OUTONO
Morro.
Dentro da casca de uma árvore que se despe ao Outono.
Dentro das palavras inquietas
cozinhadas em lume brando
surgido o tempo da podridão.
Longas as noites.
Morro.
Morro
sempre,
nas palavras de Novembro
sombras de mortos
intenso cheiro a pólen.
Crisântemos.
Morro em casa
um pequeno mar
à beira do rio por onde os pássaros se distraem
e recolhem danças esperando a primavera.
A chuva
às vezes cai
no quintal do meu vizinho
o mais próximo
que é o Outono.
Bebemos um copo e damo-nos bem
apesar da morte.
Não posso queixar-me dele porque me oferece ouriços
e as castanhas dentro.
Depois, gumes afiados
despedaçam carpos
cortam romãs e uvas.
Sorvemos o sumo.
Por vezes, saciamo-nos no sol
ou no fogo.
Fogo vespertino e fumo carumado
anunciam o próximo vizinho.
Enquanto eu morro.
Conceição Oliveira
in Revista Cultural Licungo (nº4) CEMD EDIÇÕES 2016