Pálido retrato - por Lígia Beltrão

Pálido retrato - por Lígia Beltrão

Pálido retrato

 

Um dia, faz muito tempo,

Eu vi estrelas piscando

Por entre os vãos das telhas

Que cobriam a casa simples

Onde eu me escondia

Embaixo das cobertas velhas

Assombrada, com medo do dia.

 

Ouvi um gemido medonho

Que passava rápido

Pelo meu quarto tristonho

E se desmanchava

Na bruma da noite escura

Era o vento que rouco chorava

Pelas brechas do meu sonho

Que soluçava de amargura.

 

Um dia, quando dei por conta,

Deixei os meus fantasmas e parti

Orei de medo como num rito

A sangrar na carne da lança, a ponta,

E se fizeram surdos para não ouvir

O eco medonho do meu engasgado grito.

 

Passou o tempo tão igual

Eu sempre deixada lá num canto

Com a certeza que nenhum mal

Fiz a ninguém com o meu pranto

E assim se foi o tempo

Sem nada ser sentido ou dito

Ah! Eu era só uma menina

E já tinha Deus escrito

No livro da vida a minha sina!

 

Passou, agora já não sou uma menina...

 

Lígia Beltrão

 

 

 

 

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