PERNA INTRUSA
MIRIAN MENEZES DE OLIVEIRA
A viagem era curta, Graças a Deus!
Dentro de meia hora, estaria no local desejado. Graças a Deus, mesmo!
Acho que não suportaria, por mais tempo, aquela perna invadindo o “meu espaço”.
Tendo em vista, que as poltronas de aviões de voo doméstico não são tão confortáveis e projetam-se para uma acomodação restrita, aquela situação tornava-se insustentável.
Minha perna esquerda, desconfortavelmente dobrada, distava uns três centímetros da perna direita do “intruso”. Como gostaria de ter uma régua em mãos! Simulava mil situações em que pudesse resolver aquele ¨grande¨ problema, que já me causava dor no joelho.
¨Por favor, você poderia afastar um pouquinho sua perna, para eu poder esticar a minha?
Mas, coitado! A poltrona da frente estava tão reclinada, que seria quase impossível exigir esse esforço ¨sobre-humano¨.
O rapaz jamais conseguira apertar seus 90 centímetros de perna (acho!...) em um espaço tão minúsculo.
A atitude mais sensata, naquele momento, seria ceder um pouco de meu espaço, para que o desconhecido pudesse se acomodar da melhor forma possível. Que situação maçante!
Refleti a respeito de tudo aquilo e, finalmente, reclinei a cabeça em direção à janela. Não havia mais nada a fazer e aquilo nem era tão importante assim. Era apenas uma desculpa para o que invadia o meu coração dolorido. Então, refleti...
Mas aquela reflexão nada tinha a ver com a perna, que estava cada vez mais próxima. Vi o intruso ressonando e aquilo aguçava minha agonia. Até que ponto, o intruso e sua perna participavam desse processo interior? Havia um conflito em mim, sem pé, nem cabeça, muito menos perna!
A perna do intruso, em dado momento, serviu como válvula de escape, para a tempestade invisível, que ocorria em mim. Pensamentos invadiam meu ser! A situação conflitante já existia e a perna só invadiu meu momento reflexivo! Talvez, o problema fosse maior do que os centímetros ridículos que a Companhia Aérea oferecia!
Que bom! A ocorrência desse fato, realmente, foi importante! A viagem, a perna, o fato...OS FATOS!
A partir desse momento, pude cochilar, indiferente às turbulências da viagem, até que...
_ Água, refrigerante ou suco?
Só olhei...