Os sonhos
Matéria incorpórea
Que faz mover a terra em torno de um eixo imaginário
sob a forma de nuvens fofas alucinogénias.
Ora brancas e imaculadas como a pureza de uma donzela.
Ora negras e avassaladoras como o pecado de uma meretriz
Os sonhos são pedaços do céu que nos atormentam.
O sonhador sofre
pelo desejo não realizado.
Revolta-se por tanto sonhar.
Cansado, pousa a bagagem
e de olhos posto mais além
sonha com o dia em que O anjo o levará
Hipnotizado por seu canto sedutor
Para longe da realidade que o impede de sonhar.
Os sonhos são os segredos amargos dos anjos
Que nas suas brincadeiras celestiais
Entretém-se a traçar os destinos
De quem não se conformando com a vulgaridade
Se torna presa dos seus desígnios.
O sonhador cai e ergue-se.
Lambe as feridas e segue jornada.
Num autismo quase destrutivo
Fustigado pela intempérie
De tanto querer que o sonho se realize
Teme que a vida acabe
No momento em que não tiver
Mais loucura para sonhar.
Os sonhos são leves bolas de sabão
Sopradas suavemente da boca enquanto menino
Que tentando desbravar um destinto caminho
Vão saltitando ardilosamente pela linha da vida
Como que querendo enganar o Deus criador
Nunca supondo que quanto mais se afasta do trilho
Mais se aproxima do seu destino.
Lúcia Papafina
(maio de 2014)