Excertos do livro – Da Raiz (transparências)
Raízes
Caminhando sobre a areia, num desses dias apagados
em manto de nevoeiro
elevo meu pensamento à dimensão do voo que me circunda.
Batendo asas, levemente,
a gaivota soletra pios
no corte da cinza.
Ouço-a e olho-a
tomo-lhe o rumo e mergulho a fundo
tropeço nas conchas
adormeço sobre as pedras que chocalham a tecer
futuros de areia.
As correntes vomitarão.
Perco-me no anil do mar.
Lua cheia…
Azuis, prata, escamas
palavras no cortar da raiz profunda.
Sob as águas, dilúvios em raios de lua.
Mas é em busca do divino que eu corro.
Olho e ouço.
não enxergo além da dimensão do coral
a clarear fundos matizes…
Prendo-me às algas,
sombras de poemas
cercam meus pensamentos.
Não encontro nenúfares no mar.
Apenas sal.
Sal.
E dor.
Lá, guardadas, as minhas raízes.