O Vento
Correndo invisível sinto-o passar por mim com a mesma absoluta indiferença com que te cruzas comigo.
Invejo-o quando, passando por ti, te faz estremecer de uma forma que adivinho estar já fora do meu alcance.
Nele te reconheço quando, enfurecido, investe toda a sua força na destruição de tudo o que o rodeia para, logo de seguida, suavemente acariciar o meu o rosto numa singular bipolaridade.
Ou quando, com total imprevisibilidade, muda de direção tão frequentemente como tu mudas de humor.
Tal como em ti, pressinto uma voraz insatisfação que o leva a percorrer as mais recônditas paragens sem contudo em nenhuma se fixar.
E, ainda assim, aguardo a tua volta com a mesma impaciência com que uma criança anseia pelo regresso do vento que lhe faz planar o seu papagaio de papel.