O silêncio e a invisibilidade associados à violência - por Fabiana Juvêncio

O silêncio e a invisibilidade associados à violência - por Fabiana Juvêncio

O silêncio e a invisibilidade associados à violência

 

O silêncio e a invisibilidade são temas associados à violência (Langley & Levy, 1980; Heise et al., 1994; Heise et al., 1999; Rodriguez et al., 1996; Soares, 1999). Experimentar situações de violência, especialmente quando esta é de natureza doméstica e/ou sexual, tem se mostrado vivência de difícil revelação, quer no âmbito da pesquisa científica, quer no âmbito de práticas sociais de assistência, entre elas a Saúde. No plano dos serviços, igualmente se configura como um problema de difícil intervenção. Estudos trazem a violência, em geral, e a violência contra a mulher em particular, como temas culturalmente investidos (O’Toole & Schiffman, 1997; Krug et al., 2002; Minayo, 1994), complexificando sua abordagem que, então, requer contornos particulares: locais, regionais, nacionais. A violência de natureza doméstica, por sua vez, amplia essa característica, ao situar-se no âmbito da vida privada e das relações familiares.

 

Emergindo como questão social importante mediante estudos dos conflitos familiares, a violência doméstica é mais conhecida por referência aos abusos e maus-tratos que sofrem as crianças, as mulheres, e os idosos. É possível ver nas agressões físicas e nos maus tratos de ordem psicológica, remanescentes da cultura que entendeu os castigos ou punições corporais e a desqualificação moral ou a humilhação da pessoa como recursos de socialização e práticas educativas. Já o abuso sexual, de forma alguma tem essa mesma raiz.

 

Não obstante, as dimensões física, sexual e psicológica mostram-se extremamente interligadas na violência doméstica. Esta é a situação da violência vivida pelas mulheres, recorte no qual vamos nos ater. De outro lado, se sofrer agressões e abusos por pessoas íntimas e próximas tornam a violência contra a mulher situação próxima àquela das crianças e dos idosos, são as questões de gênero, vinculadas às desigualdades nelas inscritas, que revestem as agressões e os abusos perpetrados contra as mulheres e as meninas, e tornam a violência contra a mulher evento específica. E neste caso, mais que em qualquer outro, vamos encontrar as delimitações das esferas psicológica, física e sexual borradas, exatamente por estarem envolvidas e ressignificadas pelas questões de gênero. Silêncios e invisibilidades são, pois, também questões de gênero, logo, são realidades que podem e devem ser abordadas no plano psicoemocional, sócio- cultural e ético-político, para uma aproximação primeira de sua complexidade.

 

 

 

 

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