O sincerão
Zé sempre foi conhecido por sua sinceridade. Desde criança, falava sempre a verdade.
Com pouco mais de dois anos, ganhou um presente de uma tia e disse: “não gostei”.
Quando adolescente, arrumava encrenca com um bando de gente que insistia em ouvir som alto. “A mim incomoda”, dizia ele.
Mas tudo ficou mais perigoso quando Zé decidiu criar uma conta no facebook.
Uma conhecida de infância publicou uma foto na praia. Enquanto as falsas amigas postavam os falsos elogios, Zé sincerou pela primeira vez. Foi simples e direto. Escreveu apenas “Feia”.
E Zé tinha uma peculiaridade; ele era tão sincero, mas tão sincero, que não bastava apenas comentar. Ele curtia o próprio comentário pra deixar claro ao destinatário a sua opinião. Era basicamente um pleonasmo ocular.
Lógico que a “feia” revidou, então Zé retrucou. “Feia e mal-educada”, e depois curtiu, pra deixar bem claro.
Pronto, foi aí que Zé perdeu o primeiro amigo do face, mas ganhou um tanto de fã.
Foi na postagem do Gustavão que começou a segunda confusão, e Zé sincerou pela segunda vez: “Que beleza! O maior caloteiro da cidade viajando pra Disney! Tem vergonha não, seu cara de pau?” Curtiu.
Pronto, foi aí que Zé perdeu o segundo amigo do face, ‘ganhou’ o primeiro processo e arrumou mais um punhado de fã.
Toninho, um conhecido do Zé, publicou uma foto com a esposa e a filha. O Zé não se conteve e sincerou pela terceira vez: “Não tá vendo que a menina é a cara de seu vizinho, seu chifrudo?” Curtiu.
Pronto, foi aí que o Zé perdeu o terceiro amigo do face, ‘ganhou’ o segundo processo e triplicou seus fãs. Esse caso deu polícia, Programa do Ratinho, DNA e separação.
Por dia, Zé perde uns cinco amigos do face, mas ganha uns trezentos fãs de uma vez.
E você? Já enviou seu convite para o Zé?
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