colocação que posso ser considerada elitizada, aquela que quer escrever “direitinho”, para burguês ler. Mentira! É escrevendo “direitinho” que muitos adolescentes irão passar a se interessar a escrever “direitinho” também. A educação está em decadência, porque não é do interesse cultural investir em educação, e instrução em todos os aspectos.

Certa estou de que o sol nasce para todos e, é por isso, que o cenário literário brasileiro está em baixa... Os críticos não perdem mais tempo com o mercado literário de agora, não vale a pena... As escolas em greve, de que adianta lutar contra essa tormenta?

Sendo assim, reflitam o que realmente querem. Vejam a quantidade de livros duvidosos, sendo produzidos e distribuídos por certas plataformas que estão levando conteúdos equivocados para a sociedade. Antigamente ser escritor era algo foda... Intocável, intelectual... Hoje, qualquer “Zé Ruela” é escritor... não querendo generalizar. O que basta para mudar essa realidade é ter bom senso, e fazer algo de bom, ESTUDAR, ESTRUTURAR A OBRA. O mal é querer imitar a escrita americana, eles escrevem para Hollywood – puro entretenimento. A nossa literatura a princípio deveria ser para instruir, passar uma mensagem no mínimo significativa. Daí surgem alguns resenhistas, que bancam de Críticos Literários (risos). Crítico Literário qualifica a obra, e o resenhista vende a obra, sendo boa ou não. Não é à toa que Paulo Coelho faz sucesso lá fora e aqui é bombardeado.

 

“Transformar uma folha em branco em um documento, uma identidade de um tempo. Fragmentos gravados na alma, no universo. Esse é o prazer do poeta, escritor. Deixar um pouco de si para aquele que quer se compor.”

                                                                                                                                       Uiara Melo

 

 

 

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