O PROBLEMA I
Mirian Menezes de Oliveira
O procedimento era muito simples: encostar o carro na guia da calçada da Escola de Natação e esperar que as duas adolescentes subissem no banco traseiro. Como demoraram muito, o pai desceu do veículo, para buscá-las. Abriu a porta de trás, sem perceber onde havia estacionado.
Com “leveza”, puxou as meninas pelas mãos, posicionou-as em frente à porta direita traseira e deu a volta para assumir o volante.
Dez segundos após...
_ Vamos, meninas! Já liguei o motor do carro. O que estão esperando?
_ Não dá, pai! – disse a primeira- Está difícil!
_ Difícil por quê? Já abri a porta. Estou pronto para partir!
_ Não dá, “véio”! – disse a segunda.
_ Já disse para não me chamar de velho! Andem logo!
_ Não consigo passar! – disse a primeira.
_ Que saco! – retrucou a segunda – Bizarro, cara!
Nesse interim, pais e alunos da Escola de Natação começaram a se aglomerar em volta do veículo, todos espantados...
_ Tente pular, sem encostar as pernas nesse negócio – disse a segunda.
_ Não dá! – resmungou a primeira – Já tentei.
O pai, que já estava com os nervos à flor da pele, com tanto atraso, gritou sem sair do carro:
_ Mas que raio é isso? Eu aqui, morrendo de pressa e vocês nessa enrolação. Andem logo, garotas! E esse povo todo olhando? O que significa isso?
_ Pai, eu vou a pé! – disse a primeira – Está muito difícil!
_ Eu não! – disse a segunda – Nem que fique a tarde toda aqui, vou tentar entrar... só não sei como!
Demorou muito para que o pai entendesse o que estava acontecendo e decidisse sair do carro.
Quando resolveu tomar ATITUDE, uma senhora de, aproximadamente, noventa anos, aparecida do “Nada”, pegou sua bengala e acabou com “o problema”. Empurrou o pequeno galho de árvore, despencado da última poda de árvores.
Resolvido!
As garotas entraram rapidamente... tão rapidamente... que se esqueceram das palavras mágicas:
“Muito obrigada! Até logo!”
Que pena!
Antes que os expectadores acionassem os aplicativos dos celulares, para compartilhar o “grande problema” com a humanidade, a senhora de noventa anos acabou com a “farra”, gratuitamente, sem qualquer intenção de recompensa, empurrando o galho com sua potente bengala.
E você, leitor!? Percebeu semelhanças com outras histórias?
É possível!
Temos aqui uma paráfrase desgastada de contos populares, com o agravante de ter ocorrido, em pleno século XXI.
Algum problema?