Paixão por uma ideia
Não tinha muito para contar. Talvez a mesma história de sempre. Velha como o tempo. Gasta! Tão delida como ficaram muitos, que se lapidaram antes de ela, por um querer que nunca o foi. Explodiu-lhe o coração nas mãos, quando depois de todas as esperanças (agulhas afinadas, em conversas havidas em noites perdidas) de desejos, em sintonia, tudo era falso! Gelo, rapidamente transformado em cristais que lhe furaram as veias, dinamitaram o coração, sabotaram a alma… Pregando-a ao mais infinito desespero, afundada na mais irrecuperável escuridão. Ela tinha acreditado! Mas a dor seria justa, por ter crido em alguém que lhe prometia algo, que não existia?! Tivesse-se resguardado… Mas então por que o sentiu tão real? O vê ainda hoje escrito, (maldita mania de ir buscar memórias), em algumas palavras que ele lhe deu. E como pode alguém que nos defende, elogia, ama em verso ter uma índole malévola, ao ponto de destruir o outro com que se harmonizou um dia? Não se limitou só à estrutura, mas reduziu-a e minou-a na base. Podia ao menos ter-se afastado sem a “matar!” Desacreditar com palavras e gestos obtusos. Insinuações inverdadeiras, perante tudo e todos, não lhe dando hipótese de se reerguer. Infeliz e miseravelmente, vai recordá-lo sempre, como AQUELE que a levou ao tapete. Socou até à simples matéria se desprender dos ossos, perante toda uma assistência ávida de sangue.
Por mais que o exprimisse vezes sem conta, pela sua própria mão, ele nunca terá a percepção de como ela o amou. Do que estaria disposta a fazer por ele, sem lhe exigir nada. Por, isso! Unicamente por isso, vendo-o tão bem descrito dia após dia, hora após hora, em dias de profundo padecimento, a raiar a loucura (de que sabia ser o causador), ele devia… Devia ter seguido a sua vida, apiedado sem a matar. Mas não o faz a ninguém. Ou só perdoa quem entende! Portanto linchou-a. Devia tê-la poupado e no fundo sabe, que ela lhe serviu para a felicidade que construiu e tem hoje, porém… Devia ter sido clemente. Gente! Não um monstro. Não a ter feito entrar numa arena, onde os apupos e apostas se faziam, sobre se iria vencer. Avaliavam como se estava a portar, professando uma fé a um Deus que inventara, Já que o seu Deus não existe! Sempre prestes também a ser devorada por feras, que nunca se converterão. Foi pasto de lobos, hienas. Coisas enormes e pequenas! Simples pormenores, que serviram, para a culpar. Ridicularizar. Vandalizar não na carne, mas no âmago… Onde morava ainda algum orgulho. A mínima dignidade, que se evaporou como pó. Passou o tempo…
***
Passou o tempo até tudo ser pacífico e se aceitar o erro. Erro esse que atingiu o cúmulo da cegueira, que não permite aceitar, que nos apaixonámos por uma ideia. Presentemente reconhece que foi isso que aconteceu. Apaixonou-se por uma ideia! A que fazia dele, e à qual nunca correspondeu, mas a vontade louca de que fosse assim, não a deixava encarar que era somente idealismo. Não mais que isso, fosse ao mesmo tempo o amor mais puro! A paixão mais fervorosa e quase inocente. Demora muito até as feridas que nos infligimos por amar uma ideia, cicatrizem. Por vezes mais porque se “idealizou”. Outro tanto a perceber-se, que para lá de se ter essa aceitação, sentimos uma nostalgia danada desse sentimento, que por tanto tempo preencheu a nossa vida. Se fez prioridade. Das vezes em que mal se acorda, nos bate logo a "ideia." Ao fechar os olhos a levamos connosco para o mundo hipotético dos sonhos, onde ele e ela eram verdade! Podiam acontecer. O que seria completamente inviável no mundo real, como se viu. Ela sempre o soube. E contudo, dentro dela… Ele vai continuar uma ideia que acarinha, mesmo que não corresponda a NADA, na realidade. E fere, pensar nisso ainda. Fere, muito! Ferem as palavras escritas pelos punhos que trocam carinhos e se ajeitam e eternizam, porque um dia? Ela os juntou!
Publicado em 05/05/2014