Ele amava também a sua cidade, o Recife, para ela ele diz:
“Recife, cruel cidade,
águia sangrenta, leão.
Ingrata para os da terra,
boa para os que não são.
Amiga dos que a maltratam
inimiga dos que não,
este é o teu retrato feito
com tintas do teu verão
e desmaiadas lembranças
do tempo em que também eras
noiva da revolução.”
(Guia Prático da Cidade do Recife – O Fim, 1999:142-143)
“No ponto onde o mar se extingue (IV)
E as areias se levantam
Cavaram seus alicerces
Na surda sombra da terra
E levantaram seus muros
Do frio sono das pedras.
Depois armaram seus flancos:
Trinta bandeiras azuis plantadas no litoral.
Hoje, serena flutua, metade roubada ao mar,
Metade à imaginação,
Pois é do sonho dos homens
Que uma cidade se inventa.”
(Guia Prático da Cidade do Recife – O Início, 1999:129)
E ele distribuía Amor, como nesta poesia a sua mulher: “Tânia: recebe este livro
agora mesmo composto
na face azul do teu rosto,
ilha de sal e de areias
azuis como as nossas veias”.
Carlos Pena Filho
(Dedicatória do Livro Geral de seus poemas a Tânia, sua mulher).
Obs. De novo presente a cor azul.
Carlos Pena também foi Jornalista além de formado em Direito. Versava sobre a sua cidade, falava da vida, escrevia para sua amada, escreveu sobre temas sociais, nos seus sonetos pintava a vida em poesias, era um boêmio onde passava as madrugadas no famoso Bar Savoy na Av. Guararapes, no centro do Recife
Era culto, simpático, amigável e também escrevera para Olinda: “Olinda é só para os olhos, / Não se apalpa, é só desejo./ Ninguém diz: é lá que eu moro/ Diz somente: é lá que eu vejo”.
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Terminou a Faculdade de Direito do Recife, em 1957, mesmo ano em que se casou com Tânia Carneiro, para ela escreveu: “Por seres bela e azul e improcedente / é que sabes que a flor o céu e os dias/ são estados de espírito somente,/ como o leste e o oeste, o norte e o sul./ Como a razão por que não renuncias/ ao privilégio de ser bela e azul”.
Obs. A cor azul presente
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A obra de Carlos Pena Filho revela sentimento de delicadeza e cuidado para não ofender as pessoas e as idéias. Ele era conhecido pelos amigos, como sendo uma pessoa muito comunicativa, sorridente, cordial, tolerante e compreensiva. Naturalmente, muito dessas características eram passadas para sua obra.
Sua última poesia, Eco, foi publicada no Jornal do Commercio, no domingo, véspera de sua morte trágica.
No dia 7 de julho de 1960, o poeta estava no carro de seu amigo, o advogado José Francisco de Moura Cavalcanti, quando foram atingidos por um ônibus desgovernado. Carlos Pena recebeu uma violenta pancada na cabeça. O rádio logo divulgou a notícia e as autoridades e os amigos acorreram ao Pronto Socorro. O motorista e Moura Cavalcanti tiveram ferimentos leves, mas Carlos Pena não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 11 de julho de 1960.
Deixou desolados seus amigos, os intelectuais de todo o Brasil, sua esposa D. Maria Tânia, sua filhinha Clara Maria, seus dois irmãos, Fernando e Maria. O cortejo fúnebre, com discursos à beira da sepultura e com grande acompanhamento de pessoas demonstrou quanto o poeta era querido.
Pesquisa
Maria do Carmo Andrade
Bibliotecária da Fundação Joaquim Nabuco
Dotado de aguda imaginação, sensibilidade e inteligência estéticas, Carlos Pena Filho teria de sacudir a sua geração, logo em seus inícios, com a sua mensagem, no que ela tinha de mais convocador: a lucidez.
(J. Gonçalves de Oliveira).
“Quando eu morrer, não faças disparates / nem fiques a pensar: “Ele era assim...”/ Mas senta-te num banco de jardim/ calmamente comendo chocolates./ Aceita o que te
deixo, o quase nada/ destas palavras que te digo aqui:/Foi mais que longa a vida que eu vivi,/ para ser em lembranças prolongada.”
As palavras acima, escritas pelo poeta, pareciam prever que seus dias seriam poucos. No dia 07 de julho de 1960, Carlos Pena Filho sofreu um acidente de carro, quatro dias depois, deixava este mundo.
Mas, diferente do que pede no seu Testamento de um Homem Sensato, não pode ser esquecido.
https://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=11&id_noticia=142737
Mauro Mota escreve, em “Improviso no Bar Savoy” (p. 123):
São agora vinte e nove
Os homens do bar Savoy.
Vinte e nove que se contam.
Falta um. Para onde foi?
Vinte e nove homens tristes.
Dentro deles, como dói
a ausência do poeta Carlos
na mesa do Bar Savoy.
COMENTÁRIOS E PESQUISA
LUIS EDUARDO GARCIA AGUIAR
Publicado 13/12