O Som do Silencio - por Ione Kadlec

O Som do Silêncio

 

A neve mastigava os passos.  

Choc, choc!

Ruído  constante deste acumulado branco, frio. Tudo coberto de neve. 

Sem descanso, caminhei só sob a neve. Levantei a lapela do casaco para me proteger, porém  monstros  se agigantavam contra um corpo pequeno, tupiniquim,  acostumado com o sol sempre a sorrir. Florestas cantadas em versos, derrubadas por serras.

Sentei-me em um banco qualquer daquele parque, cuja  cidade  não era minha. Alguns esquilos corriam a cata de migalhas humanas, tendo ao seu redor o mundo em grãos.

A fina nevasca caía. Linda a beijar no chão outros grãos que, aos poucos, escondia.

Silêncio! Silêncio! Este possuía cor.

Pura ilusão.

As árvores dançavam, empurradas pelo vento. E tal como nos avisou Emily Bronte, o vento uiva seja de dor ou de felicidade. Nunca imaginei o coração do vento desejoso de ser aquecido.

Parava de gemer somente quando os pássaros cientes de sua solidão,  ensaiavam  óperas cotidianas. 

Distante,  o brilho de uma luz de neon cruzou a noite que chegara sorrateira como um ladrão e esta tocou o som do silêncio. E  a escuridão desceu,  de forma natural, sobre os picos falsos e mentirosos dos concretos sustentados por grandes vigas: edifícios.

Silêncio! Silêncio!

As estrelas lutavam por espaço, pois as luzes de néon as empalideciam e os carros, abundantes,  deslizavam causando murmurinhos.

Bares abertos. Sorrisos fechados.  Faróis coloridos.  O  frio intenso vindo do Chelsea Pier corria por cada esquina. Agarrando-nos, tocando nossos lábios sem cerimônia, sedento por companhia. Abraçando-nos de forma intensa, se agasalhando em nossas nucas. Pelo corpo corria.

O café quente na língua, aquecia  as entranhas dos corpos gélidos que se apressavam cobertos de flocos  de neve que lhe avermelhavam as pontas das orelhas. Quantas bochechas maças!

Assim, o silencio gritou. Levantei-me assustada daquele banco estranho e continuei a caminhada, acompanhada pelo vento, a nevasca, os carros, os faróis e o silêncio que, agora, conversava com a madrugada gelada.

Ninguém ousava a perturbar o som do silêncio.

 

 

 

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