PASTOR
Um Pastor apaixonado sentia-se incomodado. Há muitos anos morando com os seus donos, começou a escutar conversas obscuras. “O Pastor é meu, ele vai ficar comigo, é a minha companhia."
De orelhas em pé, ele nada fazia senão escutar as desavenças. Tinha a sensação de que era a causa da discussão, mas estava confuso, o que estava acontecendo?
Diante de tantos alaridos, panelas batendo e faísca crescendo, Pastor arregalava os olhos, corria os quatro cantos da casa, ora lambia o seu dono, ora lambia a sua dona.
Estariam providenciando-lhe uma nova companhia? Uma pastora alegre e sabida como ele? Teria Pastor uma nova ração? Tão suculentas quanto as oferecidas? Ou um novo endereço de Pet Shop para enriquecer o banho e amaciar os seus pelos?
Atento as discussões, tentava entender, sabia que era querido, fora presente de casamento daquele jovem casal quando ainda era filhote. Diariamente, era abraçado, acolhido e amado. E não esquecia de retribuir cada gesto de amor.
Por que apontavam os dedos pra ele? Pastor não entendia, e gemia, inquieto.
Até que um dia, descobriu a causa do problema - não é que os seus donos estavam se separando? Disputando quem ficaria com a sua guarda?
Após inúmeras disputas, ficou decidido que Pastor teria a guarda compartilhada, um período ficaria com a sua dona, outro, com o seu dono. Em casas diferentes, espaços diferentes, objetos diferentes. Só não ficou diferente a estima que Pastor recebia constantemente, agora era mimado em dose dupla.
E não demorou para que ele se adaptasse a sua nova rotina, a ideia de guarda compartilhada.
Semanalmente, Pastor passou a esperar a chegada dos seu donos, porque o que valia de fato eram os afagos de carinho que recebia, sem contar as vezes que era carregado no colo durante os duplos passeios que fazia. Agora, tudo na vida de Pastor era duplo.
E não tendo do que reclamar, latia feliz.