PLAGIANDO FERNANDO PESSOA (O MENINO DE SUA MÃE)
Na estrada do cerrado,
(Que a morna brisa aquece),
Entre as ferragens, esmagado,
Seu corpo triturado,
(Jaz morto, e arrefece).
Raia-lhe a roupa o sangue.
Os braços destruídos,
(Moreno, forte, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos).
(Tão jovem! que jovem era!
Agora que idade tem?
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome que o mantivera:
O menino de sua mãe)
Rasgada a camiseta
Do time do coração.
O escudo no para brisas,
Superfícies, antes lisas,
Retorcidas, agora estão.
Espalhados pelo asfalto
Estão alguns cedês.
Clássicos e sertanejos,
Revelam seus desejos,
Seus sonhos e os por quês.
(Lá longe, em casa, há prece:
Que volte cedo, e bem!)
Alguém, que não esquece,
espera e enaltece
(O menino da sua mãe).
Desde cedo, o garoto
Aprendeu a guiar
E agora, com emoção,
Guiava o caminhão
Pra a carga entregar
Tempo curto, longa meta.
É preciso desdobrar
Tomando seu rebite
Mesmo que acredite
Que vá prejudicar
(Lá longe, em casa, há prece:
Que volte cedo, e bem!)
(Malhas que o Sistema tece!)
(Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe).