Rafaela Figueiredo - Entrevistada

Rafaela Figueiredo - Entrevistada

Revelando momentos ‘O meio do avesso’ é o novo lançamento da autora Rafaela Figueiredo

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

Professora, carioca e pisciana, Rafaela nasceu nas águas de março de 1987. Na adolescência, apaixonou-se pela(s) literatura(s), e pouco mais tarde comprometeu-se com as Letras; namorou a Prosa, mas casou com a Poesia. Juntas, têm um filho chamado “O meio do avesso”, e atualmente está para dar à luz o seu segundo, o “Palavra atômica”. Também possui publicados alguns poemas em antologias de concursos literários promovidos no país.

 

“[...]numa espécie de brincadeira na qual a própria poesia se torna uma maneira de a ciência estar presente nos mais singelos – e muitas vezes despercebidos – detalhes da nossa realidade.”

 

Boa leitura!

 

Escritora Rafaela Figueiredo, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que a motivou a ter gosto pela arte de escrever?

Rafaela Figueiredo - No Ensino Médio, tive a sorte de ser aluna de uma maravilhosa e cativante professora de LP, Juliana Bulhões, apaixonada por seu trabalho. Isso, certamente, contagiou e ampliou minha “proto disposição” para as Literaturas. Mais tarde fui cursar Letras, e o encanto só cresceu. E como dizem – e é verdade –, a escrita foi uma consequência: quase todo leitor tem um pouco de escritor.

 

Em que momento se sentiu preparada para publicar “O meio do avesso”?

Rafaela Figueiredo - O meio do avesso foi uma ideia, um desejo de reunir meus escritos (a maioria publicada em meu antigo blog), de poder guardar isso num registro físico, mais afetivo, talvez. Acredito também que tenha ajudado a me entender melhor, compartilhando com as pessoas mais próximas um tanto da intimidade, do meu processo de amadurecimento (pessoal mesmo, não necessariamente literário) e autoconhecimento por meio da escrita. Sempre fui bastante introspectiva, e às vezes até acreditava que isso era um problema.

 

Apresente-nos a obra.

Rafaela Figueiredo - São poemas de 2006 ou 2007 a 2011, uma reunião de um curto período da minha vida, mas muito especial, em diferentes aspectos. São divididos em 3 partes: avesso, com poemas de métricas livres, sonetos e haikais, embora nem todos com medida à risca. A temática predominante é existencialista, eu diria. Há poemas que falam de morte, vida, da própria poesia, de amor e outros sentimentos em relação ao estar no mundo. Além disso, tive o privilégio de a orelha do livro ser escrita pela querida Marcia Tiburi, a quem devo muito também do meu aprendizado.

 

Apresente-nos um dos textos publicados na obra.

 

Do poder das águas [2010]

 

minha força vem das pedras.

todavia, não sou dura:

[a vida o é;

tanto bate até que fura!]

tenho músculos de trepadeiras

– cipós frágeis –

em meu tronco;

reles flores se me brotam,

vez ou outra,

e há mil ninhos em meu cerne

 

se me nascem, ora, pensamentos-praga, sim;

glebas em minha visão;

projeto sombras sobre mim…

 

quando chove, destas mãos,

porém,

– pequenos galhos –

se rebentam éclogas

com que o pensamento se figura

entre água, folhas,

sobre os meus canteiros secos,

como abstrata pintura.

 

Como foi o processo de seleção dos textos para compor “O meio do avesso”?

Rafaela Figueiredo - Conforme mencionei, baseada no que eu possuía publicado no blog e escrito em manuscritos ao longo dos primeiros anos na experiência de escrever.

 

Quais critérios foram utilizados para a escolha do título?

Rafaela Figueiredo - Como a voz dos poemas é, em sua maior parte, bem intimista, “avesso” seria, em princípio, o título. Inspirada pelo trecho da canção de Caetano (Sampa): “porque és o avesso, do avesso, do avesso, do avesso…”. A partir dessa ideia meio mise en abyme, adentrei um pouco mais e acrescentei “o meio do”, numa espécie de exposição do interior…

 

Onde podemos comprar seu livro?

Rafaela Figueiredo - Por ter sido uma publicação independente, os exemplares ficaram basicamente sob meu domínio. A maior parte deles eu dei; poucos eu vendi. Mas é possível adquirir, comprando ou fazendo troca (uma ideia que aprecio), enviando um e-mail para rafaelagf3@gmail.com

 

Sabemos que já temos livro novo no prelo. Apresente-nos sua nova obra literária.

Rafaela Figueiredo - O “Palavra atômica” possui 50 poemas de temática predominantemente cosmológica (um assunto que me fascina) e visa explorar, por meio de versos livres, a ideia da palavra (atômica!) como uma metáfora da criação do mundo, como cocriadora de todo sentido e de nós mesmos: afinal, tudo é linguagem. Alguns poemas passeiam por assuntos cotidianos, questões sentimentais ou mesmo filosóficas, mesclando noções físicas, químicas, numa espécie de brincadeira na qual a própria poesia se torna uma maneira de a ciência estar presente nos mais singelos – e muitas vezes despercebidos – detalhes da nossa realidade.

 

Quais os seus principais objetivos como escritora?

Rafaela Figueiredo - Tenho uma inspiração profunda em Clarice Lispector, no tocante à questão da escrita: não penso em viver de escrever, mas sei que já não posso viver sem.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Rafaela Figueiredo. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?

Rafaela Figueiredo - Creio que muitos dos leitores, também escritores, tenham sido influenciados por diferentes pessoas e motivos, e espero que sempre tenham em mente quem ou quais são eles. Porque é isso o que nos permite (re)conhecer e jamais esquecer o poder que possui a Literatura, que é uma prática de esperança contra toda miséria da educação e da reflexão.

 

 

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