O Poema
É de vida que se faz o poema
Nos insuspeitos momentos de inspiração que rasgam a monotonia
E despertam sentimentos tolhidos por uma profunda letargia
Que à força se vertem para uma folha virgem
Sem verdadeiramente serem consumidos
É de saudade que se faz o poema
Quando a melancolia assalta o pensamento
E o desespero dessa ausência que o atormenta
Corre selvagem pelas suas entranhas
Encontrando apenas poiso seguro no movimento lenitivo da caneta
É de carne que se faz o poema
Desejo indomável que tolda a razão
Corpos em êxtase que se descobrem por entre as sombras noturnas
E famintos se alimentam mutuamente de paixão e prazer
Fazendo nascer verdadeira poesia
É de ti que se faz o poema
Tu que agarras a vida sem hesitações e dela te tornas sinónimo
Senhora da senzala que aloja este escravo da carne
Que se mantém agrilhoado a essa tua indiferente sensualidade
Cantando com saudade a liberdade perdida.