O V E N T O
Pejado de gotículas sabendo a sal, espicha-se indolente em seu início de vida recorrente. Na subida da serra sente-se devastado, dilacerado por galhos, folhas, rasgado por conceitos grotescos de concreto. Sente-se mutilado por navalhas da natureza em sua forma abstrata.
Sua razão de ser é mais forte que suas agruras.
Uma vez iniciado seu viajar, nada pode impedir o vertiginoso sopro serra acima. Contorce-se, arremanga os braços, afivela o cinto ao redor de si mesmo, e segue em frente, nunca desistindo de sua missão de soprar o vácuo, de refrescar o calor, de esfriar a vida dos passantes, de atiçar a labareda intrépida.
O mister tem que ser cumprido, não cabe renúncia.
Quando entra em túnel, refresca-se já que o sol ali não penetra. Resfolega e segue em frente, deitando seus afazeres, imprimindo sua lógica vivencial de abrandar a existência humana, sua obrigação de soprar os eucaliptos, salpicar de azedume o humor dos humanos quando a natureza vence-lhes as forças. O vento labora para o bem, para o mau, para neutralizar os humores naturais da vida em andamento.
O vento é sopro de Deus, logo algo santificado com a incumbência de suprir as necessidades humanas.
Contorcendo-se em seu esforço laboral navega nos arcos do bajo incontrolável, do vertiginoso apocalipse de vivências passageiras. O vento é algo que chegou para partir, que veio para ir, que diz adeus enquanto atravessa. Não tem mãos nem coração, não digere nem deglute, apenas abraça com força e afasta-se para distante do eu consumado.
Quando chega ao cimo, começa a pingar seu suor de esforço, e transforma a paisagem em neblina vivificante, em pureza goticular para adubar o solo, dar de beber às raízes escondidas do sol no fundo da terra. O vento é natureza em abundância, é transformação imediata, é hálito de vida, é o combustível dos pulmões, em sua forma de oxigênio. Pare de respirar... e sinta a morte aproximando-se sorrateira e inexorável.
O vento é amigo, é furacão e algoz, é brisa refrescante, e o ciclone matador, o vento marinho é a guarida das caravelas, com suas velas enfunadas empurrando o barco que corre célere sobre a superfície deslizante do líquido salgado dos oceanos impolutos.
O vento é a mágica carruagem que transporta sabores, rancores, exultações, felicidades, alegrias, datas, que empurra os caixões para o fundo da terra, que levanta os aviões, os balões, os foguetes interplanetários, que seca as lágrimas, as roupas ao varal, os templos úmidos da chuva que cai para brilhar no solo pétreo.
O vento é a primeira e última esperança de vida, de continuidade, de herança, de lembrança, sempre lembrada na “ROSA DOS VENTOS”.
O vento esculpe e transporta, alonga e deixa saudade, levanta poeira para escurecer a visão do apocalipse nas paragens insólitas. Audaz, intrépido, aventureiro, devastador, nunca estanca para refletir, e nunca chora o momento passado. Sempre implacável, balança qualquer estrutura humana.
O vento, como tudo o mais, é criação DIVINA.
Anchieta Antunes
dezembro/2016
O V E N T O
Pejado de gotículas sabendo a sal, espicha-se indolente em seu início de vida recorrente. Na subida da serra sente-se devastado, dilacerado por galhos, folhas, rasgado por conceitos grotescos de concreto. Sente-se mutilado por navalhas da natureza em sua forma abstrata.
Sua razão de ser é mais forte que suas agruras.
Uma vez iniciado seu viajar, nada pode impedir o vertiginoso sopro serra acima. Contorce-se, arremanga os braços, afivela o cinto ao redor de si mesmo, e segue em frente, nunca desistindo de sua missão de soprar o vácuo, de refrescar o calor, de esfriar a vida dos passantes, de atiçar a labareda intrépida.
O mister tem que ser cumprido, não cabe renúncia.
Quando entra em túnel, refresca-se já que o sol ali não penetra. Resfolega e segue em frente, deitando seus afazeres, imprimindo sua lógica vivencial de abrandar a existência humana, sua obrigação de soprar os eucaliptos, salpicar de azedume o humor dos humanos quando a natureza vence-lhes as forças. O vento labora para o bem, para o mau, para neutralizar os humores naturais da vida em andamento.
O vento é sopro de Deus, logo algo santificado com a incumbência de suprir as necessidades humanas.
Contorcendo-se em seu esforço laboral navega nos arcos do bajo incontrolável, do vertiginoso apocalipse de vivências passageiras. O vento é algo que chegou para partir, que veio para ir, que diz adeus enquanto atravessa. Não tem mãos nem coração, não digere nem deglute, apenas abraça com força e afasta-se para distante do eu consumado.
Quando chega ao cimo, começa a pingar seu suor de esforço, e transforma a paisagem em neblina vivificante, em pureza goticular para adubar o solo, dar de beber às raízes escondidas do sol no fundo da terra. O vento é natureza em abundância, é transformação imediata, é hálito de vida, é o combustível dos pulmões, em sua forma de oxigênio. Pare de respirar... e sinta a morte aproximando-se sorrateira e inexorável.
O vento é amigo, é furacão e algoz, é brisa refrescante, e o ciclone matador, o vento marinho é a guarida das caravelas, com suas velas enfunadas empurrando o barco que corre célere sobre a superfície deslizante do líquido salgado dos oceanos impolutos.
O vento é a mágica carruagem que transporta sabores, rancores, exultações, felicidades, alegrias, datas, que empurra os caixões para o fundo da terra, que levanta os aviões, os balões, os foguetes interplanetários, que seca as lágrimas, as roupas ao varal, os templos úmidos da chuva que cai para brilhar no solo pétreo.
O vento é a primeira e última esperança de vida, de continuidade, de herança, de lembrança, sempre lembrada na “ROSA DOS VENTOS”.
O vento esculpe e transporta, alonga e deixa saudade, levanta poeira para escurecer a visão do apocalipse nas paragens insólitas. Audaz, intrépido, aventureiro, devastador, nunca estanca para refletir, e nunca chora o momento passado. Sempre implacável, balança qualquer estrutura humana.
O vento, como tudo o mais, é criação DIVINA.
Anchieta Antunes
dezembro/2016